O chefe de polícia de Ferguson, no subúrbio de St. Louis, renunciou ao cargo nesta quarta-feira, uma semana depois da divulgação de um relatório do Departamento de Justiça apontando conduta discriminatória dos policiais locais. Thomas Jackson é apenas um dos funcionários de alto escalão da cidade a deixar a função desde que o documento veio a público. Ontem, John Shaw deixou de ser administrador da cidade e Ronald Brockmeyer abriu mão do cargo de juiz municipal.
Jackson já havia resistido a pedidos prévios para que renunciasse. Ferguson, no Estado americano do Missouri, entrou no noticiário internacional em agosto do ano passado, depois que o jovem negro Michael Brown, de 18 anos de idade, foi morto pelo policial branco Darren Wilson. Um grande júri, formado por cidadãos comuns, decidiu três meses depois que não havia provas suficientes para indiciar o policial, que também ficou livre de responder por violação de direitos civis.
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Por que o policial de Ferguson não foi indiciado
Se no caso específico da morte de Brown os fatos apontaram que não houve crime, a sensação de que a polícia é injusta levou milhares de manifestantes às ruas em várias cidades americanas. Em alguns casos, os protestos foram violentos, dezenas de carros policiais foram destruídos e lojas foram saqueadas e incendiadas.
Em Ferguson, houve críticas à conduta policial e muitos pediram a cabeça de Jackson. Ele foi criticado porque o corpo do jovem foi deixado por mais de quatro horas no local do crime – o que levou o chefe de polícia a pedir desculpas à família Brown. A forma com que o policial divulgou informações cruciais sobre o caso também foi condenada, principalmente a decisão de revelar a identidade de Wilson concomitantemente ao vídeo em que o jovem era flagrado roubando uma loja de conveniência pouco antes de ser morto. Mesmo sob a avalanche de críticas, Jackson resistiu no cargo.
Mas o relatório do Departamento de Defesa foi um golpe duro demais para o chefe de polícia. Segundo o documento, policiais e autoridades judiciais perseguiram moradores negros de forma desproporcional e sistemática, além de violar seus direitos constitucionais com frequência. O relatório também revelou e-mails com conteúdos racistas trocados entre policiais e funcionários do Judiciário municipal.
A maioria dos 21.000 habitantes de Ferguson é negra. A força policial é quase em sua totalidade branca – reflexo da falta de interesse dos negros em trabalhar nessa área, como destacou o prefeito James Knowles. Jackson deverá desempenhar a função até o próximo dia 19. Depois disso, poderá continuar recebento salário e tendo direito a assistência médica durante um ano. Al Eickhoff deve ocupar o cargo interinamente, segundo o jornal The Guardian, enquanto as autoridades locais buscam um substituto para Jackson.
(Da redação)