O chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza, disse nesta terça-feira 5 que seu país não romperá relações com a Europa porque “seria um pecado” e porque o governo deseja mantê-las.
Em declarações ao programa 24 Horas da Rádio Nacional da Espanha, Arreaza garantiu que “sempre demos muita importância aos investimentos da Europa na Venezuela e seguiremos fazendo-o. Seria um pecado romper relações”.
O ministro criticou mais uma vez os Estados Unidos ao afirmar que “estão à frente do golpe de Estado. O resto dos países (que reconheceram Juan Guaidó) são simples subordinados. Centramos nossa atenção no dono do circo”.
Arreaza indicou ainda que o reconhecimento da Espanha e da maioria de países europeus de Guaidó como presidente em exercício da Venezuela é uma medida que “não é prioridade para nós” e que não surpreendeu porque há anos “denunciamos a subordinação da política externa da maioria dos países europeus à política externa de Donald Trump”.
O chanceler defendeu a validade das eleições presidenciais do ano passado, que foram boicotadas pela oposição e que deram o triunfo a Nicolás Maduro, e lembrou que, constitucionalmente, os próximos pleitos devem ser os da Assembleia Nacional (parlamento).
Na segunda-feira 4, a Venezuela ameaçou romper as relações bilaterais com os países-membros da União Europeia (UE) por terem reconhecido o líder da oposição Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela.
A União Europeia havia dado como prazo a meia-noite deste domingo 3 para que Nicolás Maduro convocasse novas eleições. Caso contrário, o bloco já havia anunciado que legitimaria a liderança de Guaidó. O líder chavista, contudo, rejeitou o ultimato europeu.
Diante da recusa, ao menos 20 nações europeias reconheceram a liderança de Guaidó.
O presidente da Assembleia Nacional se autoproclamou presidente interino no último dia 23 para lutar contra o que qualificou de “usurpação de poder” por parte de Maduro. Sua posição já havia sido apoiada pelos Estados Unidos, Brasil, Colômbia e outras nações.
Maduro foi reeleito em 20 de maio, em um pleito considerado ilegítimo pela oposição e pela comunidade internacional.
Ajuda humanitária
Em sua entrevista nesta terça, Arreaza também pôs em dúvida a ajuda humanitária que a oposição administra com ajuda dos Estados Unidos na fronteira colombiana, ao lembrar que Washington não deu esse tipo de apoio a Porto Rico após o letal furacão María do ano passado, nem ao Haiti, e ainda cortou a sua ajuda à Palestina.
“De maneira que nós não vamos cair em nenhum espetáculo nem show. Façamos política com P maiúsculo”, declarou, para mostrar-se a favor do diálogo com a oposição por considerar que “há um setor a favor das negociações e um sequestrado pela Casa Branca que se opõe ao diálogo”.
Nesta terça, a militares favoráveis ao regime de Nicolás Maduro bloquearam uma ponte na fronteira com a Colômbia para impedir a entrada de ajuda humanitária no país.
A passagem da ponte Tienditas, que liga as cidades de Cúcuta, na Colômbia, e Ureña, na Venezuela, foi fechada por um tanque de transporte de combustível e um gigantesco contêiner de carga.
O local havia sido escolhido para a entrada de remessas de alimentos e remédios vindos dos Estados Unidos, segundo a imprensa venezuelana. As doações seriam entregues ao governo interino.
Os Estados Unidos, que não descartam uma ação armada na Venezuela, ofereceram uma ajuda inicial de 20 milhões de dólares, o Canadá de 40 milhões, e a Comissão Europeia de outros 5 milhões de euros – uma “esmola”, segundo o governo venezuelano.
Maduro acusa Washington – com o qual rompeu relações diplomáticas – de usar Guaidó como “fantoche” para derrubá-lo e se apropriar do petróleo venezuelano, e os países europeus de apoiar esses “planos golpistas”.
(Com EFE)