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Chamas por toda parte

Os monumentais incêndios florestais na Califórnia são resultado de uma combinação de acaso, crescimento populacional e aquecimento global

Por Thais Navarro
Atualizado em 30 jul 2020, 20h03 - Publicado em 16 nov 2018, 07h00

Para quem vê de fora, parece que o Estado da Califórnia, na Costa Oeste dos Estados Unidos, pega fogo o ano inteiro. Não é tanto assim, mas, de fato, a praga dos incêndios florestais que sempre atormentou a região está se alastrando, devido a uma inflamável combinação de acaso da natureza, crescimento populacional e aquecimento global. No início de novembro, quando o pior da temporada já devia ter passado, três grandes incêndios espalharam ao mesmo tempo suas labaredas no estado. Um deles, o Camp Fire, incinerou a pequena Paradise (paraíso, em inglês), cidadezinha de 27 000 habitantes fincada entre as árvores aos pés da Sierra Nevada, e se tornou o mais letal da história da Califórnia, com 56 vítimas até agora e cerca de 100 pessoas desaparecidas.

O paraíso virou inferno na quinta-fei­ra 8, quando as chamas e a nuvem de fumaça do fogo iniciado na floresta começaram a lamber a área urbana da cidade. Os moradores, na maioria aposentados, apressaram-se a cumprir a ordem de evacuar: entraram no carro e pegaram a estrada. Mas a fumaça densa e a chuva de partículas incandescentes impediram seu avanço. No enorme engarrafamento que se formou, as pessoas abandonaram os carros e fugiram a pé. Quando as escavadeiras chegaram no dia seguinte para remover os veículos do meio da rodovia, cinco corpos foram achados dentro deles. As demais mortes são de pessoas que não conseguiram sair de Paradise e arderam junto com a cidade.

(Arte/VEJA)

Passada quase uma semana, na quarta 14 o Camp Fire atingia no norte da Califórnia uma área de mais de 500 quilômetros quadrados — o equivalente a um terço da cidade de São Paulo —, e só 35% do fogo foi considerado contido. “Espero sinceramente que não tenha de vir aqui todo dia para reportar mais e mais mortos”, desabafou o xerife do condado, Kory Honea, em uma entrevista coletiva. Enquanto isso, mais ao sul, outros dois incêndios deixavam uma trilha de destruição, o Hill Fire (quase controlado) e o Woolsey Fire, ainda em plena atividade. Esse último se alastrou por uma área próximo a Los Angeles, forçou 250 000 pessoas a sair de casa e fez três vítimas, duas encontradas dentro do carro no fim da rua estreita em que moravam. As chamas do Woolsey devastaram Malibu e Calabasas, dois dos endereços mais abastados da Califórnia, lar de diversas celebridades. Artistas como Gerard Butler, Miley Cyrus e Neil Young tiveram suas mansões destruídas. Outros, como Lady Gaga e Kim Kardashian, precisaram buscar abrigo, mas suas propriedades não foram atingidas (veja o quadro ao lado e a seção Gente, na pág. 76).

Só neste ano, a Califórnia registrou 56 incêndios florestais. O estado tem uma vasta cobertura de florestas e o aumento da população fez surgir muitas comunidades em volta delas — um perigo, já que o fogo quase sempre começa por um ato humano. “Há mais pessoas, mais árvores, mais seca e as respostas do poder público são limitadas, até porque boa parte das áreas florestais está fora do controle do estado”, diz Gary Libecap, professor de gestão ambiental da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara.

Uma seca que se prolongou por cinco anos transformou a vegetação em gravetos prontos para a fogueira, e o número e a frequência dos incêndios explodiram. No ano passado, finalmente choveu. Mas aí veio o verão — o mais quente em 123 anos de medição —, a vegetação renascida secou e aumentou ainda mais o volume de folhas e galhos à espera de uma faísca para se inflamar. A chuva que deveria chegar em novembro ainda não apareceu e o desastre se repetiu, com fúria inédita.

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Os fortes ventos de Santa Ana, que sopram nesta época do ano, ajudaram a alastrar as chamas dos incêndios de agora. “Continuamos em um ciclo de seca, e a maioria dos cientistas vê um componente da mudança climática no recente aumento das temperaturas”, diz o americano William Stewart, especialista em gestão florestal. O presidente Donald Trump declarou estado de emergência na Califórnia, mas, como tem dificuldade em acreditar no aquecimento global, lançou a responsabilidade sobre a “precária gestão ambiental” do governo estadual. Democrata, naturalmente.


Os famosos lamentam

(Instagram/Reprodução)

“Meus bichinhos e o amor da minha vida estão em segurança, e isso é tudo o que importa agora. Minha casa não existe mais, mas as lembranças compartilhadas com a família e amigos permanecem vivas”, relatou a cantora Miley Cyrus


(Instagram/Reprodução)

“Estou de volta à minha casa em Malibu. Momento devastador em toda a Califórnia. Emocionado com a coragem, o ânimo e os sacrifícios dos bombeiros. Obrigado, Corpo de Bombeiros de Los Angeles”, escreveu o ator Gerard Butler, junto com uma selfie em frente às ruínas

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(Instagram/Reprodução)

“Dirijo meus pensamentos a todos os que estão sofrendo por causa dos terríveis incêndios e chorando a perda de casas ou entes queridos. Estou aqui esperando, me perguntando, como vocês, se minha casa vai explodir em chamas. Tudo o que podemos fazer é rezar juntos”, postou a cantora Lady Gaga, forçada a buscar abrigo. O fogo não chegou à sua propriedade.


(Instagram/Reprodução)

“Estou preocupada com minha casa, mas não posso fazer nada. Casas de amigos queimaram e não suporto pensar que Malibu acabou. Eu vivo aqui desde 1972”, desabafou Cher. O incêndio não chegou à sua mansão.

Publicado em VEJA de 21 de novembro de 2018, edição nº 2609

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