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Celular: a principal arma contra a violência policial e o racismo nos EUA

Smatphones filmam e monitoram movimentos da polícia e estão sendo usados para convencer os participantes dos protestos a votarem nas eleições presidenciais

Por Ricardo Ferraz Atualizado em 16 jun 2020, 08h27 - Publicado em 16 jun 2020, 08h00
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  • Foram dez minutos de filmagem. Ao se deparar com George Floyd sendo rendido pelo policial Derek Chauvin, na cidade de Minneapolis, Darnella Frazier, uma adolescente de apenas 17 anos, sacou o celular e começou a gravar a cena. Mais do que produzir a prova cabal de um crime, o pequeno filme detonou a maior onda de protestos nos Estados Unidos do século 21 e demonstrou que a principal arma contra o racismo e a violência policial, nesse momento, está no bolso de quase todo americano: o celular.

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    Nos últimos dez anos, o pequeno aparelho ajudou a denunciar pelo menos outros sete casos de abuso de policiais contra negros, que terminaram em condenações por homicídio. “O racismo não está piorando, está sendo filmado”, resumiu o rapper e ator Will Smith.

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    O fenômeno está relacionado à evolução da tecnologia, que trouxe duas novas possibilidades: acoplar nos aparelhos câmeras cada vez mais potentes, com boa definição de imagem e de áudio e a divulgação de vídeos nas redes sociais de maneria instantânea. Darnella, que provavelmente utilizou os recursos sem se dar conta disso, publicou o vídeo no Facebook e, em pouco tempo, ele viralizou.

    Mas a coisa não para por aí. Os celulares têm sido úteis também para os manifestantes acompanharem, em tempo real, a atividade policial durante os protestos. O aplicativo 5-0 Radio Police Scanner, que monitora o rádio da polícia, foi parar no primeiro lugar da AppStore, a loja de aplicativos da Apple, entre os aplicativos pagos (ele custa US$ 5).

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    Outras versões semelhantes do serviço, como Citizen, Broadcastify e Police Scanner Radio & Fire, também têm sido bastante baixados. Graças a eles, é possível obter informações sobre saques, incêndios, tiroteios, além da localização, em tempo real, dos agentes da lei. O scanner capta trechos de conversa e relatórios de campo, incluindo algumas e informações não verificadas e possivelmente enganosas.

    Utilizados anteriormente para manter a população salva em momentos de tensão, como o atentado terrorista durante a maratona de Boston, em 2013, os aplicativos, agora, se voltaram contra a polícia e causam polêmica. Especialistas têm alertado para o fato de que a tecnologia poderia ser utilizada por criminosos para escaparem da ação policial. Alguns departamentos já se preveniram contra o uso dos apps e utilizam mensagens criptografada na comunicação entre os agentes da lei.

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    Curiosamente, os manifestantes têm a mesma preocupação quanto ao sigilo de suas conversas. O Signal, um app de troca de mensagens considerado mais seguro que o Whatsapp e o Telegram, aumentou consideravelmente o número de downloads nas lojas virtuais nos últimos dias.

    Campanha Eleitoral

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    O uso dos celulares nos protestos também ganhou caráter eleitoral. Grupos que se dedicam a convencer o americanos a comparecerem às urnas, estão utilizando informações passadas por meio de aplicativos para conquistar eleitores. O engajamento tem mais chance de sucesso entre pessoas que já estão participando de atos políticos.

    Aplicativos geo-referenciados (aqueles que pedem para saber a localização do usuário) repassam dados para empresas há tempos. Por meio da análise de dados, o chamado Big Data, elas buscam aumentar suas vendas com mensagens personalizadas, enviadas diretamente aos consumidores. A mesma estratégia está sendo utilizada, agora, para conquistar apoiadores de grupos políticos. 

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    “Quando esses protestos surgiram, foi surpreendente: uau, as pessoas estão se reunindo novamente”, disse Quentin James, fundador e presidente do The Collective, que trabalha para eleger afro-americanos, ao jornal Wall Street Journal. 

    O The Collective trabalhou com a VoteMAP, uma empresa de tecnologia especializada em coletar dados de localização para progressistas. A companhia identificou celulares, num raio de até uma milha em torno de protestos, nas cidades de Columbus, Milwaukee, Minneapolis e Washington DC, entre 29 e 31 de maio.  Nas últimas duas semanas, o VoteMAP veiculou anúncios para mais de 14 mil aparelhos que estavam nas áreas das manifestações. A campanha “Vote para viver” estará ativa até setembro, quando o coletivo prevê o engajamento de até 250 mil eleitores negros. 

    Nos Estados Unidos, convencer cidadãos tirarem título de eleitor pode impactar diretamente o resultado das eleições, já que o voto não é obrigatório. Para quem está lutando pela implantação de políticas públicas que acabem com a perseguição racial e o preconceito, falar diretamente com as pessoas é fundamental. E o jeito mais eficaz de fazê-lo, já se sabe, é pelo celular.

     

     

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