Ao experimentar temperaturas insuportáveis de quase 50ºC durante setembro, o Catar, equipou mercados, calçadas, shoppings abertos e estádios de futebol com aparelhos de ar condicionado. Embaixo de cada um dos 40.000 assentos do estádio Al Janoub, um dos principais da Copa do Mundo, os torcedores protegidos do sol serão mimados com vento gelado nos tornozelos.
O país sentado em jazidas petrolíferas está tão preocupado em manter seus visitantes frescos em 2022 que triplicou o orçamento inicial da obra da arena, segundo o jornal The Guardian. O valor do desembolso, porém, é mantido a sete chaves.
O responsável pelo empreendimento é o engenheiro Saud Ghani, especialista em ar condicionado. Além de ventilar os torcedores para que possam vibrar com toda a força, o sistema também conta com as propriedades físicas do ar gelado que, mais pesado, afunda e chega também aos jogadores no campo, reporta o jornal The Washington Post.
O país desértico, uma península colada à Arábia Saudita, no Golfo Pérsico, tem invernos suaves e verões intensos. Basicamente, há duas estações: uma mais fria, entre dezembro e fevereiro, e outra escaldante, de abril a outubro. A Copa está marcada para novembro, quando o calor fica “mais ameno”. Mas as temperaturas ainda podem chegar aos 30ºC – especialmente em tempos de aquecimento global.
Um dos lugares mais quentes do mundo, as temperaturas médias do Catar já estão 2º C acima da média registrada nos tempos pré-industriais. Em 2015, a cúpula do clima em Paris acordou que seria melhor manter o aquecimento global abaixo dos 1,5ºC, no final deste século, para limitar os danos ao meio ambiente.
De acordo com um relatório das Nações Unidas liberado nesta terça-feira 15, um terço dos trabalhadores ao ar livre sofrem de hipertermia, quando a temperatura corporal chega aos 38ºC, ao menos uma vez durante o turno. Trata-se de uma ameaça à saúde humana.
Recentemente, o vizinho Emirados Árabes também tentou contornar o clima desértico e quente de maneira artificial, “semeando” nuvens. Cloreto de sódio foi borrifado no ar por aviões, como meio de formar nuvens e chuva. Apesar de as represas terem coletado 6,7 milhões de metros cúbicos de água, as ruas do país ficaram parcialmente alagadas e um dos maiores shoppings teve que ser esvaziado depois de um corte de energia.
Como reporta o Post, a capacidade total de refrigeração do país deve quase dobrar de 2016 a 2030, de acordo com a Conferência Distrital de Aquecimento e Refrigeração do Distrito. De forma semelhante aos Emirados, a aposta do Catar no ar-condicionado ainda pode sair pela culatra por mergulhar o país em um ciclo vicioso: emissões de gás carbônico geram o aquecimento global, que cria a necessidade de ar-condicionado, que queima mais combustíveis, que emitem mais dióxido de carbono. Ao refrescar cidadãos e turistas, o Catar parece comprometido em não romper esse ciclo.