José Luis Paniagua.
Caracas, 15 dez (EFE).- O câncer do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, colocou o cenário político venezuelano de pernas para o ar, introduzindo um fator inesperado no debate sobre o presente e o futuro do país a um ano das eleições presidenciais.
No dia 30 de junho, Hugo Chávez apareceu em transmissão de televisão e rádio em todo o país para anunciar que dias antes havia extraído um tumor cancerígeno da região pélvica, em mensagem transmitida de Cuba na qual se emocionou e não saiu do texto que tinha entre as mãos.
A notícia caiu como uma bomba em seu país, onde se especulava sobre a permanência de Chávez em Cuba, após um primeiro anúncio feito pelo chanceler, Nicolás Maduro, de que o presidente venezuelano tinha operado um abscesso pélvico na ilha ao término de uma viagem que realizou antes pelo Brasil e pelo Equador.
A doença de Chávez convulsionou a realidade do país entre rumores sobre sua gravidade e a recuperação do presidente após submeter-se a quatro ciclos de quimioterapia.
Desde o aspecto físico de Chávez, que perdeu o cabelo e ficou inchado pelo tratamento, até algumas palavras de ordem que fizeram menção à fatalidade do fim da vida do presidente, muitas coisas mudaram este ano na Venezuela.
As manifestações de apoio se repetiram dentro e fora do país. Xamãs, bispos católicos e sacerdotes evangélicos rezavam por ele em atos religiosos e políticos, enquanto o protagonismo absoluto de Chávez se acentuou.
Além disso, o câncer catalisou a popularidade do líder, que vinha crescendo nos índices de aprovação e terminou chegando em outubro a 61% de apoio, apesar de grande parte dos participantes da pesquisa não estarem de acordo com a gestão do Governo.
As manifestações de apoio ao presidente se repetiram ao longo de todo o continente e além da América, embora não faltassem vozes como a do ex-secretário de Estado Adjunto dos Estados Unidos, Roger Noriega, para quem Chávez se encontraria em fase terminal.
O presidente venezuelano respondeu a essas versões correndo junto a cadetes na academia militar ou jogando beisebol no dia seguinte a um jornal americano afirmar que se encontraria em estado grave e internado em um hospital.
O mal de Chávez condicionou inclusive a agenda internacional da região, obrigando a adiar a criação da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC), cuja cúpula de fundação estava prevista para julho e acabou sendo realizada nos primeiros dias de dezembro em Caracas.
Assim, a oposição ficou com um cenário imprevisto que tenta superar trabalhando seu discurso enquanto se prepara para as eleições primárias internas.
Os partidos da oposição acordaram escolher um candidato que una todas as vozes antichavistas para disputar com o presidente nas eleições presidenciais de 7 de outubro de 2012.
Seis políticos, com os governadores do estado oriental de Zulia, Pablo Pérez, e de Miranda (que abrange parte de Caracas), Henrique Capriles, na liderança, pretendem se transformar na voz de unidade da oposição.
A doença de Chávez obscureceu outros temas no país, em um ano que viveu um agravamento da crise penitenciária com o motim no complexo carcerário El Rodeo, que durou quase um mês.
O episódio terminou com um balanço oficial de dez mortos, mas deixou em interdição o sistema carcerário e demonstrou a falta de controle nas prisões. EFE