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Brasileiros têm graduação no exterior ameaçada por pandemia de Covid-19

Com fronteiras fechadas e consulados interditados, estudantes brasileiros pedem ajuda para entrar nos Estados Unidos e Reino Unido

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 ago 2020, 15h39 - Publicado em 19 ago 2020, 15h35

O sonho de estudar no exterior se transformou em motivo de preocupação para muitos brasileiros durante a pandemia de Covid-19. Com o início do ano letivo no Hemisfério Norte previsto para setembro, muitos jovens se viram “presos” no Brasil sem poder entrar nos Estados Unidos e outros países que fecharam suas fronteiras às nações mais atingidas pelo coronavírus. Além disso, muitos estudantes aceitos em universidades na Europa estão impedidos de solicitar o visto nos consulados e embaixadas, que ainda estão em quarentena.

Thaina Pletsch Hu, de 21 anos, cursa neuropsicologia na Universidade do Estado do Colorado desde 2017. Em junho retornou à sua cidade em Santa Catarina para passar férias ao lado da família e agora se vê impedida de viajar ao Colorado para retomar as aulas, previstas para 24 de agosto. “É difícil se manter calma sem saber o que vai acontecer com nossos estudos, sonhos e bolsas”, diz.

Desde o fim de maio, os Estados Unidos proíbem a entrada de brasileiros em seu território. O governo de Donald Trump também restringiu a emissão de vistos para estrangeiros, visando a impedir a propagação do vírus. Washington, contudo, abriu exceções para estudantes da União Europeia.

Atualmente, Brasília negocia a possibilidade dos alunos brasileiros também serem isentos da regra. “Estamos olhando para isso muito de perto. Estamos cuidando de todos eles”, afirmou o presidente Donald Trump na última segunda-feira 17 ao ser questionado sobre a possibilidade. O Brasil é o 10º país que mais envia jovens para cursar universidade em território americano.

A catarinense Thaina Hu criou, ao lado de outros estudantes, uma página nas redes sociais para pedir ajuda ao governo brasileiro e às autoridades americanas. Intitulado de “We the foreigners”, ou “Nós, os estrangeiros” em tradução literal para o português, o grupo de 147 membros advoga pela assinatura de um acordo o mais rápido possível e criou uma petição online que já tem mais de 89.000 assinaturas.

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“Procuramos a Embaixada brasileira em Washington e a Embaixada americana em Brasília e tudo que recebemos foram mensagens padrão dizendo que não poderiam nos ajudar”, diz Thaina, que também entrou em contato com o Itamaraty, mas não obteve resposta. “Investimos e lutamos muito por tudo isso. Tudo que aconteceu tem afetado muito minha saúde mental e de todos os estudantes”, afirma a estudante, cuja universidade dará início ao ano escolar com um sistema híbrido, intercalando aulas presenciais e online.

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As aulas de Thaina recomeçam em 24 de agosto e a catarinense ainda não sabe como voltará aos Estados Unidos (arquivo pessoal/Reprodução)

No fim de julho, o serviço de imigração e controle de aduanas americano (ICE) afirmou que novos estudantes estrangeiros cujas aulas fossem exclusivamente online não poderiam entrar no país. As universidades com sistemas mistos, porém, poderiam liberar a entrada dos imigrantes, desde que não estivessem na lista de nacionalidades barradas.

O mineiro Sudario Silva Junior, de 24 anos, luta contra a possibilidade de perder a bolsa integral e ajuda de custo de 22.000 dólares ao ano que ganhou para cursar um mestrado em Ciência Animal na Universidade de Minnesota. “O programa começa dia 28 de agosto, mas até agora não consegui solicitar o visto”, conta.

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“Uma oportunidade como essa não surge do dia para a noite”, diz. o mineiro, que acaba de finalizar sua graduação em Zootecnia e iniciaria as aulas em Minneapolis no formato híbrido. “Estudei e trabalhei duro por essa bolsa, foram anos de investimento”

A embaixada e os consulados americanos no Brasil estão fechados desde o início da pandemia e todas as solicitações de visto suspensas, sem previsão de retorno.”Não há alternativas para os estudantes que ainda não tem visto”, explica o advogado especialista em migração Vinícius Bicalho. “Vivemos algo sem precedentes e medidas imigratórias restritivas foram necessárias para a segurança dos oficiais consulares”, diz.

Já os brasileiros que já possuem visto e apenas desejam retornar aos Estados Unidos, há a possibilidade de fazer uma quarentena de 15 dias em um país isento das medidas de restrição da imigração americana, como México e Reino Unido. A carioca Francesca Del Posso foi uma das que optou pelo investimento a mais para garantir os estudos.

“Passei 16 dias de quarentena no México na casa de uma amiga de infância e entrei nos Estados Unidos na primeira semana de agosto”, conta Francesca, que cursa o terceiro ano de Marketing e Relações Públicas na Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill. “Foi difícil ‘bater o martelo’ e resolver que realmente iria voltar, mas como não paguei hotel e alimentação não gastei tanto”.

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Francesca Del Posso passou 16 dias no México antes de viajar para a Carolina do Norte (Arquivo pessoal/Reprodução)

Em nota à reportagem, a assessoria de imprensa da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília afirmou que está levando muito a sério a situação dos estudantes brasileiros. “Estamos procurando maneiras de garantir que estudantes – tanto os novos quanto os que retornarão aos seus estudos – tenham atenção prioritária assim que as entrevistas de visto forem retomadas”.

As representações diplomáticas americanas não são as únicas que trabalham em regime de exceção no Brasil. Diversas embaixadas e consulados europeus também estão fechados ou com atendimento limitado.

No Brasil, todo o procedimento de vistos para o Reino Unido, incluindo de estudantes, é operado pela empresa VFS Global. A companhia fechou temporariamente seus escritórios no Rio de Janeiro e São Paulo e os brasileiros em busca de documentação foram deixados sem alternativas.

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A paulistana Marina Lopes ganhou uma bolsa para fazer mestrado em Turismo na Universidade de Glasgow, mas não consegue agendar horário para ser atendida na VFS Global. “Minha universidade ofereceu a opção de começar o curso à distância, já imaginando que isso poderia acontecer”, diz. “Mas a comunicação com os serviços de imigração é muito restrita e ficamos sem respostas”.

O centro que realiza os procedimentos para visto abriu durante algumas semanas entre o final de julho e início de agosto, mas voltou a fechar as portas rapidamente. Durante o breve período de funcionamento, Bárbara Perrupato, de 23 anos, conseguiu se cadastrar e marcar uma data para entrega dos documentos. A paulista, porém, não sabe se receberá seu visto normalmente, agora que o local está interditado.

“Entrei no site a cada 30 minutos durante duas semanas para conseguir agendar meu horário e paguei uma taxa para receber a documentação em casa, mas com o fechamento do centro de vistos não sei o que vai acontecer”, diz a jovem, que cursará um mestrado em Marketing na Hult Business School, em Londres. As aulas de Bárbara tem início previsto para 15 de setembro, mas a brasileira pretende entrar no Reino Unido pelo menos 15 dias antes, para fazer a quarentena preventiva prevista pela lei local.

“Pedi demissão do meu trabalho para fazer o mestrado”, conta. “A possibilidade de não poder viajar e ficar sem renda afeta muito meu emocional”.

Em nota à reportagem, a Embaixada britânica afirmou que tenta encontrar alternativas para auxiliar os estudantes brasileiros. “A orientação aos estudantes é que fiquem atentos às mensagens da VFS Global para o início das remarcações e o trato dos casos urgentes. Além disso, é importante que todos estejam familiarizados com os procedimentos e requerimentos de visto para o Reino Unido, incluindo as especificidades da sua universidade”, diz o comunicado.

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