Mais de 140 pessoas morreram e ao menos 525 ficaram feridas no sábado em um bombardeio aéreo durante um funeral em Sanaa, no Iêmen, informou a Organização das Nações Unidas (ONU). “A comunidade humanitária do Iêmen está em choque e escandalizada pelos ataques aéreos de hoje, que tiveram como alvo uma sala pública, onde milhares de pessoas participavam de um funeral”, disse o coordenador de assuntos humanitários da ONU no Iêmen, Jamie McGoldrick, em um comunicado. Ele também pediu uma investigação sobre o ocorrido.
Mais cedo, o porta-voz do ministério da Saúde, Tamim Al Shami, havia mencionado, em declarações à rede de televisão dos rebeldes huthis, Al Masirah, que “mais de 520 feridos e mais de cem mártires” morreram no ataque. Segundo ele, esta cifra poderia aumentar, uma vez que há “restos humanos carbonizados” e não identificados no local do ataque, assim como “vários desaparecidos”.
O ataque, atribuído pelos rebeldes houthis à coalizão liderada pela Arábia Saudita, ocorreu durante um funeral lotado. A coalização negou, durante comunicado na rede de TV saudita Al Arabiya, ter efetuado qualquer sobrevoo na capital iemenita neste sábado.
Aviões atacaram um edifício na capital, controlada pelos rebeldes, onde um grupo de pessoas se reunia para se despedir de Ali al-Rawishan, pai do ministro do Interior, Galal al-Rawishan, um aliado dos houthis e também do presidente Saleh. “Pessoas de toda parte se dirigiram a Sanaa para acompanhar o funeral”, disse Mulatif Al Mojani, testemunha dos bombardeios.
O ato acontecia em um salão de eventos do bairro residencial de Al Jamsin, no sul da capital, que foi atingido por quatro bombardeios consecutivos, os dois últimos no momento em que equipes de emergência já tinham começado os trabalhos de evacuação e resgate, conforme relataram testemunhas.
“O lugar se tornou uma piscina de sangue”, disse um dos agentes responsáveis pelo resgate das vítimas, Murad Tawfiq. Porta-voz dos rebeldes houthis em Sanaa, Mohammed Abdul-Salam criticou o ataque aéreo como mais um ato de “genocídio” da coalizão liderada pelos sauditas. “O silêncio das Nações Unidas e da comunidade internacional é a munição dos assassinos”, disse ele. “Esses assassinos não escaparão da justiça divina.”
Outra testemunha descreveu o ataque como um crime de guerra: “Era o funeral de um homem em Sanaa e agora se converteu no funeral de dezenas de iemenitas”, afirmou.
De acordo com agentes de segurança e fontes médicas, entre os mortos há militares e agentes de segurança ligados ao governo reconhecido internacionalmente, do presidente Abed Rabbo Mansour Hadi, bem como partidários do presidente Ali Abdullah Saleh. Entre os mortos está ainda o major-general Abdul-Qader Hilal, chefe do conselho local da capital, disseram autoridades.
O conflito
Os houthis se apoderaram de Sanaa há mais de dois anos e controlam também outras regiões do país. O governo iemenita, que precisou fugir, tenta recuperar o terreno perdido com o apoio da coalizão árabe liderada pela vizinha Arábia Saudita.
Mais de 6.700 pessoas, em sua maioria civis, morreram no Iêmen desde que a coalizão iniciou sua campanha em apoio ao presidente Abd Rabbo Mansur Hadi, segundo as Nações Unidas. Organizações de defesa dos direitos humanos acusaram a coalizão de cometer erros depois que setores civis foram atingidos por seus bombardeios.
Um relatório da ONU publicado em agosto afirmava que os bombardeios da coalizão árabe podem ter provocado cerca da metade das mortes de civis no Iêmen. O documento pedia a criação de um organismo independente que investigue as violações cometidas supostamente pelos dois grupos, depois que 4.000 civis perderam a vida. Já a coalizão disse que utiliza um laser muito preciso e armas guiadas por GPS e que comprova os alvos muitas vezes para evitar a morte de civis.
(Com Estadão Conteúdo e AFP)