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Bispo ganhador do Nobel da Paz é acusado de abuso sexual por revista

De acordo com a reportagem, bispo abusou de inúmeros jovens nas décadas de 1980 e 1990 no Timor-Leste, país onde é considerado herói nacional

Por Da Redação
28 set 2022, 15h32
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  • O bispo católico do Timor-Leste Carlos Filipe Ximenes Belo, ganhador do prêmio Nobel da Paz em 1996, foi acusado nesta quarta-feira, 28, de abusar sexualmente de menores de idade, de acordo com a revista holandesa De Groene Amsterdammer.

    Na reportagem, Paulo – nome fictício para manter a privacidade dele e de sua família – afirma ter sido convidado para a casa do bispo logo depois da realização de uma missa, onde foi abusado sexualmente quando tinha por volta de 15 ou 16 anos. 

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    “Ele tirou a minha calça e começou a me tocar sexualmente e fez sexo oral em mim. Confuso e chocado, adormeci por lá e quando acordei recebi algum dinheiro. Quando amanheceu eu fugi rápido e me senti assustado e estranho”, contou ele, que sentiu vergonha até perceber que não era sua culpa. 

    “Não é minha culpa. Ele me convidou. Ele é o sacerdote. Ele é um bispo. Ele nos dá comida e fala bem comigo. Ele está se aproveitando dessa situação. Na época pensei: isso é nojento, não vou mais lá”, completou.

    Além de Paulo, outra situação de abuso aconteceu com Roberto, que também optou por usar um nome fictício para preservar sua privacidade. Na época com 14 anos, o bispo pediu a ele que fosse ao convento até que ficou muito tarde para ele voltar para casa. O religioso então o levou para o seu quarto, onde adormeceu. 

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    O adolescente diz ter sido acordado com Ximenes Belo estuprando-o. Depois disso, o bispo mandou-o embora pela manhã. 

    “Eu estava com medo porque ainda estava escuro. Então eu tive que esperar antes que eu pudesse ir para casa. Ele também deixou dinheiro para mim. Isso foi feito para que eu mantivesse minha boca fechada. E para ter certeza de que eu voltaria”, recorda.

    Diferente de Paulo, o abuso com Roberto aconteceu mais de uma vez. Passando por extremas dificuldades depois de ter perdido muitos familiares durante a ocupação da Indonésia no país, quando cerca de 183.000 pessoas morreram de fome, doenças e violência, o adolescente disse ter se sentido “amado, acolhido e especial”, até ter entendido que estava em uma situação abusiva. 

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    “Finalmente entendi que o bispo não estava realmente interessado em mim, mas que era apenas sobre ele. Então era apenas sobre dinheiro para mim. Dinheiro de que tanto precisávamos”, conta. 

    De acordo com a revista, além de Paulo e Roberto, outros inúmeros jovens foram abusados pelo bispo durante as décadas de 1980 e 1990, e a situação era de conhecimento de oficiais do governo, funcionários de ONGs, políticos e membros da Igreja Católica. Quando procurado por repórteres, Ximenes Belo chegou a atender o telefone, mas desligou imediatamente após saber do que se tratava. 

    “Era impossível denunciar o que estava acontecendo no quarto dele. Estávamos com medo de falar sobre isso. Estávamos com medo de passar a informação”, disse Paulo.

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    A Igreja Católica tem imenso respeito no Timor-Leste devido ao seu papel religioso e de ajuda à população. Nesse contexto, Roberto declarou ser impossível falar sobre os abusos do bispo com qualquer pessoa, por medo de que isso pudesse prejudicar a luta pela independência do país. Além disso, o medo de estigmatização, ameaças e violência ainda faz com que muitas vítimas prefiram manter abusos sofridos em segredo. 

    Carlos Filipe Ximenes Belo ganhou o Nobel da Paz quanto tinha 48 anos de idade, devido à sua luta pelos direitos humanos no país, que permaneceu ocupado pela Indonésia por 24 anos (1975-1999). Como diz a reportagem, Ximenes Belo não era apenas um poderoso chefe da Igreja Católica, mas também um herói nacional para o povo do país. 

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    O ganhador do Nobel renunciou à posição de bispo alegando sofrer de “fadiga física e mental”, sendo exonerado pelo Papa em 2002. Ximenes Belo deixou o Timor-Leste um ano após a exoneração, e mais tarde se tornou padre-assistente em Maputo, Moçambique. Hoje com 74 anos, ele mora em Portugal.

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