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Berlusconi renunciará, encerrando era ‘bunga bunga’ na Itália

Crise econômica derrubou o primeiro-ministro que fez coleção de escândalos - de sexuais a fiscais - desde que assumiu o poder pela primeira vez, há 17 anos

Por Da Redação
8 nov 2011, 15h55

Berlusconi estava no 3º mandato:

1994-1995

2001-2006

2008-2011

A crise econômica que está afundando a Itália e a União Europeia fez o que nenhum dos inúmeros escândalos – principalmente sexuais – de Silvio Berlusconi conseguiu: tirou o primeiro-ministro do poder e colocou um ponto final na era do ‘bunga bunga’. O presidente Giorgio Napolitano informou nesta terça-feira que o premiê vai entregar o cargo assim que as reformas econômicas forem aprovadas pela Câmara Alta. O Executivo pretende apresentar a emenda ao Senado nesta quarta-feira. Seguindo o trâmite habitual, ela pode ser votada pelo plenário da Câmara alta do Parlamento já na próxima semana. O anúncio foi feito após Berlusconi perder a maioria em uma importante votação no Parlamento italiano.

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A expressão ‘bunga bunga’ – exótica e de origem ignorada – foi agregada ao vocabulário italiano em novembro de 2010, depois que a imigrante marroquina Karima El Mahroug (conhecida como Ruby) contou como terminavam as grandes festas promovidas pelo premiê em suas mansões, com mulheres nuas fazendo trenzinho com os convidados. Mas logo o termo passou a representar também o jeito fanfarrão de Berlusconi, o político sem freio que sempre se gabou de ser rico, poderoso e ter uma vida sexual (extremamente) ativa. Suas farras com frequência o punham em saias-justas – e ele parecia não se importar. Na verdade, quanto mais justas as saias e mais novas novas as pernas, mais a seu gosto. “Gostar de garotas é melhor do que ser gay” é uma de suas pérolas (confira outras de suas frases famosas em quadro no fim da reportagem).

Lista: Por que os italianos toleram Berlusconi? Existem 10 motivos

Berlusconi foi eleito premiê pela primeira vez há 17 anos e está em seu terceiro mandato (1994-1995, 2001-2006, 2008-2011). Mesmo envolvido em diversas polêmicas ao longo de todo esse tempo, nunca teve seu poder realmente abalado no país. Nenhuma das pelo menos 17 acusações feitas contra ele resultou em condenações – além dos escândalos sexuais, casos de corrupção, alegações de desfalque, fraude fiscal e suborno. Sempre negando qualquer irregularidade, o primeiro-ministro passou com sucesso por todos os votos de confiança aos quais o Parlamento o submeteu, mesmo nos piores contextos. Recentemente, porém, a coalizão política de Berlusconi desceu tão fundo quanto sua reputação. Na última votação da Câmara Baixa sobre o plano orçamentário para reduzir o déficit em 2012, ele conseguiu ter sua proposta aprovada, mas perdeu a maioria absoluta dos 316 deputados do plenário – e o cargo ficou por um fio.

No mesmo dia, seu principal aliado, Umberto Bossi, pediu abertamente sua renúncia, seguindo outros deputados de seu próprio partido, o Povo da Liberdade (PDL). Berlusconi taxou os “rebeldes” de seu partido como traidores de toda a Itália, e considerava já ser suficiente o fato de ter prometido não concorrer à reeleição nem à Presidência nas próximas eleições. Para os italianos, não era: a popularidade do premiê caiu a seu mínimo histórico, de 22%, segundo a pesquisa mais recente divulgada. Em janeiro, quase metade dos italianos já gostaria que o chefe de governo renunciasse, conforme um levantamento publicado pelo jornal Corriere della Sera.

Vida pessoal – Da série de baixarias produzidas pelo premiê, o caso Rubygate finalmente o levou ao banco de réus. Ruby Rubacuori (rouba-corações, em italiano) é o nome artístico da imigrante marroquina Karima El Mahroug, hoje com 19 anos. Ela contou à polícia que quando tinha 17 anos recebeu dinheiro para participar das festinhas ‘bunga bunga’. A imprensa do mundo todo já publicou dezenas de fotos de noitadas nas mansões de Berlusconi e reproduziu gravações que revelam detalhes íntimos de sua vida íntima: múltiplas acompanhantes na cama, um encarregado de encontrar garotas bonitas e uma caixa de joias para suas jovens favoritas. Um extrato bancário divulgado no fim de outubro revelou que o premiê italiano de 75 anos gastou nada menos que 2,7 milhões de euros (6,5 milhões de reais) com presentes para garotas que ele cortejava – só joias teriam custado 337.000 euros (mais de 800.000 reais). Em fevereiro passado, milhares de mulheres organizaram protestos em diversas cidades do país, acusando-o de denegrir a reputação feminina. Ele nega. “Sempre tentei agir de forma que cada mulher se sentisse especial.” Confira mais detalhes na lista abaixo:

Fraudes – Nestes anos em que esteve no poder, o vasto império de Berlusconi na Itália cresceu ao ponto de ele ser apontado a 118ª pessoa mais rica do mundo, com um patrimônio líquido de 6,2 bilhões de dólares (cerca de 10,8 bilhões de reais), de acordo com a revista Forbes. Uma das propriedades de sua família, o grupo Mediaset, levanta suspeitas de fraude fiscal. O maior conglomerado de televisão privada do país foi acusado de superfaturar direitos de transmissão. Ele teria inflado artificialmente os preços dos direitos de exibição de filmes para constituir um caixa dois no exterior, reduzir os lucros na Itália e, assim, pagar menos impostos. O tribunal italiano acreditou em sua versão e o absolveu, em audiência no dia 18 de outubro. O primeiro-ministro italiano também era acusado de subornar o advogado britânico David Mills para garantir falso testemunho favorável em dois processos no final dos anos 1990, com o pagamento de 600.000 dólares (cerca de 971.000 reais). Em todo este tempo, Berlusconi garantiu não se lembrar de ter conhecido Mills, porque era um dos muitos advogados que o grupo Fininvest (de sua propriedade) tinha no exterior. Mills foi condenado em primeira e segunda instância por corrupção em ato judicial em favor de Berlusconi, mas o Supremo italiano decretou a prescrição do crime no ano passado.

Economia – Ao contrário, a Itália não consegue se safar tão bem dos problemas como seu primeiro-ministro. O país enfrenta atualmente um olhar de desconfiança de toda a Europa, depois de suas finanças públicas serem colocadas em xeque. Durante o encontro do G20 (que reúne as maiores economias do mundo), em Cannes, um evento em especial voltou os holofotes novamente ao país: o governo italiano anunciou que iria submeter suas contas públicas à auditoria do FMI. Berlusconi também prometeu aos líderes da zona do euro que tomaria medidas de austeridade para alavancar a economia e reduzir a dívida pública. O pedido voluntário de acompanhamento do FMI fez com que os países do bloco começassem a temer um possível calote na dívida italiana, o que resultaria em consequências desastrosas – e muito maiores do que no caso da Grécia. Como se não bastasse, a Itália ainda corre o risco de perder a sede de sua maior empresa. A Fiat estaria pensando em mudar o local de sua produção de automóveis, conforme reportagem da revista The Economist. Desde que a empresa adquiriu o controle da Chrysler, em julho deste ano, a diretoria discute se manterá sua sede em Turim, território italiano, ou se mudará para Detroit, nos Estados Unidos. O desafio de ficar ou não na Itália está diretamente ligado à produtividade – cerca de dois terços do faturamento são oriundos de filiais internacionais, mas quase a metade dos funcionários e cerca de 40% da produção concentram-se na Itália. O CEO, Sergio Marchionne, pretende aumentar a eficiência da estrutura local.

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Dez pérolas do premiê mulherengo

“Tentarei não decepcioná-lo e lhe prometo dois meses e meio de completa abstinência sexual.”

(Em janeiro de 2006, fazendo promessa a um padre até as eleições seguintes)

“A primazia feminina é dentro das paredes domésticas, mas fora de casa é discutível.”

(Em abril de 2008)

“Não acharia ruim ser ressuscitado por você.”

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(Em abril de 2009, a uma médica ruiva de olhos azuis que atendia vítimas de uma terremoto)

“Nunca paguei por uma mulher. Nunca entendi que outra satisfação pode haver senão a de conquistar.”

(Em junho de 2009, em entrevista à revista semanal Chi)

“Não sou santo.”

(Em julho de 2009, ao falar pela primeira vez em público sobre conversas com uma prostituta)

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“Meninas, procurem maridos ricos, como eu.”

(Em setembro de 2010, às jovens italianas)

“Vivo uma vida terrível. Se uma vez ou outra preciso de uma noite para relaxar, ninguém tem nada com isso.”

(Em novembro de 2010, ao comentar o caso com Ruby, a marroquina menor de idade com quem se envolveu)

“Gostar de belas garotas é melhor do que ser gay.”

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(Em novembro de 2010, complementando a declaração acima)

“De acordo com uma pesquisa, quando perguntado se elas teriam feito sexo comigo, 30% das mulheres disseram ‘sim’, enquanto as outras 70% responderam ‘mas de novo?'”

(Em março de 2011, após o surgimento de mais um escândalo sexual)

“Todos nós somos 25% gay. Eu também tenho essa parcela, só que após um atento exame descobri que a minha é lésbica.”

(Em abril de 2011)

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