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Barack Obama, o próximo pato manco dos Estados Unidos

Impossibilidade de se reeleger suga influência dos presidentes no 2º mandato

Por Gabriela Loureiro e Cecília Araújo
12 fev 2013, 08h21

O presidente Barack Obama fará nesta terça-feira o primeiro discurso do Estado da União de seu segundo mandato, e a mensagem mostrará quais os planos do democrata para tentar contornar um destino que parece inevitável aos que não têm mais chances de se reeleger. Nos Estados Unidos, o termo ‘lame duck’, ou ‘pato manco’, é usado para designar o mandatário que permanece no cargo por direito, mas, na prática, já não tem nenhuma influência no cenário político. “Um presidente se torna um pato manco quando todos já estão pensando em quem será o próximo presidente dos Estados Unidos”, resume o professor de ciência política da Universidade de Columbia Robert Shapiro.

Isso ocorre principalmente depois das eleições legislativas de meio de mandato, quando, tradicionalmente, o partido que controla o Executivo perde espaço no Congresso. “Este fenômeno cria um incentivo para que os membros do partido do presidente procurem se separar de iniciativas impopulares apresentadas pela Casa Branca. Consequentemente, o presidente se torna menos eficiente em mobilizar o apoio de seus colegas. A oposição também se torna mais inquieta e procura seguir políticas que a diferencie das iniciativas do presidente”, analisa o professor de ciências políticas da Universidade da Geórgia, Charles S. Bullock.

A partir deste momento, muitos integrantes da equipe de governo passam a se preocupar com a próxima fase de suas carreiras, sendo substituídos por nomes que não têm o mesmo peso ou habilidade para fazer as coisas acontecerem. Desta forma, os dois primeiros anos são cruciais para o presidente estabelecer a marca do seu governo. E, desde a vitória nas eleições de outubro, Obama tem demonstrado disposição para buscar apoio para propostas de grande repercussão nacional, como o controle de armas e a reforma da imigração.

“O melhor jeito de ganhar mais poder é usar o poder existente de forma efetiva”, diz Eric Farnsworth, vice-presidente da Americas Society/Council of the Americas. O capital político de Obama neste momento é alto, mas a situação é fugaz. O especialista diz que Obama usa o modelo de Ronald Reagan nos anos 80 para buscar formas de solidificar seu legado. No entanto, o próprio Reagan, que iniciou seu segundo mandato com a popularidade em alta, viu sua credibilidade ser abalada pelo escândalo Irã-Contras, financiamento da guerra civil na Nicarágua com a venda clandestina de armas ao Irã. A partir do episódio, sua capacidade de persuasão no Congresso ficou reduzida, o que levou a rejeição de indicações para a Suprema Corte e a um maior questionamento de suas nomeações. O que não o impediu de fazer o sucessor, George H.W. Bush, uma marca de sucesso histórico.

Na década seguinte, o democrata Bill Clinton conseguiu manter alta sua popularidade mesmo depois de passar boa parte de seu segundo mandato se defendendo de acusações relacionadas ao escândalo do caso com a estagiária Monica Lewinsky. Chegou a ter um processo de impeachment aprovado na Câmara dos Representantes, mas foi absolvido pelo Senado americano. No último dia de seu mandato, concedeu 140 indultos a condenados, controvérsia que envolveu acusações de que os perdões foram comprados.

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O exemplo mais contundente de um presidente ‘lame duck’, contudo, está na figura de George W. Bush. A fraca resposta à destruição causada pelo furacão Katrina, em 2005, deu início à derrocada. Uma guerra com motivação discutível no Iraque e a falta de perspectivas positivas para o conflito no Afeganistão provaram a ineficiência no plano externo. Ele também não fez nenhuma tentativa séria de encontrar fontes alternativas de energia e opõs-se ao Tratado de Kioto. Isso tudo com minoria no Senado e na Câmara dos Representantes, depois do massacre eleitoral do Partido Republicano nas eleições de 2006. A pá de cal veio com a desastrosa crise financeira em 2008. Bush ficou tão à margem das decisões que as opiniões dos candidatos Obama e John McCain passaram a ter mais peso na imprensa.

“Dado o caráter de divisão da política americana, as melhores perspectivas para Obama envolve áreas nas quais ele possa encontrar um consenso suficiente para aprovar suas iniciativas no Congresso. No entanto, se ele escolher gastar seu capital político no inatingível, como George W. Bush fez ao tentar privatizar parte da Seguridade Social, ele terá pouco espaço para mostrar seus esforços”, avalia Bullock.

Para o professor, as pretensões de Obama de tentar conter a tendência a se tornar um ‘pato manco’ podem ser dificultadas pelo fato de ele não ter disputado as eleições apresentando metas claramente articuladas. “Se as eleições de 2014 seguirem o modelo histórico e os democratas tiverem grandes perdas no Congresso, a influência de Obama será ainda mais atenuada. Se os democratas perderem o Senado, então ele terá sua atuação limitada ao uso do veto para contrariar as iniciativas republicanas”.

Ou então, olhar para a política externa, já que a maioria dos membros do Congresso acredita que as questões internacionais têm pouco impacto em seus redutos eleitorais e, consequentemente, não dão muita importância para as ações do presidente. Uma grande conquista, no entanto, pode ser relevante para o legado presidencial. “Se Obama conseguir resolver a crise nuclear com o Irã ou os ataques de Israel à Síria, ficará em seu legado que ele não foi um pato manco. No entanto, é bem improvável que ele escape desse status”, avalia o professor de política da Universidade do Texas, Bruce Buchanan. A contagem regressiva para o esgotamento da influência já começou, e Obama tem pouco tempo para definir como será lembrado.

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