Um homem-bomba que atacou a embaixada dos EUA em Ancara, capital da Turquia, nesta sexta-feira era um militante de extrema esquerda, informou o ministro do Interior turco, Muammer Guler. Ele afirmou a jornalistas que o autor do ataque – que matou um segurança turco que trabalhava no prédio – pode ser um cidadão turco, membro do grupo marxista-leninista Frente Revolucionária de Libertação Popular (DHKP-C, sigla em inglês). O grupo é banido no país.
“As primeiras pistas indicam que o responsável era um militante de uma organização clandestina de esquerda”, disse o ministro. “Suas impressões digitais estão sendo analisadas.” Segundo a rede CNN, a polícia de Istambul identificou o homem como Ecevit Shanli, integrante do DHKP-C. O jornal The New York Times acrescenta que o segurança turco morto no atentado seria Mustafa Akarsu, de 47 anos.
Além da morte do segurança e do próprio homem-bomba, o atentado deixou três feridos, um deles em estado grave. Um dos feridos seria uma antiga repórter da agência turca NTV, Didem Tuncay, de 39 anos, segundo o NYT. O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan fez um pronunciamento na TV com um apelo para que haja um esforço global no combate a “elementos terroristas”.
Turquia e Estados Unidos classificam o incidente como um ato terrorista. Mas nenhum grupo assumiu a autoria do ataque até agora, e a causa ainda não está esclarecida. Mais cedo, o governador de Ancara, Alaaddin Yuksel, confirmou que o autor da explosão era um homem-bomba. Imagens divulgadas pela imprensa turca mostram que a explosão fez um buraco na parede de um prédio que abriga um clube social de guardas. A embaixada não sofreu danos.
DHKP-C – Hasan Selim Ozertem, especialista em segurança da Organização Internacional de Pesquisa Estratégica em Ancara, afirmou à rede CNN que o ataque pode estar relacionado com a detenção de alguns membros do DHKP-C há duas semanas. Desde o início de janeiro, foram presos 85 integrantes do grupo, fundado na década de 1970. Segundo Ozertem, a polícia turca tem observado atentamente o DHKP-C ao longo dos últimos cinco anos.
Para o especialista, é possível que o grupo esteja tentando enviar uma mensagem às autoridades da Turquia ao atacar a embaixada dos EUA, pois o Parlamento turco ficaria no mesmo prédio. Acredita-se que o DHKP-C tenha relações com países como Síria e Irã, além do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que há tempos trava uma guerra com Ancara.
O governo dos EUA alertou seus cidadãos para que não visitem as missões diplomáticas do país na Turquia até novo aviso. O último atentado em Ancara envolvendo um suicida esquerdista ocorreu em 2007. Ele matou nove pessoas e deixou 120 feridos, mas não tinha vínculos com qualquer grupo. Nos últimos anos, vários grupos lançaram ataques contra a Turquia, dos separatistas curdos a esquerdistas e militantes islâmicos.
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Estados Unidos – O atentado contra a embaixada na Turquia ocorre no mesmo dia em que a secretária de Estado Hillary Clinton está deixando o posto. Ela será substituída pelo senador John Kerry, que assume o cargo em meio à discussão sobre a estratégia de segurança das representações americanas no mundo, tema que levantou críticas contra o Departamento de Estado depois que um ataque ao consulado em Bengasi, na Líbia, deixou quatro mortos, incluindo o embaixador J. Christopher Stevens.
(Com agência France-Presse)