O ex-pastor e ativista dos direitos humanos Joachim Gauck foi eleito presidente da Alemanha por ampla maioria, neste domingo, tornando-se o primeiro candidato do antigo bloco comunista a ocupar o cargo de chefe de Estado.
Gauck obteve 991 votos de um total de 1.232 de uma assembleia especial de parlamentares e outros representantes, afirmou Norbert Lammert, presidente do Budestag, o Parlamento alemão.
A conhecida ‘caçadora de nazistas’ Beate Klarsfeld, de 73 anos, indicada como candidata por um partido da extrema esquerda, recebeu 126 votos, enquanto um candidato da extrema direita obteve três.
“Que belo dia”, disse Gauck, de 72 anos, após a votação, sob aplausos entusiasmados no Reichestag, prédio do Parlamento, no centro de Berlim.
“Jamais esquecerei estas eleições. Jamais!”, disse, visivelmente emocionado.
A chanceler alemã, Angela Merkel, que também cresceu na Alemanha comunista, enalteceu a vitória de Gauck como um sinal de como a Alemanha se transformou nos quase 23 anos desde a queda do Muro de Berlim, em 1989.
“Os alemães do leste chegaram, mas muito ainda precisa ser feito em termos de unidade alemã”, afirmou.
Gauck ajudou a conduzir a revolução pacífica que derrubou a Alemanha Oriental comunista e depois lutou para assegurar que o povo tivesse acesso ao vasto arquivo de fichas pessoais, deixado para trás pela temida Stasi, a polícia secreta, após a reunificação, em 1990. Ele supervisionou o arquivo na última década.
“Eu assumo esta responsabilidade com a imensa gratidão de uma pessoa que depois da longa série de equívocos que marcaram os desertos políticos do século XX, finalmente, e de forma inesperada, encontrou novamente um lar e alguém que nos últimos 20 anos experimentou a alegria de ajudar a formar uma sociedade democrática”, declarou.
Gauck lembrou que sua vitória coincidiu com o 22º aniversário das primeiras eleições livres realizadas na Alemanha Oriental.
“Nunca esqueci aquelas eleições. Nunca”, afirmou. “Eu sabia na época que nunca perderia outra eleição”, acrescentou.
Foi a terceira eleição presidencial em três anos realizada na Alemanha depois das abruptas renúncias dos dois antecessores de Gauck.
Em fevereiro, Merkel deu seu apoio ao pastor Luterano de fala direta depois que o presidente Christian Wulff renunciou em meio a uma série de denúncias de corrupção que datavam da época em que foi primeiro-ministro regional.
Wulff cumpriu apenas 20 meses de um mandato de cinco anos. Ele tinha assumido o cargo substituindo Horst Koehler, ex-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), que deixou a presidência após a comoção provocada pelos comentários que ele fez aparentemente para justificar o uso do exército para servir aos interesses econômicos da Alemanha.
As expectativas são grandes em torno do novo presidente, que ganhou fama de um orador inspirado.
Protestante convicto como Merkel, ele é incisivo em lembrar aos alemães que suas liberdades conquistadas com sacrifício carregam pesadas responsabilidades, um tema que o acompanha por toda a vida e ele afirma que levará ao palácio presidencial.