A iraniana Nasim Najafi Aghdam, que feriu três pessoas antes de se matar durante um ataque à sede do YouTube em San Bruno, California, na última terça-feira 3, difere da maioria dos autores de tiroteios nos Estados Unidos: ela era uma mulher. Um relatório publicado pelo FBI, que listou 220 ocorrências do tipo entre 2000 e 2016, identificou mulheres como autoras em apenas nove casos — 4% do total.
O perfil mais comum de atiradores é de homens jovens, brancos e com histórico de distúrbios mentais. Em texto publicado por VEJA, o psicólogo Terry Kupers, professor do Instituto Wright e autor do livro Solitary — The Inside Story of Supermax Isolation and How We Can Abolish It (ainda sem tradução no Brasil) associa a maneira pela qual os homens geralmente são criados (frequentemente com cobranças sociais de uma postura menos sentimental e mais dura, competitiva, além das maiores expectativas de que tenham sucesso profissional) às dificuldades que muitos deles têm para lidar com os fracassos, resultando em reações violentas por parte de alguns indivíduos. Ele diz: “Os meninos são educados para ser duros (“Não chore”, diz o técnico, “o que eu tenho neste time, um punhado de menininhas?”). Nós somos educados para esconder as cartas que temos na mão, para sofrer em silêncio e para ser autossuficientes.”
A rejeição amorosa também pode pesar para alguns. Uma das sobreviventes do massacre na Marjory Stoneman Douglas, escola na Flórida que foi alvo de tiroteio no dia em 15 de fevereiro em que 19 pessoas morreram, contou à Associated Press que Nikolas Cruz — o autor dos disparos — havia sido expulso da escola por brigar com o atual namorado de sua ex-namorada, com a qual Cruz era abusivo. Há um exemplo no Brasil — o Massacre de Realengo, chacina que ocorreu em uma escola municipal do Rio de Janeiro e em que 12 adolescentes morreram. Dez das vítimas de Wellington Menezes de Oliveira eram mulheres, e ele teria dito que não queria matar meninos.
Um estudo divulgado pela organização Everytown for Gun Safety, que analisou 156 casos ocorridos entre 2009 e 2016, demonstrou uma estreita relação com a violência doméstica — os homens são os principais autores de abusos, possivelmente como reflexo do machismo. O estudo aponta que, em 54% desses casos, uma das vítimas era a parceira ou alguém da família do autor do crime, com cerca de 4,5 milhões de mulheres americanas já foram ameaçadas com armas por seus parceiros.
Apesar dessas possíveis causas serem consideradas pelos especialistas, elas não devem ser generalizadas. Kruppers lembra : “A proporção dos [homens] que fazem isso é minúscula, mesmo com o aumento de ataques desse tipo nos últimos anos. E há muitas formas de masculinidade. Nem todos os homens competem agressivamente, [em] seu caminho ao topo.”