Montevidéu, 9 jul (EFE).- O vice-presidente uruguaio, Danilo Astori, voltou a criticar duramente nesta segunda-feira a decisão do presidente José Mujica de aceitar a entrada da Venezuela no Mercosul sem a aprovação do Paraguai, depois de ambos polemizarem sobre o assunto na imprensa.
Em artigo publicado no portal ‘Uypress’, de Montevidéu, Astori considerou negativo para a região, para o Uruguai ‘e inclusive para a Venezuela’ a entrada do país caribenho no Mercosul ‘decidida na cúpula realizada em Mendoza pelos presidentes de Argentina, Brasil e Uruguai, desconhecendo a institucionalidade vigente’.
Em tom fora de seu padrão, o vice-presidente uruguaio, responsável pela equipe econômica do governo uruguaio e que foi rival de Mujica nas eleições internas da Frente Ampla, anteriores às eleições gerais de 2009, considerou necessário expressar sua contrariedade por esta decisão e reafirmou que ela representa a ‘ferida institucional’ mais grave sofrida pelo Mercosul em sua história.
Assim, Astori se perguntou em seu artigo o que aconteceu durante a Cúpula de Mendoza para que Mujica mudasse a posição contrária da delegação uruguaia ‘até o último momento’ em relação à entrada da Venezuela sem a votação do Parlamento paraguaio.
‘O que mudou durante a cúpula para reverter a posição da delegação uruguaia?’, perguntou Astori.
O vice-presidente assinalou que quando Mujica reconheceu publicamente que tinha tomado a decisão de aceitar a Venezuela por motivos políticos, ao mesmo tempo aceitou ‘explicitamente’ que não foram levadas em conta ‘normas legais e institucionais’.
‘O maior e mais grave retrocesso que o Mercosul sofreu em toda sua complexa história. Agora a única institucionalidade válida não é a dos tratados, não é a dos mecanismos que protegem a todos e que exigiram longas e trabalhosas negociações. Agora dependemos das decisões dos presidentes dos países’, lamentou Astori.
O vice-presidente insistiu que a resolução dos presidentes ‘pode ter grandes consequências no futuro’, como deixar uma ‘institucionalidade tão fraca a ponto de não servir para nada’.
Assim, Astori apontou que ‘o enfraquecimento da institucionalidade do Mercosul’ só favorece ‘a seus adversários’, que ‘por razões políticas e ideológicas estão contra o projeto e um processo de integração latino-americana mais ampla’.
‘Não é um capricho formal, não há nenhuma contradição entre a legalidade e a política. Ao contrário. O que é bom lembrar – porque tem a ver com as profundas definições democráticas da esquerda – é que não se pode, não se deve, subjugar a lei pela política’, destacou.
Na semana passada, Mujica respondeu às primeiras críticas de Astori dizendo que seu vice está equivocado ao dizer que a entrada da Venezuela é uma ‘ferida letal’ para o bloco.
‘Não é nada letal; letal é como estávamos antes. Faz 20 anos que dizemos que o Mercosul não avança e, se não avança, é preciso mudá-lo. Queremos um Mercosul para continuar criticando-o? Não’, disse o líder.
No dia 29 de junho, durante a cúpula do Mercosul em Mendoza, na qual o Paraguai foi suspenso do bloco até as eleições previstas para 2013, os presidentes resolveram agregar a Venezuela ao mecanismo regional e definiram que sua incorporação será concretizada em reunião especial que será realizada no dia 31 de julho, no Rio de Janeiro. EFE