Toulouse/Paris, 22 mar (EFE).- O assassino confesso de Toulouse morreu nesta quinta-feira com um disparo na cabeça durante o ataque armado da polícia francesa ao apartamento onde ele se entrincheirou por mais de 32 horas, nas quais assumiu seus sete crimes e só lamentou não ter tido tempo de provocar mais mortes.
O suposto terrorista, Mohammed Merah, francês de 23 anos de origem argelina, disse ter atuado sozinho, mas em nome da Al Qaeda, ao assassinar desde o último dia 11 três militares, três crianças judias e o pai de duas delas em Toulouse e na vizinha Montauban.
Um grupo denominado ‘O Exército do Califado’, vinculado à Al Qaeda, reivindicou nesta quinta-feira os assassinatos em comunicado divulgado em sites utilizados habitualmente por grupos radicais islâmicos.
Desde o último dia de massacre, na segunda-feira passada em um colégio judeu de Toulouse, o cerco se estreitou em torno de Merah, que acumulava mais de 15 penas por crimes comuns e sobre o qual se sabia de seus contatos com círculos salafistas no Afeganistão e no Paquistão.
Em três ações, Merah usou uma moto e uma câmera pendurada no pescoço com a qual gravou imagens que mostram que atuou com ânimo de vingança pela morte de crianças palestinas, a intervenção militar francesa no Afeganistão e a lei sobre o uso do véu islâmico.
‘Você mata meus irmãos, eu mato você’, disse o suposto terrorista antes de disparar em sua primeira vítima, um soldado do regimento de paraquedistas que estava vestido como civil e com o qual tinha se encontrado com a falsa intenção de comprar sua motocicleta.
A pista de um endereço IP – número que identifica conexões realizadas na internet – e sua visita a uma concessionária na qual perguntou como desligar o mecanismo que permite localizar os veículos foram duas peças-chave da investigação.
Desde o crime ocorrido na escola judia em Toulouse, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, elevou o alerta antiterrorista ao nível máximo – medida tomada pela primeira vez no país -, ao mesmo tempo em que era suspensa temporariamente a campanha para as eleições presidenciais.
Assim que o suspeito foi localizado, o cerco se estreitou na madrugada da quarta-feira, com uma primeira tentativa de invasão da tropa de elite da polícia que terminou com saldo de dois agentes levemente feridos.
Começou então uma fase de negociação com o suposto homicida, na qual este mudou seu discurso, deixando de anunciar sua vontade de se entregar para passar a afirmar seu desejo de ‘morrer com as armas nas mãos’.
‘Se eu morrer, pior para mim, mas irei ao paraíso. Se vocês morrerem, pior para vocês’, advertiu Merah aos negociadores que, após uma longa noite na qual cortaram o fornecimento de energia elétrica e de gás da região, iniciaram uma estratégia de desgaste mental com detonações regulares.
O ataque final, com toda a França e boa parte do mundo na expectativa pelo desfecho, aconteceu às 6h30 (de Brasília), coordenado pelo ministro do Interior, Claude Guéant. Ele alegou que a ação de abater o jovem com um tiro na cabeça quando ele fez disparos da janela ocorreu em ‘legítima defesa’.
‘Ele saiu do banheiro fortemente armado, disparou contra os agentes e atirou pela janela’, relatou o promotor chefe de Paris, François Molins.
O porta-voz da polícia de Toulouse, Didier Durand, ressaltou: ‘Nunca tínhamos visto nada igual. Ele atirou para todo lado (…) como em um filme, como em um videogame’.
A Promotoria analisa agora as conversas de Merah com os negociadores e a gravação de sua câmara, interroga os detidos, entre eles Abdelkader, irmão do suposto homicida, e busca eventuais cúmplices que podem tê-lo convencido a cometer os crimes ou lhe ajudado a executá-los.
Enquanto isso, Sarkozy, pouco antes de retomar a campanha eleitoral, anunciou em Paris uma reforma legislativa para impor penas a quem consultar páginas de internet que façam apologia à violência ou ao terrorismo, ou a quem viajar ao exterior para se aprofundar em ideologias extremistas.
‘A França demonstrou sangue frio e determinação’, e se manteve ‘unida’, concluiu em seu discurso, no qual pediu ainda aos cidadãos franceses que superem o sentimento de indignação e não misturem a religião com ‘as motivações loucas de um terrorista’. EFE