O governo da Argentina iniciou nesta sexta-feira os procedimentos formais para processar empresas da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos que exploram petróleo nas regiões próximas às ilhas Malvinas. Daniel Filmus, encarregado da pasta voltada para os assuntos do arquipélago, anunciou em Londres que as companhias Falkland Oil, Gas Premier, Rockhopper, Edison International e Noble Energy responderão por “agir ilegalmente ao entrar em território argentino”. A medida é mais uma peça de propaganda a ser utilizada pela presidente Cristina Kirchner, que tem desrespeitado a soberania britânica do arquipélago para desviar a atenção popular das crises política e econômica que enfrenta.
Filmus repetiu o discurso populista empregado pela presidente ao abordar o assunto e disse que as áreas exploradas pelas petrolíferas “são tão argentinas quanto o centro de Buenos Aires. Nem a Grã-Bretanha nem nenhum outro país dariam permissão para alguém entrar em seus territórios e extrair suas riquezas”. Segundo o ministro, o governo argentino “usará toda a força da lei” e apelará para “tratados de extradição mantidos ao redor do mundo” para julgar os réus do processo.
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Em resposta, o secretário de assuntos estrangeiros da Grã-Bretanha, Philip Hammond, acusou a Argentina de seguir adiante com uma “provocação inaceitável”. Ele destacou que os residentes das Malvinas têm o “perfeito direito de desenvolver a própria economia através dos recursos naturais” das ilhas. “A Argentina precisa parar com esse tipo de comportamento e começar a agir como um membro responsável da comunidade internacional”, acrescentou.
A administração das Malvinas também se manifestou contrária à ação movida pela Argentina. “É sempre bom lembrar que foi o governo argentino que não quis trabalhar em cooperação com as Malvinas no desenvolvimento da indústria de hidrocarbonetos há alguns anos”, disse a administração local, em declarações reproduzidas pela rede britânica BBC. “As leis domésticas da Argentina não se aplicam às Malvinas e essa última ação é claramente outra tentativa argentina de tentar bloquear o crescimento econômico do arquipélago”.
O governo argentino reivindica o controle do arquipélago desde 1833, quando foi ocupado pela Grã-Bretanha, que o governa desde então. Em 1982, quando a Argentina era governada por uma ditadura militar, os dois países travaram uma guerra, que terminou com a vitória britânica. Em março deste ano, o governo britânico anunciou um aumento no orçamento militar das Malvinas, já que considera a invasão por parte da Argentina uma “ameaça muito viva”. A presidente Cristina Kirchner negou a hipótese e relacionou a acusação com a campanha eleitoral britânica.
Segundo um analista jurídico Malcolm Bracken, ouvido pela BBC, a Argentina dificilmente terá algum êxito nos tribunais. “Os argentinos perderão. Eles não possuem nenhuma jurisdição, pois a ONU encerrou o assunto em 1982”, afirmou. “Na verdade, eles estão desperdiçando qualquer possível benefício que o país poderia ter com o aumento da extração de petróleo na região que abrange o sul do Atlântico e o Chile. A extração exigiria um grande apoio logístico que não existe nas Malvinas. Eles precisariam de um porto em algum lugar e, provavelmente, ele terá de ser mais próximo do Chile do que da Argentina. Portanto, a medida movida pelos argentinos é autodestrutiva”.
(Da redação)