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Argentina faz pacto com El Salvador para usar modelo de guerra às gangues

Política de segurança do presidente Nayib Bukele, que governo de Milei quer copiar, é acusada prender inocentes e violar direitos humanos

Por Da Redação
19 jun 2024, 13h11
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  • Os ministros da Segurança da Argentina, Patricia Bullrich, e de El Salvador, Gustavo Villatoro, assinaram um acordo na terça-feira 18 para “fortalecer” a luta contra o crime organizado. O regime de exceção salvadorenho, baseado na dizimação das gangues que faziam do país um dos lugares mais violentos do planeta, é acusado de atropelar a democracia, com prisões indiscriminadas, Judiciário enfaixado e oposição reprimida. Mesmo assim, o sucesso na redução do crime inflou o prestígio do “modelo Nayib Bukele”, presidente de El Salvador, em países da América Latina.

    “Seguindo as orientações dos líderes de El Salvador e da Argentina, nosso presidente Nayib Bukele e o presidente Javier Milei, assinamos, juntamente com a ministra Patricia Bullrich, um acordo de trabalho entre os dois países, com o firme compromisso de fortalecer a luta contra o crime organizado”, afirmou Villatoro nas redes sociais.

    + Com referendo sobre segurança, Equador avança em processo de ‘bukelização’

    Segundo o comunicado conjunto, “serão criados espaços de análise especializados para desenhar estratégias e desenvolver ferramentas inovadoras que permitam combater eficazmente os grupos criminosos”. Nesse sentido, El Salvador e Argentina anunciaram intenção de criar o que chamaram de um “laboratório de políticas de segurança” com dados atualizados dos dois países “e de qualquer outro país que decida aderir ao mesmo”.

    Villatoro acrescentou que o governo salvadorenho compartilhou com a delegação argentina “as ferramentas e ações que implementamos no desenvolvimento do Plano de Controle Territorial, a estratégia de segurança bem-sucedida que deixou resultados sem precedentes em nosso país”.

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    Interesse dos hermanos

    O acordo foi o desfecho de uma visita de quatro dias de Bullrich a El Salvador, que começou no domingo. Naquele dia, a ministra argentina visitou uma megaprisão, inaugurada em 2022, com capacidade para 40 mil presos. Na terça-feira, Bukele a recebeu na sede do governo.

    A megaprisão é resultado da reação do governo salvadorenho a um pico de criminalidade que em 2022 viu 87 pessoas assassinadas em dois dias. Além disso, Bukele proclamou estado de exceção — que já renovou 22 vezes — e autorizou a polícia a trancafiar qualquer suspeito de ligação com gangues. Quase nenhum preso foi julgado e, quando as audiências começarem — se começarem —, serão ações coletivas, com até 900 réus cada.

    “Estamos muito impressionados com todo o processo, obtivemos informações absolutamente completas”, disse Bullrich ao presidente salvadorenho. “Isso se consegue com mudanças legislativas e vontade política para levar as forças de segurança e militares onde elas têm de estar”, continuou, referindo-se à redução da criminalidade em El Salvador.

    Modelo Bukele

    O sucesso no controle da criminalidade, ainda que a custo da democracia, fez de Bukele o presidente mais popular da América Latina, com quase 80% de aprovação. Por isso, outros governantes agora tentam emular seu modelo, ignorando as controvérsias.

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    + Prende e arrebenta: o estilo truculento de Bukele, reeleito em El Salvador

    No Equador, tomado por gangues de narcotraficantes, o presidente Daniel Noboa declarou estado de exceção e anunciou a construção de duas megaprisões. Rafael López Aliaga, prefeito de Lima, mencionou um “plano Bukele” ao solicitar a presença do Exército nas ruas. Honduras planeja erguer uma prisão exclusiva para gângsteres. O Movimento Brasil Livre (MBL) mandou três integrantes para acompanhar a reeleição de Bukele e vai redigir um documento com medidas inspiradas por ele.

    As organizações Human Rights Watch e a Anistia Internacional, por sua vez, denunciaram mortes, tortura e detenções arbitrárias durante o regime de exceção, que é sistematicamente prorrogado. Do total de detidos, quase 8 mil já foram libertados — milhares porque são inocentes. Um relatório de 2023 apontou sinais de tortura, asfixia, choques elétricos e todo tipo de violações de direitos humanos contra presos durante o regime.

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