Argentina elogia sua própria nova estratégia pelas Malvinas
'Não resta dúvidas de que país busca solução pacífica e civilizada', diz ministro
A Argentina se declarou nesta quinta-feira satisfeita com sua estratégia diplomática para ganhar apoio a sua reivindicação pela soberania das ilhas Malvinas, em meio a uma nova escalada das tensões com a Grã-Bretanha, enquanto se aproxima do 30º aniversário da guerra que os dois países travaram em 1982.
“Não resta nenhuma dúvida de que a Argentina busca uma solução pacífica, negociada e civilizada. Não vamos contestar nenhum agravo de tom militarista”, afirmou nesta quinta-feira o ministro das Relações Exteriores argentino, Héctor Timerman, referindo-se ao primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, que deu início a um plano para reforçar o contingente militar britânico no arquipélago. “É preciso ler os jornais ingleses. Até o mais conservador, The Times, não o apoia. Dizem-lhe que tem uma estratégia errada, que é irreal o que está fazendo”, disse Timerman, que está em El Salvador para cumprir uma viagem oficial pela América Central.
A questão das Malvinas – que a então ditadura militar da Argentina buscou recuperar por meio do uso da força em 1982, o que provocou uma curta mas sangrenta guerra com a Grã-Bretanha – é um dos poucos assuntos nos quais há pleno consenso político na Argentina. Ninguém questiona a estratégia desdobrada pelo governo de Cristina Fernández de Kirchner, que, segundo os analistas, está mostrando toda a dureza possível para forçar Londres a negociar.
Divergências – A escalada de mútuas acusações começou em dezembro passado, quando os países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) resolveram proibir a entrada de navios com bandeira das Malvinas em seus portos. O chanceler uruguaio, Luis Almagro, ratificou nesta quinta-feira que seu país apoiará “integralmente” a Argentina e prometeu que “nunca mais” haverá navios com bandeira das Malvinas nos portos do Mercosul e da Unasul.
“As Malvinas representam um enclave colonial britânico e, portanto, deveria haver respeito pela resolução da ONU que pede negociações sobre a soberania do arquipélago sul-americano”, afirmou Almagro em declarações a emissoras de rádio de Buenos Aires.
Pouco antes, Timerman tinha dito que a única saída para a Grã-Bretanha é a negociação direta com a Argentina. Ele considerou que a estratégia do governo de Cristina “está dando resultado”, já que obteve “muita solidariedade e compromisso” da região e dos organismos internacionais.
Após a guerra, os dois países negociaram primeiro em segredo e depois abertamente, embora sempre deixando de lado o tema da soberania. Em 1990, em Madri, eles anunciaram o reatamento das relações diplomáticas e o fim de uma zona de proteção militar que rodeava o arquipélago. Na sequência, houve novos acordos sobre pesca e investimentos.
‘Colonialismo’ – Na terça-feira, Cameron convocou o Conselho Nacional de Segurança para tratar da situação das Malvinas e acusou Buenos Aires de “colonialismo” por reivindicar a soberania das ilhas, situadas a 400 milhas marítimas do litoral argentino. O governo argentino, por sua vez, rechaçou as declarações britânicas.
O vice-presidente argentino, Amado Boudou, que exerce a Presidência interina do país devido à recuperação médica de Cristina, aproveitou um ato público para ressaltar que o colonialismo é uma palavra que causou “tanto dano quanto dor”, não só na América Latina, mas também na Ásia e na África.
A União Cívica Radical, segundo maior partido do Parlamento argentino, apresentou nesta quinta-feira um projeto para que o Senado repudie as declarações de Cameron, enquanto o governo se propõe a fazer o mesmo na Câmara dos Deputados.
Soberania – Buenos Aires reivindica a soberania das Malvinas e de outras ilhas do Atlântico Sul desde janeiro de 1833, quando o arquipélago denominado Falkland em inglês foi ocupado por tropas britânicas que expulsaram os então habitantes argentinos. Em 1965, a ONU opinou que a questão das Malvinas representa um caso de colonialismo e, desde então, houve várias resoluções pedindo às partes que negociem a soberania das ilhas.
“A Grã-Bretanha atualmente não é um país colonialista. É um erro falar de eventos de mais de 170 anos atrás”, disse Dick Sawle, membro da Assembleia Legislativa das Malvinas, à rádio argentina La Red. Segundo ele, os argentinos têm “bastante território”. “Nós somos um território de Grã-Bretanha e assim queremos continuar.”
(Com agência EFE)