A lei concede direitos de herança e adoção e trata igualmente casais hetero e homossexuais em questões jurídicas
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Depois de 16 horas de sessão, o Senado argentino aprovou, por 33 votos contra 27, o casamento homossexual. A lei concede direitos de herança e adoção e trata igualmente casais hetero e homossexuais em questões judiciais. Com isso, a Argentina se torna o primeiro país da América Latina a autorizar e garantir os mesmo direitos civis para uniões entre pessoas do mesmo sexo – a Cidade do México aprovou lei semelhante em dezembro, mas ela vale apenas na capital. Outros dois países da região, Uruguai e Colômbia, permitem uniões civis para casais gays.
A votação polarizou opiniões em todo o país e aumentou o fosso político entre o governo e a Igreja, fortemente contrária ao projeto de lei. A guerra retórica já era intensa na última terça-feira, quando líderes da igreja participaram de protestos em todo o país contra a lei. No domingo, o cardeal Jorge Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, declarou que ela é “um ataque destrutivo ao plano de Deus”. A presidente Cristina Kirchner criticou duramente os líderes da igreja na segunda-feira, dizendo que seu discurso sobre a questão parecia voltar “aos tempos das Cruzadas” e que eles não reconhecem como a sociedade argentina se liberalizou.
“Eles retratam a lei como uma questão de moral religiosa, como uma ameaça à ordem natural, quando o que realmente estamos fazendo é olhar para uma realidade que está aí”, disse a presidente, em Pequim. “Seria uma distorção da democracia negar direitos às minorias.” Defensores dos direitos dos gays afirmam que Cristina se baseia em pesquisas, mostrando que 70% da população aprova a nova lei.
Alguns analistas políticos vêem a questão como uma manobra política do casal Kirchner para manter sua dinastia no país. Nestor Kirchner, agora deputado, busca com o projeto volta ao centro das atenções antes das eleições de 2011, quando deve concorrer novamente à presidência, disse Carlos Germano, analista político em Buenos Aires. A aposta pode dividir a base de Kirchner e custar a liderança do partido peronista, disse o especialista.
(com New York Times)