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Após dois meses de guerra, Lula reconhece haver refém brasileiro em Gaza

Único desaparecido é Michel Nisenbaum; fontes da Fisesp disseram a VEJA que Itamaraty fez contato com a família pela primeira vez na quarta-feira 29

Por Amanda Péchy
Atualizado em 30 nov 2023, 12h01 - Publicado em 30 nov 2023, 10h42

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante visita a Doha, no Catar, confirmou nesta quinta-feira, 30, que há um brasileiro entre os reféns do grupo terrorista palestino Hamas e que está negociando a sua libertação, mas não citou um nome. Fontes da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) disseram a VEJA que o Itamaraty entrou em contato com a família do único brasileiro desaparecido desde o início da guerra, Michel Nisenbaum, pela primeira vez na quarta-feira 29.

Em entrevista a jornalistas na capital catari, o mandatário brasileiro afirmou que tratou da questão com o emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani, após agradecer pelo seu papel nas negociações para o resgate dos cidadãos brasileiros que moravam na Faixa de Gaza.

“Ainda tem mais brasileiros lá. (Estamos trabalhando) na liberação de um refém, que ainda pode ser liberado por esses dias”, afirmou o presidente.

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Negligência

Em entrevista exclusiva a VEJA, o presidente da Fisesp, Marcos Knobel, afirmou que houve atraso na operação do Itamaraty para reconhecer que poderia haver um refém brasileiro em Gaza, bem como para identificá-lo. Segundo o Itamaraty, o único desaparecido desde o início do conflito é Michel Nisenbaum, que tem dupla cidadania israelense-brasileira, mas o primeiro contato da diplomacia com sua família ocorreu apenas na quarta-feira 29, quase dois meses após o início do conflito.

“Ontem pela manhã, um funcionário da embaixada brasileira de Israel, em Tel Aviv, chamado Nimrod, entrou em contato com o grupo de voluntários do Fórum das Famílias dos Sequestrados para solicitar o telefone da irmã de Michel Nisenbaum, Mary Shohat“, disse Knobel a VEJA.

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Pouco depois, nesta quinta-feira, 30, Mary teve uma conversa com o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer. O encontro ocorreu depois que a Fisesp foi acionada para entender a situação, apurar e garantir que, de fato, Nimrod representava um contato oficial.

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“Depois de uma operação louvável para resgatar brasileiros de Israel e da Faixa de Gaza, vemos negligência por parte do governo brasileiro nessa questão”, avaliou Knobel.

Quem é Michel Nisembaum?

O brasileiro Michel Nisembaum, 59, está desaparecido desde os atentados de 7 de outubro cometidos pelo Hamas. Sua família, porém, não obteve nenhuma notícia sobre sua situação desde então.

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Em entrevista a VEJA, Mary, a irmã de Michel, afirmou que, naquele dia, pouco antes das 7h da manhã, Michel saiu de casa para buscar sua netinha. Ele deveria dirigir de Sderot, onde mora, para Ashkelon, a 70 quilômetros de distância.

“Às 7h13, quando já estava claro que havia uma invasão terrorista, a filha de Michel ligou para ele, mas ninguém atendeu. Dez minutos depois, retornaram do telefone do Michel para ela, gritando em árabe”, afirmou ela a VEJA. “A única coisa que dava para entender era a palavra Hamas. Desde então, não tivemos mais qualquer notícia”, completou.

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Mary contou que conversou pela última vez com Michel no dia 5 de outubro, portanto, 48 horas antes dos atentados.

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Na semana passada, a família foi procurada pelas Forças de Defesa de Israel (FDI), porque o carro de Michel foi encontrado, em paradeiro não informado pelo governo. Segundo Mary relatou a VEJA, o veículo estava incendiado, mas foi possível reconhecê-lo pelo número do chassi.

Michel e Mary imigraram com os pais para Israel há 45 anos. Ele trabalha como técnico de computador e, mais recentemente, iniciou a carreira de guia turístico numa fazenda especializada no cultivo de verduras que fica nas proximidades de Gaza.

Informações conflitantes

O Hamas sequestrou cerca de 240 reféns, segundo autoridades israelenses, durante a invasão no início de outubro. Dias depois, o Ministério da Defesa de Israel informou que havia brasileiros entre as pessoas mantidas pelo grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza. O anúncio foi feito por Jonathan Conricus, porta-voz do Exército israelense.

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“Temos (entre os reféns) americanos, britânicos, franceses, alemães, italianos, brasileiros, argentinos, ucranianos e diversos outros países”, disse ele em vídeo. “Estamos comprometidos a trazê-los de volta.”

O governo brasileiro, porém, não confirmou a informação até esta quinta-feira, 30.

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