Ainda em estado de choque após a explosão que devastou bairros inteiros de Beirute em 4 de agosto, os libaneses retornam ao confinamento nesta sexta-feira, 21, em razão do aumento de casos de Covid-19.
Junto ao confinamento, anunciado na segunda-feira 17 e que será adotado por duas semanas, o governo também impôs um toque de recolher das 18h às 6h para tentar conter os índices recordes de infecções dos últimos dias. O Líbano soma 10.952 casos da doença, incluindo 113 mortes.
Um primeiro confinamento de um mês foi imposto em meados de março, antes de ser gradualmente suspenso. No entanto, alguns espaços, como o principal aeroporto da capital, só voltaram a reabrir em 1º de julho, e com atividades reduzidas. Um novo confinamento foi imposto no final de julho, mas durou apenas cinco dias em razão da explosão.
Dentro das novas diretrizes, lojas de alimentos, supermercados e outros comércios poderão funcionar, mas com medidas preventivas, incluindo isolamento social. O aeroporto de Beirute permanecerá aberto durante toda a noite e viajantes poderão circular durante as horas do toque de recolher se estiveram com suas passagens em mãos. O novo confinamento não irá afetar esforços de limpeza nos bairros mais afetados pela explosão.
A medida foi imposta em grande parte porque autoridades temem que o setor da saúde tenha dificuldades para responder a um novo pico de infecções pelo vírus, especialmente porque alguns hospitais perto do porto foram seriamente danificados.
As novas restrições acontecem em meio a um importante feriado para muçulmanos xiitas, que, neste ano, não poderão marcar a data nas ruas do país. Em resposta ao aumento de casos do novo coronavírus, o Hezbollah pediu para seus apoiadores evitarem grandes reuniões por causa da Ashura, que marca o martírio do ímã Hussein, neto do profeta Maomé. Sunitas também lembram a data, mas em menor escala, normalmente jejuando.
Apesar de não haver um censo oficial desde 1932 no país, especialistas afirmam que os dois maiores grupos religiosos no Líbano são muçulmanos xiitas e sunitas, cada um deles representando mais de um quarto da população.
Normalmente, milhares de xiitas se reúnem nas ruas para as comemorações, que aconteceriam nesta sexta-feira e iriam até o sábado. No entanto, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, afirmou que “a situação saiu do controle, há muitos casos e os hospitais não podem mais lidar com isso”. Nasrallah instou seus seus partidários a simplesmente colocarem bandeiras pretas na frente de suas casas e empresas para marcar o evento.
‘Beira do abismo’
Na segunda-feira 17, ao anunciar um novo pico de casos, o ministro interino da Saúde, Hamad Hassan, afirmou que quatro hospitais de Beirute que atendiam pacientes do novo coronavírus ficaram “fora de serviço”.
“Os hospitais públicos e privados da capital dispõem de uma capacidade de atendimento muito limitada, em número de leitos de UTI ou de respiradores”, advertiu o Hassan. “Estamos à beira do abismo, não podemos permitir o luxo de perder mais tempo”, completou, antes de defender o novo confinamento de duas semanas.
“Na capital, as UTIs e os serviços responsáveis pela luta contra a epidemia nos hospitais públicos estão lotados”, afirmou.
No dia 4 de agosto, uma explosão no porto de Beirute deixou 174 mortos e milhares de feridos. Os danos gerados pela detonação são estimados entre 10 e 15 bilhões de dólares e em torno de 300.000 pessoas ficaram desabrigadas.
Após sucessivos protestos contra o governo, acusado de corrupção e negligência, o primeiro-ministro, Hassan Diab, e seu gabinete renunciaram no dia 10. Diab, que se apresentava como independente, estava há sete meses no cargo e responsabilizou a classe política tradicional pelos fracassos que levaram a “este terremoto que atingiu o país”.
De acordo com a Constituição libanesa, o governo cai se mais de um terço de seus membros renunciar, abrindo espaço para uma reestruturação completa do governo.
A pandemia de Covid-19 apenas acentuou a crise econômica sem precedentes no Líbano, com alta da inflação, restrições draconianas às retiradas de dólares e milhares de pessoas que perderam seus empregos ou grande parte de sua renda.