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A primeira em tudo: a trajetória de Kamala Harris

A presença da vice de Joe Biden na cédula democrata alavancou a conquista dos votos das minorias, sem afastar os partidários tradicionais

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 nov 2020, 09h16 - Publicado em 13 nov 2020, 06h00

A vice de Joe Biden exibe um histórico de primeiras vezes difícil de ser batido, a começar pela forma como comemorou a vitória: em um parque, de roupa esportiva, óculos escuros e fones de ouvido, Kamala Harris falou ao celular “Você conseguiu, Joe. Você é o próximo presidente dos Estados Unidos” — e deu uma gargalhada, em um vídeo que foi compartilhado mais de 760 000 vezes no Twitter. Harris, 56 anos completados em outubro, é a primeira mulher a chegar ao cargo. Além disso, é filha de dois imigrantes, a mãe médica nascida na Índia e o pai professor de economia, na Jamaica. Não tem filhos e só foi se casar há seis anos, com um judeu, Doug Emhoff, que assim ostentará, igualmente pela primeira vez, o muito duvidoso título de segundo-gentleman. Pairando acima de todo esse ineditismo, porém, está o fato de que Harris entrou na chapa de Biden com destino traçado: em 2024, quando ele terá 82 anos e já declarou que não disputará a reeleição, Harris estará talhada para ser a candidata democrata à Casa Branca.

Como nos Estados Unidos não existem meios-termos raciais, Kamala (pronuncia-se “câmala”) Harris é uma negra que deu certo em um mundo de brancos. Conseguir isso requer maleabilidade e jogo de cintura, duas características que ela tem de sobra e que dificultam situá-la no espectro político. Na carreira de promotora e de secretária da Justiça da Califórnia, formou reputação — como é de praxe no meio — de durona nas penas propostas e defensora da ação da polícia. Mesmo assim, não teve grande dificuldade em cair nos braços do movimento Black Lives Matter, que é contra tudo isso, sustentada pelo histórico familiar. Os pais, alunos típicos da Universidade da Califórnia em Berkeley nos anos 1960, eram ativistas de frequentar debates e participar de marchas, e Harris e a única irmã, Maya, foram criadas nesse ambiente, com franca inclinação para as figuras do movimento negro. A mesma flexibilidade permitiu que aceitasse o segundo posto da chapa Biden depois de tê-lo feito passar pelo maior vexame da pré-campanha democrata: ela própria candidata a candidata, citou em um debate os alunos negros levados de ônibus para escolas de brancos nos primórdios da integração racial, ressaltou que o senador foi contra a medida, batizada de busing, e lascou: “Eu era aquela menininha”.

RAÍZES - Com a irmã menor, o pai jamaicano e a mãe e avó indianas: ativismo político dentro de casa – (//Arquivo pessoal)

Ao contrário de Biden, Harris entrou tarde para a política. Na primeira tentativa, elegeu-se senadora em 2016 e se destacou no plenário pelo feitio promotora: interrogatórios duros e incisivos nas discussões de projetos. “Sua escolha para vice-presidente traduz as mudanças sociais e raciais pelas quais os Estados Unidos passaram nos últimos anos”, acredita Desmond Jagmohan, analista político de Berkeley. Ajudaram muito na sua ascensão os vínculos com a alta sociedade californiana e o mundo do showbiz, ao qual seria apresentada pelo poderoso prefeito de São Francisco, Willie Brown, de quem foi namorada enquanto ele era separado, mas não divorciado, da mulher (a relação encerrada há duas décadas permanece grudada ao seu currículo).

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Sua presença na cédula democrata alavancou a conquista dos votos das minorias, sem afastar os democratas tradicionais. “Ninguém poderia ter ajudado mais a campanha de Biden neste momento”, avalia Thomas C. Holt, professor de história afro-americana na Universidade de Chicago. Em janeiro, a vice Kamala Harris entrará no seu mandato equilibrando-se — uma constante em sua vida — entre a esquerda democrata, que vê nela a chance de dar uma chacoalhada no partido, e os caciques tradicionais, que apostam em sua capacidade de temperar diferenças com uma boa dose de moderação. Tudo isso sem atrapalhar nem o protagonismo do chefe nem suas chances na próxima eleição. Haja jogo de cintura.

Publicado em VEJA de 18 de novembro de 2020, edição nº 2713

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