A nova do ditador: Belarus ameaça cortar fornecimento de gás para a Europa
Medida é uma resposta a possíveis sanções que serão aplicadas pela União Europeia devido à crise na fronteira com a Polônia
O Belarus ameaçou nesta sexta-feira, 12, cortar o fornecimento de gás para o continente europeu caso a União Europeia imponha mais sanções ao país devido à crise de imigrantes em sua fronteira com a Polônia.
A Comissão Europeia acusou o governo bielorrusso de enganar migrantes e refugiados com promessas falsas de fácil acesso à União Europeia, no que definiu como uma abordagem “ao estilo gângster” para uma longa crise migratória.
Em reunião de emergência, o presidente Alexander Lukashenko disse que poderia interromper as entregas ao longo do gasoduto Yamal-Europa, que passa pelo seu território, aumentando a pressão sobre os líderes europeus enquanto o continente continua afetado pela crise no fornecimento de energia.
“Nós aquecemos a Europa e eles ainda nos ameaçam? Eu recomendaria que líderes da Polônia, Lituânia e outros que parecem não ter cérebro pensassem antes de falar”, teria dito Lukashenko a seus ministros. Após seus comentários, o gás natural aumentou cerca de 7%.
A maioria dos migrantes é da Síria, Iêmen e Iraque, e a companhia aérea estatal bielorrussa, Belavia, afirmou que iria proibir que cidadãos destes três países embarcassem em voos da Turquia para Belarus.
De acordo com os relatórios, a própria Belavia seria um dos alvos das sanções da União Europeia, ao mesmo tempo que o bloco avalia se elas poderiam se estender às companhias aéreas Aeroflot — estatal russa — e Turkish Airlines — parcialmente estatal turca.
Em uma declaração conjunta, membros da UE do Conselho de Segurança da ONU, juntamente com países como Reino Unido, Estados Unidos e Albânia, condenaram a “instrumentalização orquestrada de seres humanos cujas vidas e bem-estar foram colocados em perigo para fins políticos por Belarus”.
Alguns especialistas acreditam que a subida de tom por parte de Minsk pode se configurar em uma série de ações políticas drásticas, uma vez que Lukashenko tem como aliado o presidente russo, Vladimir Putin. Com a interrupção do fornecimento, Putin poderia acusar somente Belarus ao mesmo tempo em que pressiona a Europa.
Além disso, a situação lhe daria o pretexto necessário para intervir formalmente para proteger as fronteiras do país. Já existem relatos de aviões russos patrulhando a região. De acordo com o Ministério da Defesa bielorrusso, dois bombardeiros da Rússia sobrevoaram o país em uma missão de treinamento na última quinta-feira, 11.
No entanto, outros especialistas acreditam que o governo russo irá se opor à interrupção do fluxo de gás, impedindo que Lukashenko vá em frente. Em teleconferência realizada nesta sexta, o porta-voz do Kremlin disse a jornalistas que o país não havia sido consultado antes das ameaças.
A Rússia depende do gasoduto Yamal-Europa para cumprir os contratos com a União Europeia e fechá-lo significaria uma instabilidade no fornecimento de gás, situação que preocupa o governo a longo prazo. Além disso, a interrupção custaria aos cofres bielorrussos cerca de 300 milhões de dólares por ano em receitas de trânsito, quantia que Belarus não pode abrir mão.