58 crianças e adolescentes foram mortos no Irã desde o início de protestos
Manifestações começaram em resposta à morte de jovem sob custódia da polícia e tomam as ruas do país desde então
Ao menos 58 crianças e adolescente foram mortos no Irã nos últimos dois meses, desde que protestos anti-regime tomaram as ruas do país em resposta à morte da jovem Mahsa Amini, de 22 anos, morta sob custódia policial depois de ser presa por não usar o hijab corretamente e exibir parte dos cabelo. De acordo com a organização de ativistas de direitos humanos no Irã (HRA), desde o dia 16 de setembro, 46 meninos e 12 meninas menores de 18 anos perderam a vida no país.
Somente na última semana, cinco crianças foram vítimas das forças de segurança iranianas. Entre elas está Kian Pirfalak, de nove anos, uma das sete vítimas fatais da repressão na cidade de Izeh, no oeste do país, na quarta-feira, 16. Durante o funeral do garoto, parentes denunciaram que agentes abriram fogo contra o carro da família, onde Kian estava sentado ao lado de seu pai. O caso foi citado em um comunicado da UNICEF que alerta para a situação no país. “No Irã, o UNICEF continua profundamente preocupado com relatos de crianças sendo mortas, feridas e detidas”, diz a nota. “Isso é assustador e deve parar”.
Relatos de famílias que perderam os filhos são recorrentes desde que os protestos começaram. Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, Hassan Daroftadeh disse que o filho Kumar foi morto com tiros à queima-roupa nas ruas de sua cidade natal, Piranshahr, em 30 de outubro. No mesmo dia, apelidado de “sexta-feira sangrenta”, 93 pessoas foram mortas em todo o país, entre elas 10 crianças na cidade de Zahedan. “Ele estava parado na rua. Ele não disse uma palavra. Não sei com que consciência o executaram. Piranshahr é uma cidade pequena. Não houve protestos naquela noite, mas eles martirizaram meu filho. Ele era apenas um garotinho”, disse Daroftadeh.
As manifestações que se espalharam pelo país após a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, sob a custódia da polícia estão prestes a entrar no terceiro mês e se intensificaram desde esta terça-feira 15, quando organizadores do protesto pediram três dias de ação para marcar o “Novembro Sangrento” de 2019, quando uma repressão a protestos de rua contra o aumento dos preços dos combustíveis levou a centenas de mortes.
Desde o início dos protestos, em setembro, o Irã já prendeu mais de 14 mil pessoas. Autoridades pediram para o judiciário não mostrar clemência aos detidos, e uma pessoa foi oficialmente condenada à morte. Segundo organizações de direitos humanos, mais de 320 pessoas já foram mortas por conta das manifestações recentes. Este número, no entanto, pode ser ainda maior devido à falta de transparência do governo iraniano e à supressão da mídia e da internet no país.