Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Pensador Rutger Bregman constata: humanidade é, sim, solidária e otimista

Estrela dos jovens estudiosos que refletem sobre a crise atual, o holandês transformou sua pesquisa em livro

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 mar 2021, 22h19 - Publicado em 12 mar 2021, 06h00

Em setembro de 1940, com o avanço do nazismo pela Europa continental, a Inglaterra entrou na mira de Adolf Hitler. Intensos ataques aéreos contra alvos civis foram a tática para abalar o moral da população britânica. Em nove meses, mais de 80 000 bombas foram lançadas sobre Londres. Mas as agressões surtiram efeito oposto: a fibra dos ingleses se fortaleceu. Quando psiquiatras analisaram o impacto da guerra na saúde mental das pessoas, veio a explicação: em meio à raiva e à tristeza, havia uma forte resiliência. As pessoas não deixaram de viver a vida e se alegrar em meio aos destroços. A rotina continuou, a solidariedade aumentou, o alcoolismo e os índices de suicídio diminuíram. “Nossas janelas foram destruídas, mas as bebidas estão ótimas”, dizia o cartaz de um pub.

+ Compre o livro Uma história otimista do homem

Extraído de tempos extremos, o episódio ilustra a capacidade humana de manter o otimismo mesmo quando tudo parece perdido. Para o historiador holandês Rutger Bregman, de 32 anos, a explicação para o fenômeno é categórica: apesar da fama de egoístas, violentos e suscetíveis ao pânico, os seres humanos são, em sua maioria, gregários, solidários e resistentes. Em suma, as pessoas são boas e estão prontas a ajudar o próximo em momentos de crise. A teoria parece condescendente demais em um momento tão conturbado da história quanto o atual, mas não é só um rasgo de ingenuidade: é resultado da ampla e bem fundamentada pesquisa reunida no livro Humanidade: Uma História Otimista do Homem (Crítica), que acaba de chegar ao Brasil. Ao longo de sete anos, Bregman se aprofundou em estatísticas e experimentos de diversos campos da ciência, da arqueologia à psicologia, em busca de respostas sobre a natureza humana. Para sustentar sua tese, ele cita exemplos como o caso de seis jovens de Tonga que se perderam de barco em 1965, ficaram mais de um ano ilhados e sobreviveram ajudando um ao outro. “Não digo que as pessoas são anjos. Mas, no fundo, a maioria é decente e confiável”, diz ele.

+ Compre o livro Utopia para realistas: Como construir um mundo melhor

Bregman é chamado de “o novo Yuval Harari” por engrossar uma categoria da qual o colega israelense é o maior expoente: os jovens pensadores que refletem sobre o mundo atual a partir da ciência e de fatos históricos, propondo um futuro melhor. O grupo se sobressai pela habilidade de traduzir, de forma palatável e compreensível, teorias complexas em livros de apelo popular. Seguem esse caminho nomes como o canadense Malcolm Gladwell, que analisa estruturas sociais pelo prisma da psicologia, e o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, voltado para os exageros do consumismo em títulos como Sociedade do Cansaço. Os estilos variam, mas todos têm algo em comum: oferecem consolo e lustro intelectual a uma época de múltiplas crises.

Continua após a publicidade

+ Compre o livro Aprenda a ser otimista: Como mudar sua mente e sua vida

Bregman ganhou evidência com o livro Utopia para Realistas, no qual traz soluções práticas para um mundo mais próspero e igualitário. No Fórum de Davos, em 2019, ele cobrou bilionários, cara a cara, por ações para diminuir a desigualdade. A VEJA, o historiador confessa que a postura otimista não era natural a ele. “Eu achava o Senhor das Moscas bem convincente”, diz ele sobre a obra do Nobel da Literatura William Golding, de 1954. Nela, adolescentes isolados em uma ilha deserta se rendem ao caos e à violência. Fruto da depressão da II Guerra, a obra expunha a questão: como confiar numa espécie capaz de promover genocídios? Bregman não se esquiva do assunto no livro: “É preciso entender por que cometemos atos terríveis”. O processo de desumanizar um povo, por exemplo, é uma das quebras do padrão evolutivo humano que pode resultar em genocídios. Pesquisas com soldados de diferentes guerras, contudo, ainda apontam um padrão de ação movido pelo desejo de ajudar os compatriotas.

+ Compre o livro A vida é curta, que seja ótima!

A ideia de que o mal é intrínseco ao homem vem sendo cimentada historicamente por conceitos que vão do pecado original da Bíblia judaico-cristã às teses de filósofos como o inglês Thomas Hobbes (1588-1679) — para quem todos os homens são egoístas e dependentes de supervisão das autoridades. Para Bregman, hoje a força dos noticiários sensacionalistas e a selvageria nas redes sociais ampliariam essa sensação. “O que é negativo sobressai ao positivo, sendo compartilhado mais rapidamente”, analisa.

Continua após a publicidade

O ajuste de lentes para uma visão menos pessimista tem efeitos práticos desejáveis. Ao pressupor que a maioria da população é desleal, o sistema político, o treinamento policial e a organização das empresas são pautados pela desconfiança, causando paranoia e gastos desnecessários para se proteger dos próprios cidadãos e funcionários. A desigualdade social piora ainda mais o quadro: segundo a pesquisa global WVS, países mais igualitários apresentam uma maior confiança no próximo. No Brasil, apenas 5% da população acredita na decência humana. “Confiança é o oxigênio da democracia”, diz Bregman. Ele é, como esperado, otimista sobre o mundo pós-pandemia. “Há sinais de esperança. Essa crise vai inaugurar uma nova era para a humanidade.” Que assim seja.

Publicado em VEJA de 17 de março de 2021, edição nº 2729

VEJA RECOMENDA | Conheça a lista dos livros mais vendidos da revista e nossas indicações especiais para você.

CLIQUE NAS IMAGENS ABAIXO PARA COMPRAR

Uma história otimista do homem
Uma história otimista do homem
Utopia para realistas: Como construir um mundo melhor
Utopia para realistas: Como construir um mundo melhor
Aprenda a ser otimista: Como mudar sua mente e sua vida
Aprenda a ser otimista: Como mudar sua mente e sua vida
A vida é curta, que seja ótima!
A vida é curta, que seja ótima!

*A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.