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Para quem pode, a casa de campo ou na praia é bom pouso no confinamento

O êxodo das grandes cidades virou onda mundial para atravessar o período de afastamento social. Mas atenção: não são férias

Por Alexandre Senechal Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 Maio 2020, 12h03 - Publicado em 29 Maio 2020, 06h00

“Eu quero uma casa no campo / Onde eu possa ficar no tamanho da paz / E tenha somente a certeza / Dos limites do corpo e nada mais.” Quando o compositor Zé Rodrix (1947-2009) escreveu a canção Casa no Campo, na década de 70, ele dizia expressar o sentimento de sua geração, “que queria fugir, largar tudo”. As angústias atuais têm motivação diferente, mas o escapismo, algum modo de escapismo, ronda a cabeça de cidadãos confinados em razão da pandemia do novo coronavírus. Uma parte da população urbana (um grupo privilegiado, é claro) pôde atenuar os efeitos nocivos do isolamento social realizando a quarentena em espaços amplos e com confortos como lareira, gramado ensolarado, piscina e vista para o mar — ali, onde, na toada de Rodrix, pode-se também ficar do tamanho da paz.

O fenômeno é global. O Airbnb, rede digital de aluguéis por temporada, observou uma mudança no perfil das reservas. Em março, revelam os dados mais recentes compilados, houve aumento da demanda por estadias mais longas nas mesmas cidades. O número de reservas acima de 28 dias cresceu 24% em relação ao mesmo período do ano passado. No mundo todo, 80% dos anfitriões já aceitam desconto para períodos estendidos de permanência.

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Em março, quando o confinamento radical foi anunciado em Paris, cerca de 1 milhão de pessoas saíram da capital em direção ao interior da França. Em Nova York, 5% da população (perto de 420 000 pessoas) deixou sua casa para buscar um abrigo fora da cidade entre os dias 1º de março e 1º de maio. Apenas nos bairros nova-iorquinos mais nobres, a taxa de ocupação residencial caiu 40%. Não há, no Brasil, dados estatísticos que autorizem certezas, porém a movimentação é semelhante. “Em Búzios, as pousadas e os hotéis estão fechados, mas os condomínios particulares estão com todas as casas ocupadas”, afirma Thomas Weber, ex-presidente da Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro (Turisrio) e proprietário de hotéis no Litoral Norte fluminense.

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“Deixa o papai trabalhar” - O português Cristiano Ronaldo passou dois meses isolado na Ilha da Madeira, sua terra natal: nada de baladas (INSTAGRAM @CRISTIANO/.)

Busca-se o êxodo porque, afinal, se é melhor ficar dentro de casa, que a restrição seja feita com prazer — o que não exclui, ao contrário, a rotina com o trabalho profissional e os afazeres domésticos. A carioca Rosana Fortes, o marido e os dois filhos pequenos já passaram quatro breves temporadas de isolamento no interior de São Paulo nos últimos 45 dias. “Como alguns gastos diminuíram, investimos no cotidiano que pode fazer bem para nossa saúde mental”, diz Rosana, gerente no Brasil do Strava, aplicativo e rede social voltado para praticantes de corrida de rua e ciclismo.

Embora com cara de férias, o exílio temporário tem suas particularidades. Para a família de Rosana, é fundamental que o local escolhido disponha de bom sinal de internet, já que ela e o marido têm uma rotina intensa de reuniões de trabalho por videoconferência. É rotina que se impôs inclusive aos muito famosos. O craque português Cristiano Ronaldo, da Juventus, da Itália, pegou seu jato particular no ápice da quarentena e se refugiou em uma casa alugada em sua terra natal, a Ilha da Madeira. Mas nada de baladas: CR7 atravessou o período em Portugal mantendo o condicionamento físico, só interrompido pelos filhos. “Deixa o papai trabalhar”, escreveu Cristiano no Instagram, sua janela para o mundo, brincando com os gêmeos Eva e Matteo.

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A fuga é salutar. “Quem buscou refúgio fora das grandes capitais, além de diminuir a chance de contágio, também está diminuindo o stress”, afirma a psicóloga Ceres Alves de Araujo, doutora em distúrbios da comunicação humana pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Há, naturalmente, quem abuse do privilégio de poder ir embora. Brotam relatos de gente que fez festas em casas particulares de praia ou no interior. Em Ubatuba, no litoral paulista, há movimento de pessoas na orla para fazer caminhadas e corridas, e alguns têm até entrado no mar para surfar, apesar da recomendação de afastamento. O estudante Marcos Pedro Masquetti Júnior costuma pegar onda com o pai. “Às vezes a guarda costeira pede que a gente saia da água ou da areia, mas não é sempre, porque não está proibido por lei. E estamos nos prevenindo. As pessoas não ficam próximas”, diz Marcos. Sua mãe, Erika, agradece a chance de poder fugir de São Paulo. “Decidimos vir para cá por não ser foco da doença”, assegura. “E também não estamos na muvuca.” Se é assim, no campo ou na praia, com segurança, tudo bem, mas o mantra é: fique em casa, em paz.

Publicado em VEJA de 3 de junho de 2020, edição nº 2689

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