Aberto desde 1887, o restaurante especializado em carnes Peter Luger era considerado até pouco tempo uma instituição nova-iorquina. Localizado no bairro do Brooklyn, ele é constantemente cenário de fotos dos paparazzi que fazem tocaia a sua porta em busca de celebridades. Seu rústico salão também já serviu como set de filmagens de longa-metragens e seriados – quem é fã da série Billions, que retrata o universo dos endinheirados de Nova York, já viu seus personagens comendo um de seus fartos cortes. Até pouco tempo atrás, a casa também era uma das mais recomendadas pelos críticos gastronômicos e guias de viagem.
Surpreende, portanto, a mais recente resenha feita pelo jornal The New York Times, que retirou as duas estrelas obtidas pelo Peter Luger em 2007, classificando a experiência no restaurante apenas como satisfatória – trata-se do segundo rebaixamento de nota (em 1995, a casa tinha ganhado três estrelas). O sistema de avaliação do NYT dá de zero a quatro estrelas: a nota mais baixa é dada a estabelecimentos ruins, justos ou satisfatórios; a mais alta é atribuída quando a comida é extraordinária. “A lista (de problemas) vai longe, e fica difícil de engolir, até que você começa a se perguntar quem realmente precisa ir ao Peter Luger, e começo a achar que a resposta é ninguém”, encerrou o crítico americano Pete Wells.
A péssima avaliação começa pelo serviço ruim e pouco amistoso. “Uma palavra afável ou um sorriso tranquilizador de algum funcionário ajudaria a fazer o tempo passar”, disse Pete Wells antes de comparar a experiência da fila no Peter Luger com uma visita ao equivalente do Detran nos Estados Unidos. Para o crítico, outro problema encontrado é o fato anacrônico de o estabelecimento não aceitar cartões de crédito. “O cartão que você usa para pagar um cafezinho ou um pacote de batatas na vendinha da esquina não comprará uma refeição no restaurante.”
A forma de pagamento é um problema ainda maior se olharmos os preços do cardápio. Quem já tentou pedir um prato com proteína bovina nos Estados Unidos sabe que os preços são geralmente mais salgados do que um corte equivalente num restaurante no Brasil. Mas no Peter Luger, o carro-chefe da casa, o filé Porterhouse, custa insanos 229 dólares (algo como 900 reais). Embora a generosa peça de carne sirva quatro pessoas, a forma de preparo não impressiona. “O que me intriga toda vez que como o filé do Luger é a constatação de que é somente mais um, e longe de ser o melhor que Nova York tem a oferecer”, garante o crítico do The New York Times.
Nada passa despercebido aos olhos do avaliador. O coquetel de camarão de entrada parece “borracha fria”, com sabor de ketchup e raiz-forte. As fatias de tomate de acompanhamento não valem os 16 dólares cobrados. Até as moedinhas de chocolate que acompanham a conta receberam uma nota ruim. “Depois de pagar, vem a sensação irrefreável de ter sido enganado”, sintetiza Pete Well, crítico do jornal americano.
No dia seguinte à divulgação da avaliação, o Peter Luger divulgou um comunicado, contestando a mais recente crítica do NYT. “Enquanto os avaliadores e seus caprichos mudam, nós sempre focamos em fazer uma coisa excepcionalmente bem”, diz a nota. “Sabemos quem somos e sempre seremos: o melhor filé que se pode comer, não a salada de couve da moda.”