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Zé do Caixão exorciza centenário e roga praga a anti-corintianos

Por Da Redação
1 set 2011, 09h48

Um dos campeões de bilheteria no Brasil, o Corinthians se preparou para protagonizar uma saga heróica em 2010, o ano do centenário. O diretor Andrés Sanchez seguiu o roteiro à risca e montou um elenco milionário, com Ronaldo no papel principal. Durante a temporada, a trama que parecia de suspense se tornou um filme de terror, capaz de assustar até mesmo o cineasta corintiano José Mojica Marins. Na véspera do 101aniversário do clube, comemorado nesta quinta-feira, o criador do temível Zé do Caixão exorcizou a Maldição do Centenário e rogou uma praga aos secadores.

‘Esses 101 anos vão ser um purgamento do centenário’, afirmou Mojica durante uma descontraída conversa com a GE.Net, em meio a cigarros, cerveja e caipirinha, no boteco ao lado de sua residência. ‘Acho que o Corinthians melhora e ganha o título do Brasileiro’, apostou o cineasta, diretor do filme ‘Exorcismo Negro’, lançado em 1974. Antigo parceiro do folclórico ex-presidente Vicente Matheus, ele é fã de nomes como como Biro Biro, Sócrates, Rivellino e Vampeta.

No 101ano de vida, o Corinthians espera fugir definitivamente do gênero estrelado por Zé do Caixão. Em 2010, a sonhada conquista da Copa Libertadores acabou logo nas oitavas de final e o título brasileiro escapou nas últimas rodadas. Criticado, Ronaldo lembrou que o ano do centenário terminaria apenas no dia 1de setembro de 2011. Desde então, além do vice-campeonato paulista contra o Santos, o Timão conheceu o Deportes Tolima, um dos maiores vilões de sua secular história, digno de deixar mãos suadas e frias, como o personagem de cartola e capa preta.

Depois de um longo período de ostracismo, o corintiano José Mojica Marins aproveita o status de cult. Anfitrião de um programa de entrevistas semanal no Canal Brasil, no qual espera receber o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o cineasta de 75 anos planeja lançar em novembro sua próxima obra como diretor, batizada de ‘A Praga’. Conhecido como Coffin Joe no exterior, ele será interpretado por Matheus Nachtergaele no cinema e ainda prepara uma autobiografia para 2012.

GE.Net – O Corinthians completou 100 anos no dia 1de setembro de 2010. Mesmo com astros mundialmente conhecidos, como Ronaldo e Roberto Carlos, fracassou em todos os campeonatos que disputou e não ganhou sequer um título. Foi muito sofrido aguentar essa Maldição do Centenário?

Mojica – A gente esperava alguma coisa para poder guardar, uma recordação alegre e, de repente, ficou uma recordação triste. Depois que completar 101 anos, acho que vai melhorar, porque tem muito a ver com o torcedor. Esses 101 anos vão ser um purgamento do centenário. A torcida é muito fiel, dá uma força muito grande. Acho que o Corinthians melhora e ganha o título do Brasileiro.

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GE.Net – O título do primeiro turno, pelo menos, já ganhou…

Mojica – Tudo bem que foi só por um ponto de diferença, mas o importante é que terminou o primeiro turno como líder. Vamos torcer para que no segundo turno não caia de nível, ao contrário, que se mantenha e eleve como foi no começo do campeonato. No início do Brasileiro, não tinha para ninguém, mas depois foi caindo.

GE.Net – O Zé do Caixão entende de exorcismo, tanto que protagonizou o Exorcismo Negro, lançado em 1974. Essa Maldição do Centenário já foi exorcizada?

Mojica – Acho que vou começar a rogar as minhas pragas para os times adversários. Não é praga de mãe, é mais forte. É praga do Zé do Caixão, que tem a ver com o sobrenatural. As pragas são tão fortes, que no passado tinha uma padaria que queria me contratar para eu rogar uma praga na concorrente. É sinal que a praga é muito forte e que o pessoal sente. Não escrevo as pragas antes, vejo o que está acontecendo e invento tudo na hora.

Divulgação

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VEJA UM TRECHO DE ‘EXORCISMO NEGRO’

Foi a produção mais cara que fiz na época, a que tive mais recursos, tanto para contratar atores profissionais, quanto grandes técnicos. A verdade é que a fita foi feita meio na correria, porque a gente queria competir com O Exorcista americano. No entanto, por mais que corremos, não deu tempo e eles terminaram antes. Logo em seguida, lançamos Exorcismo Negro. Não era uma cópia, eu nem tinha assistido O Exorcista. Queriam que eu assistisse para ter uma ideia, mas preferi evitar para não ter influência nenhuma. Se alguma coisa acontecesse por acaso, seria pura coincidência. Foi bem melhor não ter visto. Apesar da influência que queriam do exterior, procurei fazer algo mais dentro do que é brasileiro e isso rendeu muito no exterior.

– José Mojica Marins dirigiu Exorcismo Negro

GE.Net – De onde vem o seu corintianismo?

Mojica – Isso já vem de berço. Meu pai era um toureiro, espanhol e corintiano. Vem desde essa época. Inclusive, fui muito amigo do Vicente Matheus, que também era espanhol. Gosto de futebol, mas só quando tem Seleção Brasileira ou Corinthians. Assisto a algum outro jogo só quando o ganhador vai jogar com o Corinthians. Se não tiver Seleção Brasileira ou Corinthians, não tenho interesse.

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GE.Net – Não sabia que o senhor era amigo do Matheus…

Mojica – Eu me dei muito bem com o Vicente. Primeiro, porque ele era espanhol, a gente sempre conversava bastante sobre a Espanha. Saíamos muito juntos, principalmente para comer nos restaurantes espanhóis. Tive uma amizade muito forte com ele e realmente não era só um cara que gostava do Corinthians, era absolutamente fanático pelo Corinthians, muito fanático. Quando o Vicente encontrava um corintiano de raça como eu, que gosto e acompanho, independentemente se o time cai ou não, ele gostava.

GE.Net – Quais são seus principais ídolos do Corinthians?

Mojica – Teve o Biro Biro, o Rivellino, que marcou muito, o Sócrates, o Vampeta… Uma vez, fizemos uma matéria muito boa, com A Gazeta Esportiva, do Vampeta falando sobre vampiro e fantasma. Ele é chamado de Vampeta, mas morre de medo disso…

GE. Net – O Vampeta é mais pela feiúra mesmo…

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Mojica – Exatamente, é mais pela feiúra. Como pessoa, ele é um cara muito legal, muito bacana, muito especial. Gostei muito do Vampeta e gostava de vê-lo no meu Corinthians.

GE.Net – O senhor tem alguma recordação especial do histórico título paulista de 1977?

Mojica – Eu me lembro: ninguém mais punha fé no Corinthians e de repente a gente renasceu. A verdade é que o Corinthians já renasceu várias vezes. O que temos de recordação amarga é a queda para a Segunda Divisão. Pegou uma época em que eu estava terminando a Encarnação do Demônio. A gente tinha que fazer uma cena violenta, colocando uma mulher dentro de um porco morto, quando de repente soubemos do rebaixamento. Todos os técnicos que estavam trabalhando comigo eram corintianos.

GE.Net – Mas no domingo o Corinthians perdeu do Palmeiras…

Mojica – Perdeu para o Palmeiras, mas acho que precisava perder um clássico. Foi muito importante, porque agora vem o segundo turno. Se termina o primeiro turno ganhando, a coisa poderia ser outra. Perdendo, sei que o time vem para o segundo turno com tudo para continuar subindo e mostrando trabalho para a torcida corintiana, que é a maior do Brasil. Valeu terminar o primeiro turno como líder e perdendo.

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GE.Net – Alguns clubes, como Vasco e Corinthians, costumavam contar com apoio de pais de santo. O senhor acha importante os times de futebol apostarem em pessoas que fazem esse tipo de trabalho?

Mojica – Todo mundo que procura força para vencer na vida no espiritismo, em bruxas e forças paranormais, não chega a nada, porque tudo está no poder da mente. Se você tem uma mente forte, sabe o que quer e realmente luta por aquele ideal, chega lá. Você vai cair, a vida é cheia de quedas, mas tem que levantar. Acho que o caminho é esse.

GE.Net – O senhor tem um programa semanal de entrevistas no Canal Brasil, assim como o Sócrates. Tem alguém em especial que gostaria de conversar e ainda não teve oportunidade?

Mojica – Tem duas pessoas que eu queria muito entrevistar e vamos ver se é possível. Uma é o Lula e outra, o bispo Edir Macedo. Estou pedindo para o meu produtor ir atrás deles. Acho que para o Edir Macedo seria uma boa, mesmo ele sendo o dono da Record, fazer um negócio em outro canal, que nunca será concorrente dele, porque é da TV a cabo. A gente vai lutar para ver se conseguimos falar com ele.

GE.Net – O que atrai o senhor no Edir Macedo?

Mojica – Vejo o Edir Macedo com um poder muito grande, ele tira um grande partido da própria religião. Eu queria fazer uma entrevista para saber até onde ele é verdadeiro. Quero muito fazer essa entrevista, mexer realmente com a vaidade dele. Se ele for verdadeiro, vai sair por cima. Se tiver coisa falsa, o próprio público vai julgar, porque vou mostrar isso nas minhas perguntas.

GE.Net – No seu programa, o senhor trabalha ao lado do Nestor Bertolino Neto, o anão que ficou famoso por fazer uma sátira do Robinho no programa Pânico. Como é sua relação com o Capetinha?

Mojica – Somos amigos. Dentro do que faço, de algo mais ou menos sério, entrevistando gente muito especial, ele dá um toque gostoso, porque de vez em quando sai uma piadinha, um negócio que não tem nada a ver com nada, e isso distrai o público. Está dando muito certo. A ideia inicial era colocar duas meninas participando, mas elas só me apresentam. Acho que o Robinho está dando conta do recado. Ele fala quase tudo na gozação. De repente, tem algo que você está levando muito a sério e na verdade é mentira e às vezes algo que ele fala sem muita emoção é realmente verdade.GE.Net – Depois de praticamente 20 anos de ostracismo, o senhor dirigiu Encarnação do Demônio, que encerra a trilogia do Zé do Caixão, lançado em 2008. Para quem começou de forma pioneira nos anos 1950, praticamente sem recursos financeiros e técnicos, como foi dirigir um filme com quase R$ 2 milhões de orçamento, co-produzido pela Fox e exibido até no Festival de Veneza?

Mojica – Tive tudo que um diretor quer ter. Mas procurei, ao máximo, evitar qualquer coisa que fosse feita através de trucagem, eu queria as coisas bem naturais. Muita coisa saiu bem legal. A minha companheira faz uma cena inédita no mundo: ela topou entrar numa tina cheia de baratas que atriz nenhuma toparia. Eu enfio ela dentro de uma tina com baratas de todos os tipos. A única coisa que aconteceu é que saiu um tampão dela em uma das cenas e uma barata entrou dentro do ouvido. A filmagem estava no final, eu ainda aproveitei para fazer o último take e levei ela para o hospital para tirar a barata. Ficou uma cena real, muito discutida no exterior. Tem outra cena muito forte, em que corto um pedaço de uma menina para comer.

GE.Net – Tem uma cena em que várias aranhas passeiam sobre o seu corpo…

Mojica – Muita gente falava que era fácil eu colocar as atrizes para enfrentar esses bichos. Mas eles não sabem que sempre, antes de cada filmagem, eu deitava e mandava colocar aranha, barata ou escorpião em cima de mim. No Encarnação do Demônio, fiz questão que as aranhas viessem sobre mim para o pessoal ver que eu não ficava só mandando as meninas fazerem, mas também fazia. Quando elas entravam, é porque eu já tinha passado primeiro e visto que não tinha perigo. Além disso, sempre tinha um médico supervisionando.

GE.Net – Ficou satisfeito com o resultado final do filme?

Mojica – Acho que a fita alcançou algo bem lá em cima, a cena do porco também ficou muito boa, mas algumas coisas eu tive que segurar, porque a equipe ficava apavorada. O produtor Paulo Sacramento me chamou e disse: ‘gosto de tudo que você faz e sou seu fã, mas tem uns caras na equipe que têm medo e você precisa maneirar’. Tive que maneirar muitas coisas.

GE.Net – Atualmente, José Mojica Marins e o Zé do Caixão são classificados como cult. O senhor sente que, a partir de um determinado momento, passou a ser visto de outra maneira?

Mojica – Eu sei lá… Agora há pouco, saíram quatro páginas sobre mim em uma das maiores revistas americanas, me elogiando bastante. Lá, sou Coffin Joe e tenho um público muito grande. Saí em mais capas de revistas no exterior do que no Brasil…

GE.Net – Não ser reconhecido da mesma forma no seu próprio é algo que chateia?

Mojica – Acho que é só eu mesmo… Uma vez, estava na França dando uma entrevista e lembrei da época em que milhares de pessoas foram ao cinema Art-Palácio à meia-noite para ver um filme meu. Lá na França, me falaram: ‘as pessoas fazem terror imitando os estrangeiros, os vampiros, lobisomens, enquanto você criou um personagem folclórico seu e brasileiro’. Procuro divulgar lá fora a nossa história fantástica. Tem coisas que só existem no Brasil: as favelas, uma madame ter caso com um marginal… Isso é só aqui. E temos algo que ninguém tem: as mulheres mais lindas do mundo são brasileiras. Em todo país que vou, se vejo uma mulher bonita, ela é brasileira.GE.Net – O senhor vai ganhar uma cinebiografia, na qual será interpretado por Matheus Nachtergaele. As filmagens já começaram? Como será sua participação no projeto?

Mojica – A cinebiografia ainda está em preparação. Eu simplesmente vou seguindo e dando a minha opinião para ficar exatamente como aconteceu na vida real, seria chato dirigir um filme sobre a minha própria vida. Vai dar bastante polêmica. Acho que muitas coisas eles vão segurar, tem coisa muito forte.

GE.Net – Que tipo de coisa?

Mojica – Por exemplo: fui preso na época da ditadura, me acusaram de ser subversivo, falavam que eu usava o terror para esconder o meu verdadeiro objetivo. Isso me obrigou a viajar a Brasília pela primeira vez e fiquei surpreso quando vi os caras que censuravam. Eles colocavam a mão no meu corpo para ver se eu era de carne e osso, para saber se eu era vivo, se eu era desse planeta! Porra, fiquei doido. O Rogério Sganzerla e o Julio Bressane me acompanharam. Eu falei: ‘São vocês que censuram o nosso cinema? Que capacidade vocês têm de censurar? Vocês estão castrando os nossos valores’. Soube que um dos censores tinha cometido dois crimes e saiu livre.

GE.Net – Agora que, pelo menos teoricamente, não tem mais censura, qual será seu próximo trabalho como diretor?

Mojica – Vem aí ‘A Praga’, que é uma fita que comecei a produzir em 1979, com a Wanda Cosmo, terminei neste ano e vai ser lançada em novembro. É o último filme da Wanda Cosmo. Vamos ver quem o produtor vai querer colocar para distribuir. A Praga tem muito a ver com o Brasil. É sobre um homem que está com a namorada em uma fazenda e vê uma mulher catando flores, que é uma bruxa, a Wanda Cosmo. Ele começa a fotografar e tirar sarro dela. A bruxa roga uma praga no homem. De repente, nasce uma ferida na barriga dele que precisa ser alimentada com carne. Um dia, o açougue está fechado e a namorada não consegue comprar carne. Então, a ferida engole a menina. Eu tendo vida e saúde, no ano que vem quero fazer ‘Sete Ventres para o Demônio’. Vou mexer com todo mundo.

GE.Net – Mais algum plano para 2012?

Mojica – Entre julho e setembro, pretendo lançar uma autobiografia. Escrevi muito tempo no Estadão, no Diário de São Paulo e para jornais do interior. Estou juntando tudo para montar a minha biografia, porque todas as crônicas que eu escrevia eram baseadas em casos que aconteceram comigo. Vou juntar tudo e trazer alguma coisa séria para o nosso Brasil e para essa juventude, porque me preocupo muito com os novos cineastas. Eles não têm que pensar em efeitos especiais, que aqui são uma porcaria, mas sim procurar histórias que possam se fazer na raça, porque nós temos atores que topam muita coisa.

*Colaborou André Sender

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