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Zagallo diz que posição de anfitrião favorece o Brasil em 2014

O único tetracampeão do mundo lembra histórias desde a Copa de 1950, dá conselhos a Meno Menezes sobre a escalação da Seleção e diz que o time tem obrigação de vencer em casa

Por Leo Pinheiro
12 jun 2011, 11h56

Não quero ir contra o Mano Menezes, eu torço por ele, mas se tivesse que apontar algum substituto eu apontaria Vanderlei Luxemburgo. Estou torcendo pelo Mano, mas a experiência do Luxemburgo, apesar dele não ter participado de uma Copa do Mundo como o Felipão, é inigualável. Acho que ele tem mais cancha. Pelos títulos que conquistou, é uma pessoa que merece todo o apoio. No meu ponto de vista o Luxemburgo é o melhor de todos. Mas quero frisar que eu não estou contra o Mano Menezes, estou torcendo por ele.

Ninguém participou de tantas Copas do Mundo de Futebol quanto Mário Jorge Lobo Zagallo. Foram duas como jogador, em 1958 e 1962; três como treinador, 1970, 1974 e 1998; mais duas como coordenador técnico, 1994 e 2006. Em outra delas esteve presente anonimamente, como soldado do exército. Teve que conter as lágrimas enquanto fazia segurança do público, no Maracanã na trágica final da Copa de 1950. Das oito oportunidades levantou o caneco quatro vezes, tornando-se o único tetracampeão do mundo.

“Na final da Copa da Suécia, quando eles fizeram o primeiro gol, a primeira lembrança que veio na minha cabeça foi o Maracanã. Ali eu pensei: ‘Será que vai acontecer de novo?’ A imagem do Maracanã em 1950 veio à minha mente. Felizmente as coisas se modificaram e nós viramos o placar. Eu tive a felicidade de salvar o que seria o segundo gol da Suécia. Destino. Aquilo seria de grande importância, porque seria o segundo gol, seria 2 a 0 para a Suécia e estaria tudo acabado”, conta aliviado.

Após incontáveis triunfos, Zagallo confessa que seria a realização de um sonho sentar ao lado de Mano Menezes no banco de reservas da seleção na final da Copa de 2014, de novo no Maracanã. Mas, com certo constrangimento, bota a ideia apenas no campo do desejo: não acredita que seja convidado.

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Perto de completar 80 anos (em 9 de agosto), Zagallo caminha todos os dias no calçadão da praia, em frente a seu apartamento, na Barra da Tijuca. Mantém uma vaidade que vale tanto para ressaltar seus conhecimento e currículo incomparáveis no mundo da bola quanto para pedir que o fotógrafo evite o fundo branco. “É que o cabelo já está ralinho e todo branco. Assim não dá recorte e fica feio”, justifica com a experiência de quem já concedeu centenas, talvez milhares, de entrevistas. Tem uma memória invejável. Conta com riqueza de detalhes, como se fosse a primeira vez, histórias vividas há mais de 60 anos. Para falar do presente, não tem papas na língua. Sempre escudado numa ressalva – “eu não tenho nada contra fulano, mas…” – não faz cerimônia alguma em dizer que preferia Vanderley Luxemburgo a Mano Menezes no comando da Seleção, ou que considera Ronaldinho inviável no meio campo. Também não vê problema em ir na contramão nos elogios – e defende Adriano no ataque do time brasileiro.

Na última quarta-feira, Zagallo conversou por mais de duas horas com o site de VEJA. Leia os melhores momentos.

Obrigação de ganhar em casa

O Brasil foi a única seleção campeã do mundo que não conseguiu ganhar em casa. Perdemos no Maracanã. A Argentina ganhou em casa, o Uruguai ganhou em casa, a Alemanha ganhou em casa, a Itália ganhou, a França também. Se você for analisar matematicamente, é evidente que jogar em casa o torna o favorito a ganhar uma Copa do Mundo. Somente o Brasil não teve essa felicidade. Ganhou cinco títulos fora de casa. Eu só espero que em 2014 a gente não deixe de ganhar. Nós temos que vencer, queiram ou não. Essa é a nossa Copa e é o nosso hexa. Seja como for, o Brasil não pode deixar de ganhar. Os outros ganharam em casa e o Brasil como penta tem que ganhar o hexa em 2014. Só falta afirmar e eu estou afirmando hoje: “O Brasil vai ganhar esta Copa de 2014”.

Zagallo, entre Parreira e Mano Menezes, criticou as condições físicas de Ronaldinho
Zagallo, entre Parreira e Mano Menezes, criticou as condições físicas de Ronaldinho (VEJA)

Troca de comando

Não quero ir contra o Mano Menezes, eu torço por ele, mas se tivesse que apontar algum substituto eu apontaria Vanderlei Luxemburgo. Estou torcendo pelo Mano, mas a experiência do Luxemburgo, apesar dele não ter participado de uma Copa do Mundo como o Felipão, é inigualável. Acho que ele tem mais cancha. Pelos títulos que conquistou, é uma pessoa que merece todo o apoio. No meu ponto de vista o Luxemburgo é o melhor de todos. Mas quero frisar que eu não estou contra o Mano Menezes, estou torcendo por ele.

Time de garotos

O Mano está pegando uma fase de transição do futebol brasileiro. Ele ou qualquer outro iria sofrer o mesmo problema. Nós ainda não temos uma seleção montada. Por isso ele providenciou de botar o Júlio César no gol, o Lúcio na zaga, o Daniel Alves, o Maicon, jogadores que têm tarimba de ter participado de uma Copa, que vão fazer uma mescla porque é importante para a garotada se ver ao lado de ídolos, jogadores mais experientes nessa Copa América. Ele agiu acertadamente. Claro que depois dessa competição ele vai ter que começar a fazer a base dele e começar a martelar em cima, fazer poucas mudanças porque senão não vai formar uma seleção.

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Ronaldinho Gaúcho no Flamengo
Ronaldinho Gaúcho no Flamengo (VEJA)

Ronaldinho

Eu não segurei porque não dava para segurar. Era muita coisa errada que eu estava vendo, e não dava para eu me omitir. Fizeram a pergunta publicamente e eu não podia falar de outra maneira. Ninguém tinha coragem de falar e eu falei que o Ronaldinho não tem condições de jogar na seleção brasileira no meio de campo. Foi um jogador excelente no Barcelona, jogador de trinta metros, do meio campo para a frente fez tudo. Tem técnica, habilidade, mas fazer a função de meio campo com a amarelinha, jamais de novo. Não tem como. Ninguém me ensinou, eu joguei nessa função na ponta esquerda no Copa do Mundo. Eu sei o que é jogar no meio campo. Eu posso falar de cadeira: tem que ter pulmão, tem que ter condições orgânicas para fazer aquela função. Eu estou tranquilo com a minha consciência, que eu não estou aqui para prejudicar ninguém. Não tenho nada contra ele. O Ronaldo esteve comigo e com o Parreira na seleção de 2006. Ele ganhou a chuteira de ouro, bola de ouro da Fifa no Barcelona. Depois foi para o Milan e acabou no banco, e não fui eu que barrei. Ali ele começou a cair. Veio para o Flamengo, o Luxemburgo malandro, inteligente não botou ele no meio campo porque sabe que o cara não tem condições de jogar ali. Na seleção, nem no ataque teria chance, tem gente melhor, com mais experiência no setor e com mais dinâmica.

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Coordenador

Seleção brasileira eu não renego nunca, nunca. Estou com saúde, tenho condições, enxergo, estou a par de tudo, mas precisa o outro lado de lá querer. É diferente porque do assunto esse eu posso falar, eu entendo do problema, graças a Deus eu posso falar isso. Eu me menti numa vida na qual eu acho que dei o meu recado. Eu não quero jamais ser técnico, chega. Concentrar, sem ver família. Na seleção brasileira você tem períodos em que você está com a família sem problema nenhum, agora técnico de clube já passou a minha época. Para ser coordenador estou com a mente saudável, com saúde, vejo tudo, se for para colaborar eu estou aí. Eu não tenho receio de absolutamente nada.

O jogador Zizinho, do Brasil, é consolado pelo uruguaio Máspoli após a derrota na final da Copa de 1950, no Maracanã
O jogador Zizinho, do Brasil, é consolado pelo uruguaio Máspoli após a derrota na final da Copa de 1950, no Maracanã (VEJA)
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Maracanaço

Meu contato com o futebol começou em 1948, 1949 no juvenil do America. Em 1950 fui tirar um serviço militar. E como soldado eu fui requisitado pelo tenente Elvi, que era da polícia do Exército, para ir ao Maracanã para tirar serviço na arquibancada. Fui de uniforme verde oliva, capacete, cacetete, tudo o que eu tinha direito e tive a oportunidade de ver a final entre Brasil e Uruguai, no anel superior da arquibancada. Foi um dia bonito, interessante, alegre no inicio, com a entrada das duas seleções. Eram 200 mil pessoas acenando com lenço branco por todo o Maracanã. Foi uma festa indescritível pela presença dos torcedores brasileiros. Começou bem, com o Brasil ganhando de 1 a 0, e teve um final triste porque eles empataram e no final do jogo viraram com o gol do Gigia. Eu estava ali, naquele local do lado do gol do Gigia, na parte superior bem no ângulo do lado do corner. Foi uma tristeza geral. Parecia que eu estava em um velório. Todo mundo chorando, um silêncio. Ninguém contava com aquela derrota. Eu estava na posição de soldado e tive que conter as lágrimas. Eu estava ali sem poder torcer como o resto da torcida brasileira estava torcendo, mas no meu interior vibrando quando nos fizemos o primeiro gol e, é claro, chorando por dentro no 2 a 1 do Gigia contra o Brasil.

Sonho

Voltar ao Maracanã dentro de uma seleção seria uma honra, uma glória para mim, não tenha duvida que seria fechar com chave de ouro a minha carreira ganhar o titulo de 2014. Porque este titulo a gente tem que ganhar. Mas isso não adiante eu querer, eu estarei de fora e eu sei que eu estou fora hoje da seleção. Mas isso não vai mudar o meu brasileirismo. Estarei como torcedor, dentro do Maracanã ou na minha casa, olhando a seleção brasileira ganhar o titulo e eu vibrando como se lá estivesse.

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