Para uma torcida que se orgulha das conquistas mais sofridas, o Corinthians correspondeu às expectativas em 2011. Muitos dos jogadores que foram alvos de um ataque com milhos, pedras, bambus e rojões no CT Joaquim Grava após a vexatória eliminação na pré-Liberadores, diante do colombiano Tolima, terminaram a temporada consagrados pelo título do Campeonato Brasileiro.
No início do ano, os maiores candidatos a heróis corintianos foram outros. O técnico Tite iniciou 2011 credenciado pela boa campanha na reta final do Brasileirão anterior, quando havia substituído o demitido Adilson Batista, e com um grupo com líderes de renome. As principais estrelas eram os veteranos pentacampeões mundiais Ronaldo e Roberto Carlos, que prometiam conduzir o Corinthians a uma boa campanha na Copa Libertadores da América.
PRÉ-LIBERTADORES
Para chegar à fase de grupos do torneio continental, a equipe precisava antes superar o modesto Tolima (perdeu a classificação direta por ter terminado o Brasileiro de 2010 no terceiro lugar). A missão não era considerada das mais difíceis, uma vez que jamais uma equipe brasileira havia sido eliminada na pré-Libertadores. O futebol nada empolgante do Corinthians nos primeiros jogos do Campeonato Paulista (vitória por 2 a 0 sobre a Portuguesa e empates por 1 a 1 com Bragantino e Noroeste), no entanto, deixou a sua torcida ressabiada.
Inofensivo, o Corinthians sofreu dois gols no segundo tempo, de Danny Santoya e Wilder Medina, e não evitou a humilhação contra o Tolima. Nem Ronaldo era mais respeitado pelos adversários. Muito fora de forma, ele ouviu gozações da torcida colombiana ao errar um passe de letra, ao não completar um drible e ao cobrar uma falta sem direção. Para piorar, a aposta corintiana da época também decepcionou: o peruano Cachito Ramírez, que havia marcado um belo gol em sua estreia contra o São Bernardo, deu uma cotovelada em Chará e foi expulso logo após entrar em campo.
Não faltavam vilões, portanto, para a torcida eleger no retorno do Corinthians ao Brasil. Antes mesmo de o time desembarcar, os principais alvos tiveram seus nomes pichados em muros do Parque São Jorge: Ronaldo, Roberto Carlos, Tite e Andrés Sanchez. No CT Joaquim Grava, o protesto foi pior: carros de funcionários do clube acabaram danificados por manifestantes. Dois dias depois, torcedores derramaram champanhe no mesmo local para ironizar o antes idolatrado Fenômeno e exigir a sua demissão. Em um sábado, véspera de clássico contra o Palmeiras, o ônibus que levava os jogadores sofreu um ataque com grãos de milho de pipoca, pedras e bambus. Apenas Julio Cesar, Alessandro e Jorge Henrique foram poupados da revolta.
CAMPEONATO PAULISTA
Deixando o ambiente no Corinthians ainda mais pesado, os atletas receberam uma notícia triste horas antes do clássico com o Palmeiras. O meia William Morais, que estava no América-MG e pertencia ao clube paulistano, foi assassinado ao reagir a um assalto quando saída de uma boate na região da Pampulha, em Belo Horizonte. Ele tinha apenas 19 anos.Com tantos problemas, o Corinthians entrou em um Pacaembu repleto de palmeirenses para tentar se alegrar pela primeira vez no ano, no Campeonato Paulista. A torcida rival recebeu o time de Tite (que não contava com Ronaldo, supostamente lesionado) com bandeiras colombianas, em homenagem ao Tolima, e um mosaico criativo, com a inscrição: ‘Ha ha ha’. Quem riu por último, entretanto, foram os combalidos corintianos. Alessandro marcou o gol da vitória por 1 a 0, aos 37 minutos do segundo tempo.
A reação do Corinthians não bastou para prolongar um pouco mais a carreira de Ronaldo. Em 14 de fevereiro, emocionado ao lado dos filhos Ronald e Alex, ele concedeu uma entrevista coletiva para anunciar a sua aposentadoria. Pediu desculpas pelo fracasso na Libertadores, culpou o hipotireoidismo pelo seu excesso de peso e afirmou ter sido derrotado pelas dores no corpo. Foi perdoado pela torcida, que o reverenciou com bandeiras e outras homenagens. Ao contrário de Roberto Carlos e Jucilei, que foram para o russo Anzhi Makhachkala brigados com o público corintiano.
Recuperado da catástrofe na pré-Libertadores, o Corinthians precisava agora se reestruturar. O presidente Andrés Sanchez colocou o ex-zagueiro William para gerenciar o departamento de futebol – porém o antigo capitão não durou muito no cargo, por divergir de seus colegas ao querer a contratação do volante William Magrão, do Grêmio. Edu Gaspar assumiu a função. Já o centroavante Liedson chegou para ficar. Com a camisa 9 que era de Ronaldo, ele marcou os gols da vitória por 2 a 0 sobre o Mogi Mirim na primeira partida do time desde a aposentadoria do Fenômeno. No clássico contra o Santos, anotou mais um, e Fábio Santos (substituto de Roberto Carlos) fez dois: 3 a 1.
O único rival que o Corinthians não venceu na primeira fase do Campeonato Paulista foi o São Paulo. A derrota marcou. Em 27 de março, os são-paulinos acabaram com um tabu de mais de quatro anos sem ganhar o Majestoso com um placar de 2 a 1 – com direito ao centésimo gol (segundo o cálculo do goleiro) de Rogério Ceni, em cobrança de falta que Julio Cesar não defendeu. Dagoberto e Dentinho completaram o placar e acabaram expulsos, assim como Alessandro.
Com o tropeço no clássico somado a outras duas derrotas e cinco empates, o Corinthians terminou a etapa classificatória do Paulistão no terceiro lugar. Depois de passar pelo Oeste (2 a 1) nas quartas de final, seu adversário na semifinal era o Palmeiras, que tinha a vantagem de jogar como mandante no Pacaembu. Para superar outra vez o rival, o ‘equilíbrio’ tão pregado por Tite foi determinante. O técnico consagrou o bordão ‘fala muito’ em discussão com o colega (então desafeto) Luiz Felipe Scolari, que acabou expulso. O zagueiro Danilo também recebeu cartão vermelho, e o chileno Valdivia se machucou ao fazer o seu polêmico chute no vazio. Mesmo sem brilhar, os corintianos aproveitaram as baixas e obtiveram a classificação com vitória por 6 a 5 nos pênaltis, após empate por 1 a 1 no tempo regulamentar.
O adversário na decisão foi o Santos, badalado por contar com os promissores Neymar e Paulo Henrique Ganso. No jogo de ida, disputado no Pacaembu, os dois novatos não conseguiram chegar ao gol. Mas o Corinthians também não. O empate por 0 a 0 deixou os santistas animados para a final na Vila Belmiro. E com razão: o volante Arouca abriu o placar em casa – justo ele, que nunca havia feito um gol pelo clube do litoral e sonhara com esse feito – e Neymar completou, em falha de Julio Cesar. O meia Morais descontou para 2 a 1. CAMPEONATO BRASILEIRO
Vice-campeão paulista, o Corinthians tentou se reorganizar rapidamente para o início do Campeonato Brasileiro. O meia Bruno César e o atacante Dentinho, que já estavam negociados quando enfrentaram o Santos, rumaram para Benfica (Portugal) e Shakhtar Donetsk (Ucrânia), respectivamente. Seus substitutos foram Alex e Emerson. Um centroavante ainda mais famoso já estava na Fazendinha naquele tempo. Adriano, entretanto, lesionou gravemente o tendão de Aquiles do pé esquerdo e precisou passar por cirurgia. Também chegaram os menos renomados lateral direito Weldinho e o volante Edenílson.
Assim como ocorreu após a queda na pré-Libertadores, o Corinthians provou ter poder de reação no Brasileirão. O começo da campanha foi impecável e garantiu tranquilidade a Tite e a seus comandados. Grêmio (2 a 1), Coritiba (2 a 1), Flamengo (1 a 1), Fluminense (2 a 0), Santos (0 a 0), São Paulo (5 a 0, com falha de Rogério Ceni em gol de Jorge Henrique, muitos gritos de ‘olé’ e gosto de vingança), Bahia (1 a 0), Vasco (2 a 1), Atlético-GO (1 a 0) e Botafogo (2 a 0) foram os adversários da série de dez jogos de invencibilidade dos corintianos.
A derrota por 1 a 0 para o Cruzeiro, no Pacaembu, brecou a rápida ascensão do Corinthians na tabela de classificação. O time de Tite, então, começou a tropeçar com frequência. Inclusive contra o rival Palmeiras, por 2 a 1, em Presidente Prudente (SP). A situação ficou crítica depois dos tropeços contra Fluminense, que venceu por 1 a 0, e Santos, 3 a 1. Com medo de que a queda de rendimento do ano passado, sob o comando de Adilson Batista, fosse se repetir, torcedores voltaram a pressionar Tite às vésperas de um clássico contra o São Paulo. O zagueiro e capitão Chicão roubou a cena como culpado ao não aceitar ir para a reserva e abandonar a concentração antes do jogo. Sem ele, o Corinthians atuou fechado e arrancou um empate sem gols no Morumbi.
Em alta outra vez, depois de o jovem goleiro Renan falhar e perder espaço para Julio Cesar e Liedson se reabilitar de contusão, o Corinthians centralizou a disputa pelo título nacional com o Vasco na reta final do campeonato – os concorrentes Flamengo, São Paulo e Botafogo ficaram para trás. Uma inesperada derrota corintiana para o rebaixado América-MG alimentou as esperanças dos rivais, porém o time se reergueu com estilo. Até Adriano, criticado por não se dedicar em sua recuperação, foi decisivo. Marcou o gol da virada por 2 a 1 sobre o Atlético-MG, no Pacaembu, e vibrou pela primeira vez com a torcida alvinegra.
Assim, o Corinthians seguiu para as duas últimas rodadas do Brasileirão em vantagem na tabela. Derrotou o Figueirense com um gol de cabeça de Liedson, que sofria com as dores nos joelhos por causa do excesso de jogos, e passou a depender só de um empate com o Palmeiras para ser pentacampeão brasileiro (ou até de uma derrota, desde que o Vasco não vencesse o Flamengo no Engenhão). Foi o que ocorreu: um 0 a 0 no Pacaembu tomado pelo êxtase, com Jorge Henrique provocando Valdívia com um chute no vazio, assegurou a consagração nacional no mesmo dia do falecimento do ídolo Sócrates.
Jogos: 63
Vitórias: 33
Empates: 16
Derrotas: 14
Gols Pró: 90
Gols Contra: 54
Saldo: +36
ARTILHEIROS
Liedson: 23 gols
Paulinho: 11
Willian: 10
Alex: 6
Emerson: 6
Chicão: 5
Danilo: 4
Dentinho: 4
Jorge Henrique: 4
Cachito Ramírez: 3
Fábio Santos: 3
Adriano: 1
Alessandro: 1
Bruno César: 1
Bruno Quadros (contra): 1
Edno: 1
Leandro Castán: 1
Morais: 1
Paulo André: 1
Ralf: 1
Ramon: 1
Roberto Carlos: 1
PRÉ-LIBERTADORES
26/01 – Pacaembu – Corinthians 0 x 0 Tolima-COL
02/02 – Manuel Murillo Toro – Tolima-COL 2 x 0 Corinthians
CAMPEONATO PAULISTA
16/01 – Pacaembu – Corinthians 2 x 0 Portuguesa (Paulinho e Roberto Carlos)
19/01 – Nabi Abi Chedid – Bragantino 1 x 1 Corinthians (Jorge Henrique)
23/01 – Pacaembu – Corinthians 1 x 1 Noroeste (Dentinho)
30/01 – Primeiro de Maio – São Bernardo 2 x 2 Corinthians (Danilo e Cachito Ramírez)
06/02 – Pacaembu – Palmeiras 0 x 1 Corinthians (Alessandro)
09/02 – Pacaembu – Corinthians 4 x 0 Ituano (Chicão, Liedson [2] e Cachito Ramírez)
13/02 – Jaime Cintra – Paulista 0 x 0 Corinthians
17/02 – Pacaembu – Corinthians 2 x 0 Mogi Mirim (Liedson [2])
20/02 – Pacaembu – Corinthians 3 x 1 Santos (Fábio Santos [2] e Liedson)
26/02 – Pacaembu – Corinthians 4 x 0 Grêmio-SP (Dentinho, Fábio Santos e Liedson [2])
05/03 – Gilbertão – Linense 0 x 2 Corinthians (Bruno Quadros [contra] e Liedson)
09/03 – Pacaembu – Corinthians 0 x 1 Ponte Preta
13/03 – José Maria de Campos Maia – Mirassol 2 x 3 Corinthians (Bruno César e Willian [2])
20/03 – Pacaembu – Corinthians 1 x 0 Americana (Liedson)
23/03 – Pacaembu – Corinthians 3 x 0 Oeste (Dentinho, Liedson e Paulinho)
27/03 – Arena Barueri – São Paulo 2 x 1 Corinthians (Dentinho)
03/04 – Santa Cruz – Botafogo-SP 0 x 0 Corinthians
10/04 – Pacaembu – Corinthians 1 x 2 São Caetano (Paulinho)
17/04 – Bruno José Daniel – Santo André 0 x 2 Corinthians (Edno e Paulo André)
23/04 – Pacaembu – Corinthians 2 x 1 Oeste (Liedson e Willian)
01/05 – Pacaembu – Palmeiras 1 (5) x (6) 1 Corinthians (Willian)
08/05 – Pacaembu – Corinthians 0 x 0 Santos
15/05 – Vila Belmiro – Santos 2 x 1 Corinthians (Morais)
CAMPEONATO BRASILEIRO
22/05 – Olímpico – Grêmio 1 x 2 Corinthians (Chicão e Liedson)
29/05 – Arena Fonte Luminosa – Corinthians 2 x 1 Coritiba (Danilo e Paulinho)
05/06 – Engenhão – Flamengo 1 x 1 Corinthians (Willian)
12/06 – Pacaembu – Corinthians 2 x 0 Fluminense (Willian [2])
26/06 – Pacaembu – Corinthians 5 x 0 São Paulo (Danilo, Jorge Henrique e Liedson [3])
29/06 – Pituaçu – Bahia 0 x 1 Corinthians (Chicão)
06/07 – Pacaembu – Corinthians 2 x 1 Vasco (Paulinho e Ralf)
10/07 – Serra Dourada – Atlético-GO 0 x 1 Corinthians (Willian)
14/07 – Pacaembu – Corinthians 1 x 0 Internacional (Willian)
20/07 – São Januário – Botafogo 0 x 2 Corinthians (Liedson e Paulinho)
24/07 – Pacaembu – Corinthians 0 x 1 Cruzeiro
31/07 – Ressacada – Avaí 3 x 2 Corinthians (Emerson e Jorge Henrique)
03/08 – Pacaembu – Corinthians 2 x 1 América-MG (Jorge Henrique e Paulinho)
07/08 – Arena da Baixada – Atlético-PR 1 x 1 Corinthians (Alex)
10/08 – Vila Belmiro – Santos 0 x 0 Corinthians
14/08 – Pacaembu – Corinthians 2 x 2 Ceará (Alex e Paulinho)
17/08 – João Lamego – Atlético-MG 2 x 3 Corinthians (Alex, Emerson e Liedson)
20/08 – Pacaembu – Corinthians 0 x 2 Figueirense
28/08 – Prudentão – Palmeiras 2 x 1 Corinthians (Emerson)
31/08 – Pacaembu – Corinthians 3 x 2 Grêmio (Chicão, Paulinho e Ramon)
04/09 – Couto Pereira – Coritiba 1 x 0 Corinthians
08/09 – Pacaembu – Corinthians 2 x 1 Flamengo (Liedson [2])
11/09 – Engenhão – Fluminense 1 x 0 Corinthians
18/09 – Pacaembu – Corinthians 1 x 3 Santos (Liedson)
21/09 – Morumbi – São Paulo 0 x 0 Corinthians
25/09 – Pacaembu – Corinthians 1 x 0 Bahia (Emerson)
02/10 – São Januário – Vasco 2 x 2 Corinthians (Alex e Danilo)
09/10 – Pacaembu – Corinthians 3 x 0 Atlético-GO (Alex, Leandro Castán e Willian)
12/10 – Pacaembu – Corinthians 0 x 2 Botafogo
16/10 – Arena do Jacaré – Cruzeiro 0 x 1 Corinthians (Paulinho)
23/10 – Beira-Rio – Internacional 1 x 1 Corinthians (Alex)
30/10 – Pacaembu – Corinthians 2 x 1 Avaí (Emerson e Liedson)
06/11 – João Havelange – América-MG 2 x 1 Corinthians (Chicão)
13/11 – Pacaembu – Corinthians 2 x 1 Atlético-PR (Emerson e Paulinho)
16/11 – Presidente Vargas – Ceará 0 x 1 Corinthians (Cachito Ramírez)
20/11 – Pacaembu – Corinthians 2 x 1 Atlético-MG (Adriano e Liedson)
27/11 – Orlando Scarpelli – Figueirense 0 x 1 Corinthians (Liedson)
04/12 – Pacaembu – Corinthians 0 x 0 Palmeiras