O técnico brasileiro Marcos Paquetá, que comandou a seleção da Líbia na Copa Africana das Nações (CAN), declarou nesta segunda-feira numa entrevista à AFP que enfrentou condições muito difíceis para preparar sua equipe para a competição em razão da guerra civil que sacudiu o país no ano passado.
Apesar destes problemas, a Líbia teve uma despedida honrosa da CAN, ao somar quatro pontos no grupo A, após sua vitória por 2 a 1 contra o Senegal no último domingo.
_O que você achou do desempenho da sua equipe no torneio?
“O balanço final é bom, pela situação que enfrentamos, com pouca preparação e jogadores sem clubes. Foi um bom torneio para acumular experiência. Conquistamos bons resultados contra equipes como o Senegal, que tem todos seus jogadores atuando na Europa, ou Zâmbia, que também conta com muitos atletas jogando no exterior”.
_Você ficou surpreso com este desempenho?
“Eu tive uma conversa séria com os jogadores. Era preciso fazer os esforços necessários e jogar com vontade. A primeira meta era participar da competição, e ela foi alcançada. Também foi uma oportunidade para os jogadores que não têm clube mostrar o seu valor. Já recebi diversas solicitações, emails de amigos empresários que me pediram informações a respeito de alguns atletas.”
_Qual foi o momento mais marcante da sua experiência como treinador da seleção Líbia?
“O segundo jogo contra Moçambique (NDR: no dia 3 de setembro de 2011, vitória por 1 a 0 em Cairo, no Egito, com as novas cores do país após a queda do ex-ditador Muamar Kadhafi). A situação política tinha mudado, foi muito difícil para mim. Sempre disse que trabalhava apenas para a Federação Líbia, nunca quis me posicionar contra ou a favor de Kadhafi. Passamos por situações complicadas, por causa de questões políticas ou ideológicas. Tivemos problemas com alguns jogadores. Tive que convocar atletas que mal conhecia e tive que motivá-los para deixar sua família para disputar as partidas até nos momentos de maior tensão. Como se concentrar no futebol quando o país está em guerra?”
_Você teria condições de convocar novamente jogadores cortados por ter apoiado o regime de Kadhafi?
“A situação ainda está muito delicada, depende menos de mim do que das autoridades políticas atuais. Acredito que seja um pouco cedo para aceitar a volta deles. Vivi uma situação semelhante no Brasil, durante a transição entre a ditadura e a democracia. Numa democracia, é preciso aceitar as opiniões dos outros, aceitar que não somos donos da verdade. Como o tempo, as coisas devem voltar ao normal. Perdemos muitos bons jogadores, que não participaram da nossa campanha na CAN, mas não vamos crucificá-los.
_Você pretende continuar no cargo?
“Meu contrato vai até 2014. Os dirigentes da Federação mudaram, tive apenas dois contatos com eles. Acredito que eles estejam satisfeitos com o nosso desempenho no torneio. Para continuar, preciso avaliar quais serão as condições oferecidas pela Federação, principalmente no que diz respeito à segurança. Em relação ao calendário, nossa estreia pelas eliminatórias da Copa do Mundo do Brasil-2014 será no dia 8 de junho diante do Togo”.
_Onde você está indo agora?
“Tenho um vôo hoje (segunda-feira) para o Rio de Janeiro. As condições de segurança não estão reunidas para que eu volte para Tripoli agora. Não tenho mais casa lá, ela foi esvaziada e só consegui recuperar alguns objetos pessoais, fotos de família.”