Faltam competições de natação de alto nível no Brasil. Esse diagnóstico, um consenso entre praticantes e observadores da modalidade, é o maior incentivo a atletas que deixam o país em busca de treinamento no exterior. É o caso do bi-campeão mundial César Cielo, que venceu os 50m e 100m livres em Roma, há duas semanas: ele passa seis meses por ano treinando na Universidade de Auburn, no Alabama (EUA).
Enquanto no Brasil existem apenas três competições fortes por ano, nos EUA há pelo menos dois bons campeonatos por mês. “Isso possibilita ao Cielo, por exemplo, ficar em contato constante com gente de alto nível: ele treina com o maior rival, Frederick Bousquet, prata nos 50 metros livre”, explica Marcelo dos Santos, diretor de natação do Esporte Clube Pinheiros, de São Paulo, onde Cielo treina durante o semestre em que fica no Brasil.
Quatro brasileiros que integraram a seleção nacional treinam fora do país. Cielo e Nicolas Oliveira, nos EUA, Fabíola Molina, na Itália, e Henrique Barbosa, na França. Thiago Pereira, quarto colocado nos 200m medley do Mundial de Roma, desembarca neste mês na Califórnia.
Dividendos – De acordo com ex-nadador Gustavo Borges, ganhador de quatro medalhas olímpicas, o treino de natação no Brasil evoluiu bastante na última década. Clubes como o Pinheiros e o Minas Tênis Clube têm profissionais e tecnologias de ponta para oferecer aos nadadores. “Mas os melhores atletas do mundo estão nos EUA. E essa troca de experiência é importantíssima”, avalia. “Além disso, os nadadores que estão lá ficam longe da família e dos amigos e focados apenas no treino”. O ex-nadador treinou por cinco anos na Universidade de Michigan, onde também se formou em economia.
Fernando Vanzella, treinador do Minas Tênis Clube, ao qual Thiago Pereira é afiliado, aponta ainda outra vantagem no treinamento no exterior – particularmente nos EUA ou Europa: a proximidade dos centros onde as principais provas acontecem. “Em maio, nós fomos competir em Charlotte, na Carolina do Norte: só para chegar ao local da competição, levamos cerca de 24 horas”, conta Vanzella. “Gastamos outro dia inteiro somente para a recuperação dos atletas. Para um competidor de ponta, isso é um grande prejuízo”.
Como funciona? – Nadadores brasileiros que partem para os EUA podem frequentar universidades ou realizar unicamente treinamentos. Um ano de treino custa em média 35.000 dólares (cerca de 70.000 reais), pagos pelo atleta ou por patrocinadores. Um ano de treino e universidade sai mais caro: 100.000 reais. A opção, entretanto, abre oportunidades para bolsas de estudo, que incluem moradia e alimentação.
Dependendo do nível do atleta, o preço final sai mais barato. César Cielo, por exemplo, tem 100% de bolsa. “Mas esses pacotes são apenas para os tops de linha”, alerta Santos, do Pinheiros. Como seus resultados são excelentes, Cielo adquiriu ainda o direito de trancar a universidade para se focar mais nos treinos e competições.