O médico Jean-Pierre Paclet, que trabalhou de 1993 a 2008 na Federação Francesa de Futebol, lança nesta quinta-feira o livro L’Implosion (A Implosão), em que levanta suspeitas de que alguns jogadores da seleção campeã da Copa do Mundo de 1998 apresentavam análises de sangue irregulares. Em entrevista ao jornal Le Parisien, Paclet falou sobre o conteúdo do livro. “As análises de sangue revelaram anomalias em vários jogadores um pouco antes do Mundial de 1998. Poderíamos suspeitar já que sabíamos em quais clubes os atletas jogavam, especialmente os da Itália”.
Os meias Zidane e Deschamps, estrelas da seleção francesa que venceu o Brasil na final do Mundial, jogavam na Juventus na época. A equipe, por sinal, acabou envolvida num caso de doping por administrar remédios suspeitos aos seus jogadores no período de julho de 1994 a setembro de 1998. Zidane, Deschamps e outros jogadores, como os italianos Alessandro Del Piero e Roberto Baggio, prestaram depoimento sobre o caso. Eles negaram que tenham consumido substâncias ilegais. Ao final da investigação, o médico Riccardo Agricola foi condenado a quase dois anos de prisão.
Paclet, que foi o médico da seleção francesa no Mundial de 2006, disse ao jornal que não saberia o que fazer se estivesse no lugar do médico Jean-Marcel Ferret, responsável pela área em 1998. Houve “um caso de consciência”, disse. Ferret deu sua versão sobre o caso e garante que os exames não apresentaram resultados comprometores. “Não encontramos nada. Houve duas pequenas anomalias em relação à taxa de hemácias no sangue, mas vinculadas ao cansaço do campeonato. Tenho a consciência tranquila”, disse.
A suspeita era de que as análises poderiam ter detectado a substância EPO, o hormônio que controla a produção de hemácias e ajuda no rendimento aeróbico dos atletas. Na opinião de Placet, se os exames tivessem sido analisados, teriam sido encontradas provas de doping. Ex-jogador e atual treinador da seleção francesa, Laurent Blanc, criticou o conteúdo do livro. “A sombra do doping no time da França de 1998 é uma mentira. Não há o que falar sobre coisas que não existiram”, disse.
O livro também fala de outros episódios polêmicos da seleção, como o que de fato aconteceu nos bastidores da equipe na África do Sul, que resultou na péssima campanha da França. “Tudo o que conto é factual. Não apresento nenhum julgamento”, completou Paclet.