O experiente Sérgio Pacheco viveu situações inusitadas ao apitar alguns jogos da última edição do Novo Basquete Brasil (NBB) com o microfone de lapela. Além de tomar uma bronca da filha de cinco anos pelo vocabulário usado na semifinal entre Flamengo e São José, o juiz esqueceu que estava com o aparelho e foi ao banheiro com ele ligado no intervalo de um jogo.
‘Em certos momentos, você se envolve com a partida e larga a razão para atuar com a emoção. Isso é normal na arbitragem: você fala com o jogador de uma forma diferente, chama a jogada. Houve momentos em que optei pela emoção e esqueci do microfone. Quando cheguei em casa, minha filha reclamou: ‘pai, o senhor falou palavras feias na televisão’. Eu disse: ‘esqueci, filha’. Isso faz parte’, lembrou Pacheco, sorri
Apesar do nariz torcido de alguns técnicos e jogadores, a novidade propiciou ao público a chance de acompanhar algumas brincadeiras em quadra. Após explicar uma regra ao técnico José Alves Neto, então no Joinville, o árbitro Carlos Renato dos Santos, o Renatinho, com duas finais olímpicas no currículo, brincou: ‘depois, deposita na minha conta, porque aula particular é mais caro’.Em uma das partidas da semifinal entre Brasília e Pinheiros, Cristiano Maranho, selecionado para os Jogos Olímpicos de Londres-2012, travou uma discussão inusitada com Marquinhos e Alex. ‘Como vocês reclamam de tudo, podemos fazer uma partida sem arbitragem’, sugeriu o juiz, em diálogo transmitido ao vivo pela televisão.
Além de tomar uma bronca da pequena filha, Sérgio Pacheco foi repreendido por um membro da organização. ‘De vez em quando, no meio-tempo entramos no vestiário e você acaba esquecendo de desligar o microfone. Eu já fui ao banheiro fazer xixi com o microfone ligado. Aí, alguém te fala: ‘desliga o microfone!”, contou o jui
Com ampla experiência em diferentes torneios, incluindo Mundiais Adultos, o árbitro de 47 anos se diz completamente adaptado ao uso do microfone de lapela. Ainda assim, Pacheco admite que o equipamento influencia no comportamento de atletas e juízes durante as partidas.
WRIGHT USOU GRAVADOR EM 1982
A convite da Rede Globo, o ex-árbitro José Roberto Wright apitou a final da Taça Guanabara de 1982, vencida pelo Flamengo sobre o Vasco, com um gravador escondido no uniforme.
Como os jogadores e técnicos dos dois clubes desconheciam a iniciativa, a divulgação dos diálogos ríspidos entre o árbitro e os atletas durante a partida na televisão deixou-os enfurecidos.
Anos depois, Wright foi contratado para atuar como comentarista da Rede Globo, da qual se desligou no começo deste ano. A iniciativa de equipar os árbitros com microfones também já foi usada na Superliga de vôlei.
‘É uma faca de dois gumes. Você pode usar tanto a favor quanto contra você mesmo. Muitas vezes, o árbitro deixa de atuar com a emoção para manter um certo nível no palavreado. Para o jogador, é a mesma coisa. Quando ele vai reclamar de alguma coisa com o árbitro, vê o microfone e tem que se segurar. Ou seja, deixa de ser uma coisa natural’, analisou.
De acordo com Kouros Monadjemi, presidente da Liga Nacional de Basquete (LNB), organizadora do NBB em parceria com a Rede Globo, a ideia foi levar conhecimento técnico ao grande público com a explicação da sinalização feita pelos árbitros após cada marcação e, desta forma, tentar popularizar a modalidade, iniciativa encampada por Pacheco.
‘Didaticamente, para o público entender o que acontece e como é o basquete, isso é perfeito. No basquete moderno, acho uma coisa bacana. É algo novo para a televisão e a transmissão fica diferente, porque você consegue sentir e ver o que está acontecendo dentro da quadra’, declarou.