“O novo comprador de arte quer mostrar sua coleção”
Pernambucano Jaildo Marinho lança em São Paulo o livro que reúne imagens de 15 anos de trabalho. Depois de se firmar na Europa, ele quer conquistar o Brasil
“O perfil do colecionador hoje mudou muito. Não são mais aquelas famílias riquíssimas que compravam as obras e as escondiam em suas mansões para os pobres não verem. Tenho compradores cada vez mais jovens, de 30 a 40 anos, oriundos do mercado financeiro, que são ousados. O novo colecionador quer mostrar a arte que compra. Eles compram e emprestam suas aquisições para museus no Brasil e exterior. Ao mesmo tempo em que democratizam as suas coleções particulares, eles valorizam a obra que compraram”
Com uma lista de admiradores que vai da tradicional família francesa Courtin-Clarins aos endinheirados xeiques árabes do petróleo, passado pela cantora Madonna, o pernambucano Jaildo Marinho lançará, na noite desta quinta-feira, em São Paulo, o livro que reúne imagens de seus trabalhos. A obra traz textos do poeta Lêdo Ivo, do crítico de arte francês Jacques Leenhardt e do jornalista e escritor Mario Helio Gomes, acompanhando fotografias de esculturas e pinturas realizadas nos últimos 15 anos. O lançamento de Jaildo Marinho, em Paris, ocorreu no dia 7 de março, na Maison de L’Amérique Latine, por ocasião da inauguração da exposição individual, intitulada Le Vide Oblique (O Vazio Oblíquo), que fica em cartaz até 16 de junho.
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Morando em Paris desde 1993, Marinho hoje comercializa as suas obras por valores que chegam a um milhão de reais. “O perfil do colecionador hoje mudou muito. Não são mais aquelas famílias riquíssimas que compravam as obras e as escondiam em suas mansões para os pobres não verem. Tenho compradores cada vez mais jovens, de 30 a 40 anos, oriundos do mercado financeiro, que são ousados. O novo colecionador quer mostrar a arte que compra. Eles compram e emprestam suas aquisições para museus no Brasil e exterior. Ao mesmo tempo em que democratizam as suas coleções particulares, eles valorizam a obra que compraram”, explica Marinho admitindo que a estratégia dos clientes acaba o beneficiando indiretamente.
Nascido em Santa Maria da Boa Vista, na região do Rio São Francisco, ele começou a carreira como autodidata antes dos 10 anos de idade. Com 12 anos deu os primeiros passos em um projeto social que, durante o período de seca, capacitava trabalhadores rurais a manipularem pedras semi-preciosas para fazer artesanato. Anos mais tarde foi à capital Recife para estudar com o mestre João Batista Queiroz e, em seguida, emigrar para Paris.
Na capital mundial das artes, se inspirou em outros artistas sul-americanos já estabelecidos por lá para encurtar os caminhos para as principais galerias e museus franceses. “Como pernambucano sempre tive respeito e admiração pelo Cícero Dias. Procurei por ele quando cheguei a Paris e disse que vinha do sertão de Pernambuco também para tentar a sorte na França. Ele então me disse para eu não repetir para ninguém aquela história de sertanejo e apenas me identificar como artista. Então escreveu uma carta de recomendação para a Galeria de Arte Denise René e foi aí que tudo começou”, resume.
De lá para cá, o nome Jaildo Marinho se estabeleceu como a principal referência da escultura neoconcretista brasileira na Europa, tendo seu trabalho reconhecido por prêmios como o da Bienal de Malta, no ano 2000, e ao longo da última década exposições individuais na Alemanha, Bélgica, Espanha, Eslováquia, Hungria, Itália, Líbano e França.
O lançamento do livro Jaildo Marinho no estande da Livraria da Travessa, no 8º SP-Arte, realizado no Pavilhão da Bienal, em São Paulo, faz parte do esforço do artista para aproveitar o atual momento de efervescência das artes plásticas brasileiras para popularizar o seu trabalho no país onde nasceu. ‘Jaildo Marinho’, editado pela Pinakotheke, custa 98 reais, e tem 160 páginas escritas em três idiomas (português, francês e inglês).