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‘Não escrevo para fazer sucesso’, diz Augusto Cury

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 24 ago 2009, 19h18

O psiquiatra Augusto Cury diz que não escreve para fazer sucesso, mas pra seguir um princípio, o de “escrever sendo fiel à própria consciência”. “Quem não segue este pensamento contrai uma divida impagável consigo mesmo. Não quero passar mensagens edificantes para os leitores, mas desejo provocar a mente deles, estimulando-os a pensar criticamente sobre as teses que proponho.”

Cury se autodefine como um “estudioso da mente humana” e critica a imprensa brasileira, que, acredita, o lê de maneira preconceituosa. Aparece pouco na mídia e raramente dá entrevista. Confira abaixo, um desses raros momentos.

Qual o segredo para viver de literatura no Brasil?

Sempre vivi do exercício da psiquiatria e da psicoterapia. Somente depois de anos publicando livros, sobrevivo da literatura. Por onde ando, estimulo novos escritores a publicarem e procuro abrir espaço para eles nas editoras, mas viver de livros é muito difícil. O autor ganha no máximo 10% do preço de capa. Em certas regiões, às vezes recebe-se menos da metade desse porcentual, e em países como Japão ou Israel recebe-se menos ainda. Não há segredos ou regras para viver da literatura. Sigo alguns princípios, como jamais escrever para fazer sucesso; ser fiel à minha consciência; e superar o cárcere da rotina para abrir as janelas da mente e libertar a imaginação.

Quanto tempo em média o senhor gasta para escrever um livro?

Por causa da quantidade de material escrito e não publicado, tenho reorganizado as ideias e publicado livros em média a cada seis meses, mas não conseguirei manter esse ritmo, embora me encante escrever.

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O senhor tem ajuda ou escreve sozinho?

Não tenho uma equipe que me ajude. Ao contrário, tenho necessidade vital da solidão para me reencontrar e libertar meu imaginário. Um dos meus embates com meus queridos editores é o ciúme que tenho de meus textos. Embora aceite determinadas sugestões, ajo como um amante apaixonado, que não abre mão do estilo e do conteúdo. Costumo dizer que não sou um exímio autor, mas um grande obsessivo. Frequentemente reescrevo meus textos mais de dez vezes, procuro lapidar as ideias como um artesão das palavras. Meus editores ficam ansiosos quando me enviam a versão final corrigida gramaticalmente, porque sabem que farei grandes “cirurgias” nos textos. Meus livros são obras intermináveis.

Incomoda que suas ficções sejam chamadas de obras de autoajuda?

Categoricamente, sim. Meus livros, embora tratem de alguns temas universais, são de filosofia e psicologia aplicada e não de autoajuda, pois não oferecem respostas prontas nem soluções mágicas ao leitor. Se assim fossem, pesquisadores de diferentes países não os usariam em suas teses acadêmicas e cursos de pós-graduação. Sou publicado em mais de 50 países e a análise crítica que fazem das minhas obras é isenta de preconceito, diferente de determinados setores da mídia brasileira. O principal jornal da Coreia do Sul fez recentemente uma matéria com grande destaque sobre a psicologia e filosofia contida no livro O Vendedor de Sonhos.

Como o senhor define as ficções que escreve?

São romances psiquiátricos, psicológicos e filosóficos. Tratam de temas complexos como os transtornos psíquicos, o controle do psiquismo exercido pelo sistema social, a crise na formação de pensadores, os paradoxos de uma sociedade democraticamente livre, mas psiquicamente asfixiada, e a paranoia do consumo de produtos e não de ideias.

Qual a função da literatura?

A ficção me liberta, me faz transpirar, encontrar minhas incoerências e mazelas. Ela desengessa meu psiquismo e me torna um caminhante nas trajetórias do meu próprio ser. Desejo provocar a mente dos leitores. Por exemplo, há mais de 1,8 milhão de pessoas com anorexia nervosa no Brasil, “morrendo de fome” com alimentos sobre a mesa; os índices de suicídio estão aumentando, a cada minuto uma pessoa se suicida na Terra; a incidência de câncer é assustadora em relação às décadas passadas; a homofobia borbulha no tecido social. Como se calar diante disso? A literatura não deve ser focada no entretenimento dos leitores, ela tem de ter um sabor político-social-psicológico.

O senhor é o cabeça do Instituto da Inteligência. A que ele se propõe?

O instituto trabalha com conferências, cursos e projetos para inserir na grade curricular algumas funções intelectuais que consideramos importantes, como aprender a pensar antes de reagir, expor e não impor as ideias, trabalhar perdas e frustrações, proteger a emoção, desenvolver o altruísmo, tolerância, respeito pelas diferenças, arte da dúvida e consciência crítica.

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