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Londres redescobre Degas

Por Por Marie-Pierre FEREY
14 set 2011, 19h09

As bailarinas de Degas são tão familiares, que se crê saber tudo sobre elas, mas uma exposição, em Londres, as apresenta com um novo olhar, confrontando-as com a modernidade da época, a fotografia e o cinema.

“Degas and the Ballet: Picturing Movement”, na Royal Academy of Art, lembra a escolha feita pelo próprio Degas do balé como pretexto para captar o movimento”, explica o curador da mostra, Richard Kendall.

Degas permaneceu celibatário e morreu como um verdadeiro eremita em seu estúdio de Montmartre; não corria atrás das dançarinas para obter seus favores, como era comum na época.

É como artista, quase como um cientista, que as observava, dissecando-as, desenhando-as sob todos os ângulos, acabando por apreender o que o obcecava: o movimento.

O movimento é o Santo Graal da época. Até a fotografia exigia uma pose de, pelo menos, 15 minutos, os retratos eram congelados … ou vaporosos, nada mais .

Mas a inovação apareceu no final do século XIX, com o britânico Eadweard Muybridge decompondo o movimento de locomoção do cavalo. O francês Etienne-Jules Marey dissecou a marcha, a corrida humana, e o voo de uma gaivota.

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Degas conhecia os trabalhos deles. “Artista altamente experimental”, segundo Richard Kendall, ele conseguiu até projetar na parede a sombra de uma estátua de dançarina em rotação, parecendo criar o movimento.

Em 1895, comprou uma máquina fotográfica – ele teve pelo menos três, em vida, escrevendo aos amigos que estava muito excitado com a aquisição. Mas a fotografia ainda não permitia o movimento, seria preciso o aparecimento dos primeiros filmes dos irmãos Lumière para ver, enfim, uma imagem mexer-se.

Nesse meio tempo, com suas pinturas, crayons e pastéis, Degas perseguia o passo, o salto e o arabesco em inúmeros esboços.

Em seus desenhos, com rostos apenas delineados, os braços, pernas, as saias das bailarinas pareciam mexer-se literalmente no papel, mostrando progresso.

A exposição, fruto de quatro anos de pesquisas, é considerada única.

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No total, 85 telas, esculturas, desenhos e fotografias de Degas vindas do mundo inteiro serão mostradas de 17 de setembro a 11 de dezembro, comparadas com trabalhos de seus contemporâneos.

As últimas pinturas do mestre, do início do século XX, nas quais as bailarinas lânguidas, em auréolas de azul ou rosa massageiam os pés fatigados são, talvez, as mais emocionantes.

“Degas parece liberado de suas primeiras preocupações”, observa Richard Kendall. “As bailarinas parecem mais lentas, como o velho pintor, mas a tela, as cores, mostram-se cheias de energia, anunciando a modernidade do século seguinte, com o fovismo”.

Degas (1834-1917) viveu seus últimos anos solitário, aborrecido com todos os amigos, mesmo com o fiel Renoir. Recusou-se a ser filmado por Sacha Guitry, alguns anos antes de sua morte. Mas este último o captou contra sua vontade caminhando nos grandes bulevares, perdido em seus pensamentos: assim, o movimento finalmente apreendeu Degas.

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