Lilia Cabral estreia ‘Maria do Caritó’ em São Paulo
Atriz vive beata virgem em busca de um marido em espetáculo dirigido por João Fonseca
Cansada de penar com papéis dramáticos, Lilia Cabral recorreu a Newton Moreno por um texto mais colorido, mais solar. A atriz pediu ao autor pernambucano – que fez a elogiada peça As Centenárias para Marieta Severo e Andréa Beltrão – que lhe escrevesse uma comédia. Esse é o ensejo por trás de Maria do Caritó, que abre temporada no Teatro Faap (Rua Alagoas, 903, Higienópolis; tel.: 3662-7233. Ingressos de 30 a 80 reais), em São Paulo, nesta sexta-feira.
Na novela Viver a Vida, em 2009, Lilia era Tereza, mulher traída pelo marido e que padecia com o trágico acidente que deixou a filha tetraplégica. Antes, em A Favorita, de João Emanuel Carneiro, havia amargado dissabores como Catarina, dona de casa espancada pelo marido. “Eu estava mergulhada nisso por dois anos. Apanhava, era traída. Queria algo diferente. Mas não qualquer comédia”, diz a atriz. “Tenho um prazer enorme em ver que o público está se divertindo e logo depois está chorando.” Expediente que lembra sua atuação em O Divã, peça de sucesso que se tornou filme e seriado de TV.
Maria do Caritó garante a Lilia Cabral o chão propício para esse trânsito incessante entre farsa e emoção. Na produção, dirigida por João Fonseca, ela vive uma casta solteirona. Prometida pelo pai em casamento a um santo, a moça passa a ser cultuada pelos fiéis da cidadezinha onde vive. Acreditam que ela seja capaz de fazer milagres, curar doenças. Maria, contudo, gasta todo o seu tempo a cultuar outro santo – Santo Antônio – , na esperança de que ele lhe dê, enfim, um marido.
Deparamo-nos com uma virgem quase beatificada. Ingênua, crédula, incapaz de permitir que a sucessão de enganos abale a fé que devota ao amor. “O espetáculo tem essa capacidade de inspirar esperança. Se fala o tempo inteiro da fé, da pureza, do amor. A Maria do Caritó, apesar de tudo, nunca deixa de acreditar. Não desiste de encontrar alguém”, considera o diretor João Fonseca.
É a chegada do circo que virá transformar o destino da personagem e insuflar-lhe fôlego em sua peregrinação amorosa. O pai de Maria prometeu-lhe como noiva a um desconhecido santo, São Djalminha. Prestes a completar 50 anos, a heroína ainda não se conformou com a sina. Ao abrir sua lona na cidade, o circo oferece a ela a chance de apaixonar-se. De transformar-se em palhaça.
Não é sempre que Lilia Cabral pode ser vista nos palcos. Nos últimos dez anos, fez apenas duas peças: Unha e Carne (2003) e Divã (2005). Ambas com nítido pendor para o humor. “Muita gente acha que teatro é o lugar de mostrar quão sério você é e que se faz isso encenando um clássico. Não compartilho essa visão”, argumenta. Ainda que não seja prioridade, encarnar um personagem clássico permanece no horizonte. “Talvez seja meu próximo espetáculo. Estou empurrando. Tenho de sentir necessidade”, diz Lilia.
(Com Agência Estado)