Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Ivald Granato: sexo, arte e rock’n’roll

Uma alentada retrospectiva prova que o brasileiro foi não só uma figuraça carismática — mas, sobretudo, um artista essencial de sua geração

Por Marcelo Marthe Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 out 2019, 11h24 - Publicado em 4 out 2019, 06h00

No documentário Olé Olé Olé!, os Rolling Stones fazem um registro soltinho da turnê e das andanças da banda pela América Latina em 2016. Ao lado dos roqueiros ingleses, brilha um astro nacional: o artista plástico Ivald Granato. Amigo de longa data de Keith Richards e Ronnie Wood, Granato morreu alguns meses antes do lançamento, aos 66 anos — e ganha homenagem comovente. No meio do filme, surge com Wood no Beco do Batman, ponto turístico onde os grafites de rua são a atração principal, em São Paulo. Os dois também pintam no ateliê do artista. A nota surpreendente: “Ivald não fala nada de inglês, só ‘I love you’”, brinca o guitarrista dos Stones e dublê de pintor. Mas esse é o menor dos problemas: Granato interage com o gringo com a urgência encantadora de um xamã das artes. “Ali estavam um roqueiro que queria ser pintor e um pintor que queria ser roqueiro. Eles se entendiam”, diz a jornalista Alice Granato, filha do brasileiro.

A relação calorosa com os Stones, movida a arte e rock’n’roll, é um resumo da figuraça retratada na mostra My Name Is — IVALD GRANATO — Eu Sou, que entra em cartaz na sexta-­feira 11 no Sesc Belenzinho, em São Paulo. A primeira retrospectiva de Granato desde sua saída de cena — ele sofreu uma parada cardíaca enquanto dormia, em julho de 2016 — abarca todas as facetas do artista eclético e febril nascido em Campos dos Goytacazes, no interior fluminense, e que reinaria na louca cena artística paulistana dos anos 70 e 80. O acervo de 500 itens inclui cadernos, desenhos, memorabilia, vídeos e fotos das performances que o tornariam célebre — como A Safada de Copacabana, em que ele se vestia de mulher para distribuir dinheiro falso na praia carioca, e Mitos Vadios, quando se uniu a outros artistas para denunciar o marasmo da Bienal paulistana.

Granato é, merecidamente, saudado como uma personificação brasileira da performance, forma de expressão tão típica da contracultura. Mas a mostra amplia a visão sobre sua arte: do fim dos anos 60 aos meses antes de morrer, o que unifica sua produção é a pintura. Como se pode ver em quadros ao vivo e nas galerias virtuais em que o espectador mergulhará com óculos 3D, Granato passeou da arte pop à abstração com notável coerência. Qualquer tentativa de criar cordões de isolamento entre as mil e uma atividades do artista seria errônea. “Na performance ou na pintura, ele é uma coisa só: há influência pop, cores e formas vibrantes — e, principalmente, movimento”, diz o curador Daniel Rangel.

Movimento é o que não faltava em sua vida pessoal. Ser quase monoglota não impediu Granato de frequentar as festas mais quentes de seu tempo, inclusive no exterior — onde foi amigo de baladeiros como a princesa alemã Gloria von Thurn e Taxis. As duas casas­-ateliê que teve em São Paulo reuniam do tropicalista Gilberto Gil aos Titãs. E havia, claro, os Stones. Ele os conheceu nos anos 80 e ficou tão íntimo que passou um período na residência de Keith Richards em Nova York. Pintar e bordar era com ele mesmo.

Publicado em VEJA de 6 de outubro de 2019, edição nº 2655

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.