“Pé na estrada”, de Jack Kerouac, “Uivo”, de Allen Ginsberg e “Almoço Nu”, de William S. Burroughs, são as principais obras literárias da “geração beat”, um grupo de escritores iconoclastas americanos da década de 1950 que influenciou a contracultura e o movimento hippie mundial.
“Pé na estrada”, adaptado ao cinema pelo brasileiro Walter Salles e apresentado nesta quarta-feira em Cannes, é o romance desta geração que rejeitava os valores clássicos dos Estados Unidos, consumia drogas, amava o jazz, tinha grande liberdade sexual e estudava filosofia oriental.
O termo “beat” começou a ressoar de tal forma que em 1959 Kerouac tentou definir a palavra, relacionando-a com “beatitude” e “beatífico”. Todos os membros do grupo eram contemplativos, amavam a natureza, meditavam.
Apelidado de “King of the Beats”, Kerouac aparece em seu próprio romance sob o nome de Sal Paradise, um personagem um tanto de segundo plano, fascinado por Dean Moriarty, que na vida real era o ícone dos poetas da época, Neal Cassady.
Cassady era alguém com grande carisma, ávido por liberdade e apaixonado por mil mulheres. Kerouac percorre com ele os cantos mais longínquos dos Estados Unidos.
O escritor William S. Burroughs, chamado no livro de Kerouac de Old Bull Lee, era um guru que se dograva com heroína, anfetaminas, maconha e outras drogas. Era o maior de todos e o mais sombrio dos “beats”.
Sua obra, “Almoço Nu”, propõe uma metáfora da condição humana através da dependência em drogas.
Joan Vollmer, chamada de Jane no célebre romance de Kerouac, antes de se tornar a companheira de Burroughs, era um dos membros fundadores do círculo beat em sua fase nova-iorquina.
Joan Vollmer teve um fim trágico no México, onde Burroughs a matou por acidente ao praticar tiro ao alvo em uma maçã que ela tinha colocada sobre sua cabeça.
Outro membro célebre desse grupo de amigos escritores é o poeta Allen Ginsberg, que em “Pé na estrada” aparece sob o nome de Carlo Marx. Sua obra mais conhecida é “Uivo”.
“Um jovem de 21 anos me perguntou outro dia o que tinha acontecido com a geração ‘Beat’. Ele se vestia e penteava como queria, era contra a guerra no Iraque, se interessava pela ecologia e pelo budismo… Fiz a ele a mesma pergunta: onde está a geração ‘beat’? Está dentro dele… Não é fácil explicar isso às pessoas. Além disso, não é necessário”, afirma Salles no texto de apresentação de seu filme.