França se orgulha da consagração de ‘O Artista’ nos EUA
Vitória coroa bom ano do cinema francês, que em 2011 teve 215 milhões de ingressos vendidos, nove milhões a mais que no ano anterior
A França não esconde o orgulho com a festa de entrega do Oscar, que coroou com cinco estatuetas o filme O Artista. O prêmio marcou o auge de um ano excepcionalmente brilhante para o cinema francês, que sempre encontrou dificuldades para entrar nas salas de exibição dos Estados Unidos.
Do presidente francês Nicolas Sarkozy a premiados realizadores como Claude Lelouch, passando por promotores do cinema francês, os elogios ao realizador de O Artista, Michel Hazanavicius, e a seu ator principal, Jean Dujardin, foram unânimes. Sarkozy falou nesta segunda-feira do “sucesso formidável para o cinema francês, de qualidade”, em entrevista à rádio RTL. O presidente francês, que está em campanha por sua reeleição, lembrou que este é um filme mudo em preto e branco e afirmou desejar que “possa transmitir, também, nos espectadores, a vontade de rever Capra, Lubitsch, e o cinema italiano”.
“É uma grande, grande notícia para o cinema francês a vitória de O Artista. (…) Acho que ajudará a permitir que nossos filmes sejam distribuídos nos Estados Unidos”, congratulou-se Claude Lelouch, premiado por sua vez com um Oscar, em 1966 por seu filme Un Homme et une Femme (Um Homem, uma Mulher). “É provável que os americanos, que gostam tanto de prêmios, sintam, agora, mais curiosidade pelos filmes franceses”, disse Lelouch também à RTL.
O presidente do Centro Nacional do Cinema (CNC), Eric Garandeau, considerou que a cerimônia do Oscar consagrou, “ao final de um ano cinematográfico particularmente brilhante” para a França, “a eficácia do modelo francês de organização e de financiamento da sétima arte”. O filme é obra de uma “equipe transatlântica” que “reuniu o melhor da França e dos Estados Unidos”, ressaltou Garandeau, declarando que Michel Hazanavicius e o produtor Thomas Langmann “fizeram O Artista entrar na história do cinema, oferecendo uma “obra autêntica, universal e atemporal”.
O ano da França — Foi um ano magnífico para o cinema francês: 215 milhões de ingressos vendidos, nove milhões a mais que no ano anterior, segundo o CNC . Por exemplo, o filme Intouchables (Intocáveis, numa tradução livre), sobre a improvável amizade entre um tetraplégico rico (François Cluzet) e um jovem de origem africana (Omar Sy), vendeu 19 milhões de entradas desde sua estreia, em setembro passado.
Em meio ao atual clima de euforia, alguns, como Antoine de Clermont Tonnerre, presidente da Unifrance, organismo encarregado da promoção do cinema francês no exterior, advertem para os problemas de distribuição (exportação) que afetam seriamente a cinematografia francesa.
A consagração por Hollywood de O Artista representa um “acontecimento excepcional”, que ajudará provavelmente na “exportação do cinema francês”, destacou De Clermont Tonnerre. Segundo ele, “a estrutura das salas de cinema no mundo favorece os grandes complexos cinematográficos, principalmente os americanos. E isso torna difícil a exportação de nossos filmes de autor”.
O sucesso de O Artista não deve deixar que as coisas fiquem escondidas, advertiu, assinalando que os filmes de autor continuarão enfrentando dificuldades para serem vendidos no mundo. “A evolução da estrutura das salas de cinema não favorece o filme de autor. Ou seja, os problemas de fundo e a fragilidade da penetração (do cinema francês) no exterior” persistem, disse. “É um combate permanente”, destacou, saudando a audácia desse filme mudo, em preto e branco, na era da terceira dimensão.
Os cinco Oscar para O Artista devem-se, também, em grande parte, aos irmãos Weinstein, que distribuíram o filme nos Estados Unidos e lançaram uma campanha publicitária maciça em torno do longa-metragem.
(Com agência France-Presse)