Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Exposição apresenta obras de Man Ray, que deu status de arte à fotografia

O Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, recebe a primeira retrospectiva brasileira do trabalho do sedutor modernista americano

Por Marcelo Marthe Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 16 ago 2019, 15h10 - Publicado em 16 ago 2019, 06h45

No estúdio que manteve em Paris nos anos gloriosos da carreira, entre 1921 e 1940, o americano Man Ray promoveu inovações em várias frentes. Expoente de duas vanguardas ruidosas, o dadaísmo e o surrealismo, ele atacou de início como pintor e escultor. Logo se converteu em desbravador da fotografia de moda, produzindo ensaios até hoje influentes para as revistas Vogue e Harper’s Bazaar. Foi ainda na fotografia, afinal, que alcançou seu grande feito — nada menos do que elevar essa forma de expressão ao patamar de arte. Para Man Ray, a labuta no estúdio era, digamos, duplamente extenuante: ele gostava de trabalhar deitado na cama — sempre na companhia de belas mulheres.

Daí vem, naturalmente, a sensualidade radiante dos 225 itens de Man Ray em Paris, a primeira mostra devotada ao maior fotógrafo modernista realizada até hoje no país. Com abertura na quarta-feira 21, na filial paulistana do Centro Cultural Banco do Brasil (em dezembro, o acervo aporta em Belo Horizonte), a retrospectiva ilumina um artista que foi discreto perto de seus pares mais famosos nos mesmos movimentos — pois seria difícil competir em egolatria ou capacidade de chamar atenção com o francês Marcel Duchamp e o catalão Salvador Dalí. Mas, embora trabalhasse quieto, Man Ray era famoso em toda a Paris boêmia por sua facilidade em unir o útil ao agradável. Ele amava retratar o corpo feminino, decupado especialmente em nus radicais (não raro tão despudorados que fariam corar políticos com medo de Bruna Surfistinha). “Man Ray tinha a reputação de ser um dom-juan, um grande fornicateur”, diz a curadora francesa Emmanuelle de l’Ecotais. “Objeto de desejo e de fantasias, a mulher emerge em suas fotografias sempre num mundo estranho, desmaterializada”, divaga a especialista.

+ Blog da Isabela Boscov: 9 ótimas adaptações literárias disfarçadas

No mundo real, havia bastante matéria envolvida no negócio: as musas de Man Ray eram também suas amantes. As principais beldades foram Kiki (1922-1926), Lee Miller (1929-1932), Meret Oppenheim (1933-1934), Ady (1936-1940) e Juliet (a partir de 1941). Kiki foi a modelo da célebre e muito imitada Noire et Blanche (Negra e Branca), imagem surrealista que exibe o rosto da modelo em pose sonhadora (sonhos eram uma obsessão surrealista) ao lado de uma máscara africana. Quando Kiki o largou, Man Ray exprimiu sua ira em outro símbolo da fotografia: Lágrimas, em que os olhos de uma manequim surgem em close, com gotas de vidro simulando choro.

Continua após a publicidade
OLHAR FEMININO –  ’Noire et Blanche’ (no alto), ‘Lágrimas’ (acima) e ‘Mulher com Cabelos Longos’: das vanguardas à moda (Man Ray 2015 Trust/.)

Nem só de retratos femininos se fez a obra do dom-­juan modernista. Possivelmente, Man Ray foi o inventor da selfie: em imagens precursoras como o autorretrato acima, ele capta a si mesmo diante do espelho. Na entrada da mostra, os espectadores serão convidados a copiar sua pose. Ainda que abranja toda a sua trajetória, a exposição se detém principalmente nos anos em Paris até 1940, que foram os mais produtivos. Judeu, Man Ray teve de fugir da Europa na II Guerra, mas voltou mais adiante e viveu lá até a morte, em 1976, aos 86 anos. Nessa fase tardia, já era prisioneiro do sucesso. “Ele adotou o discurso provocativo de que a fotografia não era arte, enquanto ele era precisamente aquele que tornou a fotografia uma arte”, diz a curadora. Man Ray fez sua fama na cama — mas, ao posar para a posteridade, não se deitou nela.

Publicado em VEJA de 21 de agosto de 2019, edição nº 2648

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.