Em São Paulo, escolas dão toques finais nas alegorias para o Carnaval
A uma semana da maior festa nacional, os carnavalescos se movimentam nos barracões e finalizam os detalhes para fazer valer, em uma hora de desfile, o trabalho de um ano inteiro de preparação
Pedrarias brilhantes, tecidos coloridos e esculturas gigantescas. Nos barracões das escolas de samba de São Paulo, a movimentação dos carnavalescos é grande para que carros alegóricos, fantasias e coreografias estejam à beira da perfeição para o desfile, que ocorre entre os dias 28 de fevereiro e 1º de março, no Sambódromo do Anhembi. O desafio é fazer valer um ano inteiro de trabalho em apenas uma hora de desfile e se destacar entre 14 escolas do grupo especial. Para isso, os carnavalescos apostam não só no brilho das purpurinas como também em celebridades inusitadas, com o intuito de chamar a atenção do público fora do convencional.
Na capital paulista, por exemplo, a tradicional escola Vai-Vai trará para seu desfile atores renomados do cinema nacional, como Selton Mello e Wagner Moura. Ambiciosos, a expectativa ainda é conseguir colocar a atriz Fernanda Montenegro para sambar. Já a Rosas de Ouro vai apostar na nostalgia, com a participação de personagens de programas infantis como Balão Mágico, Carrossel e o icônico Fofão. Por outro lado, a escola Acadêmicos do Tatuapé preferiu focar no místico ao homenagear São Jorge, figura querida dos carnavalescos e de diversas religiões no Brasil. A uma semana do carnaval, a reportagem de VEJA foi até os galpões das três escolas paulistanas e registrou os bastidores da maior festa brasileira.
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Vai-Vai – Em uma salinha de paredes brancas, coloridas pelos desenhos das fantasias, o celular do carnavalesco Chico Spinosa não para de tocar. Acerta os últimos detalhes do desfile da Vai-Vai, escola que comanda há sete anos. Desde março do ano passado, ele trabalha no enredo sobre Paulínia, cidade a 120 km da capital paulista, em homenagem aos seus 50 anos de emancipação. Mas o município, que é distrito industrial e polo cultural ao mesmo tempo, tem muito mais história para contar. “Esses 50 anos são simbólicos. A história de Paulínia começa muito antes, com a construção da estrada de ferro”, conta Spinosa. O enredo passa por vários temas: a libertação do povo negro da escravidão, educação, esportes e cultura, a força da indústria e o cinema. “Queremos representar nossa busca pelo novo homem brasileiro. Um homem que se desenvolve economicamente, mas com educação e cultura”, explica o carnavalesco. No térreo, a cozinheira Joana Aparecida Barros, 59, comanda o fogão e a ala das baianas. Está na escola há 29 anos, mesmo tempo de divorciada. “Faz tempo que eu sou casada com a Vai-Vai”, brinca. Junto com Joana, vão desfilar outros 3 800 integrantes, divididos em 32 alas.
Destaques – O desfile começa com um carro alegórico de 70 metros de comprimento, com um trem em movimento, percorrendo os trilhos e passando sob uma cachoeira d’água. Outro detalhe que vai chamar atenção na avenida é uma marionete gigante, representando os imigrantes italianos. A escola também vai contar com vários convidados. No topo da alegoria A Vitória da Arte, quem marca presença é o maestro João Carlos Martins, acompanhado pela Orquestra Bachiana Jovem. Na ala das crianças, os convidados são os atores Selton Mello e Paulo José, do filme O Palhaço, gravado em Paulínia. Também marcam presença o grupo Pia Fraus e a Escola de Circo de São Paulo. Na ala O Homem do Futuro, que fecha o desfile, os holofotes ficam no ator convidado Wagner Moura. Para a última alegoria, chamada Paulínia, a Magia do Cinema, uma expectativa: “ninguém melhor que a atriz mais premiada do nosso cinema para estar no carro. Queremos que a Fernanda Montenegro esteja conosco”, adianta Spinosa.
Rosas de Ouro – Inesquecível é o tema do carnaval da escola Rosas de Ouro, que espera que o nome faça jus ao desfile. “Queremos reacender lembranças que estão presentes em cada um de nós”, conta o intérprete Darlan Alves, autor do enredo em parceria com o carnavalesco Jorge Freitas. O samba deste ano segue o ciclo da vida e faz uma mistura de referências bíblicas com as dificuldades e conquistas do cotidiano. Para isso, a composição vai narrar desde o nascimento do indivíduo, feito à imagem e semelhança de seu Criador, a infância, a adolescência e a maturidade até a velhice. “Vamos dar destaque a momentos como o primeiro beijo e o dia do casamento, que nunca esquecemos, assim como às brincadeiras de criança”, conta o intérprete. Na avenida, desfilam 3 000 pessoas em 22 alas. A bateria é um dos destaques, com 255 integrantes. “Com nosso som, vai parecer que temos o dobro de gente”, desafia o diretor da bateria, Edvaldo da Silva Neto. Nos seus 35 anos de escola de samba, ele inventou uma técnica para amplificar o som das caixas. “É um segredo que a gente não pode revelar”, diz. No peito, uma tatuagem deixa estampada sua maior paixão: Sociedade Rosas de Ouro.
Destaques – O desfile está repleto de personalidades inesquecíveis. Na alegoria da infância, vão estar presentes representantes do Balão Mágico, Carrossel, Fofão e Sítio do Pica-Pau Amarelo. Outras celebridades que vão participar do desfile são: Zé do Caixão, Ronnie Von, Sérgio Reis, Roberto Justus e Cozete Gomes. Atletas inesquecíveis também serão lembrados, como Ademir da Guia, Marcelinho Carioca, Daiane dos Santos e Oscar Schmidt.
Acadêmicos do Tatuapé – Este ano, São Jorge será a principal estrela da escola Acadêmicos do Tatuapé. O enredo reconstrói a história do santo desde o século 11, quando foi padre e soldado romano, até hoje, adorado por católicos de todo o Brasil. “São Jorge morreu decapitado em Roma por defender os ideais cristãos. Essa bravura em defesa da religião fez com que ele fosse reverenciado em todo o mundo”, conta Xuxa, carnavalesco da escola. O desfile percorre a vida do Jorge guerreiro, a chegada da imagem do santo ao Brasil, trazida por D. João VI, a representação de São Jorge na figura de Ogum, as homenagens no campo das artes e a devoção brasileira, em uma grande procissão de encerramento. Para montar o espetáculo, a equipe de artistas conta com 20 profissionais da cidade de Parintins, no Amazonas. O festival dos bois Caprichoso e Garantido exporta escultores, pintores e ferreiros para os carnavais de São Paulo e do Rio. “Somos convidados por que o forte do nosso festival é a articulação e a expressão dos bonecos, trabalhamos com isso desde crianças”, justifica Aguinaldo Sousa, artista amazonense que mora num alojamento dentro do barracão de setembro a março, quando tem emprego na escola de samba. Depois do desfile, volta para Parintins para construir os bois que desfilam em junho.
Destaques – Uma das maiores ousadias do carnavalesco foi talhar um São Jorge (o que vem trazido nas caravelas) em madeira de Pau Brasil. O louvado na procissão é igualmente especial, com oito metros de altura. Também haverá uma imensa cavalaria representando a vocação para a cavalgada do santo e uma alegoria totalmente dedicada aos orixás. E fica um gostinho de surpresa: atenção ao dragão que entra em combate com São Jorge no carro abre-alas.