Uma multidão de portugueses e admiradores da obra de José Saramago acompanhou na manhã deste domingo a cerimônia de cremação do corpo do escritor, morto na última sexta-feira, 18. Intelectuais, políticos e familiares participaram da homenagem no cemitério Alto de São João, em Lisboa. Além dos aplausos contínuos, o público de mais de 20.000 pessoas, segundo a polícia portuguesa, levantou livros de Saramago, gritou frases de agradecimento e também jogou cravos vermelhos sobre o caixão de Saramago. A flor representou a luta dos portugueses pela volta à democracia, durante a Revolução dos Cravos, 1974.
Durante a cerimônia, a mulher de Saramago, a jornalista Pilar del Río, afirmou que tinha morrido “um homem bom, uma excelente pessoa e um escritor magnífico”. Ela também acrescentou que, apesar do vazio que o escritor deixou, só devem chorar “aqueles que não o conheceram”. Pilar afirmou ainda ter decidido que as cinzas do vencedor do prêmio Nobel de Literatura ficarão em Lisboa, desmentindo as informações anteriores de que elas seriam divididas entre Portugal e Espanha.
Mais cedo, intelectuais e políticos de Portugal e Espanha despediram-se de Saramago, no salão de honra da prefeitura da capital lusa. Carregada de emoção e evocações ao Nobel, a cerimônia ressaltou a riqueza literária e humana do escritor. “Obrigado, José Saramago”, disse o prefeito de Lisboa, Antonio Costa. Pilar del Río assistiu ao ato junto com a filha Violante e dois netos.
Polêmica – A ausência do presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, ao velório de Saramago provocou questionamentos e incômodo no país. Cavaco não interrompeu as férias em Açores para homenagear o maior autor português da modernidade e o desconforto foi ainda maior porque a primeira vice-presidente do governo espanhol, Maria Teresa de la Vega, representou a Espanha entre as autoridades presentes e discursou a favor do escritor.
O episódio gerou a revolta de fãs do escritor que, durante a cerimônia de despedida neste domingo, diziam que o próprio Saramago não ia querer a presença do presidente. Quando era primeiro-ministro, em 1993, Aníbal Cavaco Silva vetou a candidatura do livro de Saramago “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” para o Prêmio Europeu de Literatura. Na época, o escritor abandonou o país e mudou-se para as Ilhas Canárias, na Espanha, onde ficou até a morte.
Nos Açores, o presidente Cavaco Silva minimizou a “polêmica estéril” sobre sua ausência, recordando que já havia prestado uma homenagem à obra de José Saramago, mas que nunca teve o privilégio de conhecê-lo pessoalmente.