Chegada de ‘Billy Elliot’ reacende tema do machismo no balé
A já clássica trama do menino que enfrenta preconceito para dançar, encenada pela primeira vez no Brasil a partir deste fim de semana, se repete na vida real
Um menino sonha em ser bailarino, mas antes tem de superar obstáculos em casa e na sociedade. Essa é a trama do belo e premiado musical Billy Elliot, adaptação do filme homônimo, que estreia neste fim de semana em São Paulo. Mais do que o enredo da peça, esta ainda é a realidade vivida por muitos jovens dançarinos.
Basta olhar para as escolas de dança e ver as salas de aula repletas de garotas. O machismo e o desconhecimento que as famílias têm do balé continuam afastando muitos meninos da sapatilha. Um sintoma desse quadro é o número de participantes do sexo masculino inscritos este ano no Festival de Dança de Joinville, a maior competição da modalidade no mundo: 2.104, menos da metade das participantes do sexo feminino – 4.461.
Uma das primeiras escolas do país a receber uma “invasão de rapazes” foi o Estúdio de Ballet Cisne Negro, há trinta e seis anos. “No final dos anos 1970, chegaram muitos estudantes de Educação Física da USP querendo dançar. Foi com esse grupo, somado a bailarinas que já frequentavam a escola, que eu criei a Cisne Negro Companhia de Dança, que hoje conta com número igual de homens e mulheres: sete”, diz Hulda Bittencourt, fundadora da escola.
A composição atual da companhia inclui o paulista Felipe Silva, 24 anos, que começou a dançar na ONG Meninos do Morumbi e entrou na escola Cisne Negro depois de uma concorrida audição para uma bolsa de estudos. “Aprendi a dançar dentro de casa, cresci vendo meus parentes nas festas feitas no quintal. Mas ninguém trabalhava com arte na minha família, meus pais são funcionários públicos e achavam que o balé não daria futuro. Só depois, quando eu comecei a dançar profissionalmente na companhia, eles passaram a respeitar e aceitar o balé”, conta o dançarino.
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Hoje, Felipe diz viver da dança. Ele diz não sofrer preconceito, mas reconhece que é exceção. “Os garotos ainda sofrem muito, temos que usar roupa colada e a maioria das pessoas é machista em relação à dança. A mãe acaba levando a menina para o balé porque é algo delicado e o filho vai para o futebol, porque o pai gosta do esporte, faz parte da nossa cultura.”
A primeira professora de Felipe, Jeni Horta, do Estúdio de Ballet Cisne Negro, diz que a procura dos garotos pelo balé começa a partir dos 7 anos de idade. “Os pais trazem os seus filhos ainda cedo, mas no início da adolescência muitos deixam a prática de lado pelo bullying que enfrentam no colégio, e voltam a nos procurar aos 17 anos, mais ou menos, quando já reconhecem a sua paixão pela dança.”
O musical – A já clássica história de superação do aspirante a bailarino Billy Elliot se passa em 1984, durante a crise dos mineiros na Grã-Bretanha. O musical, que terá uma curta temporada de três semanas em São Paulo, é o mesmo que estreou em 2005 em Londres, onde ainda segue em cartaz, e em 2008 ganhou uma réplica na Broadway que lhe rendeu dez Tony – o Oscar do teatro americano – no ano seguinte.
Com músicas de Elton John, livro e letra de Lee Hall, direção de Stephen Daldry e coreografia de Peter Darling, a apresentação no Brasil contará com o mesmo elenco da peça original e terá apoio de legendas, em um telão. Três adolescentes se revezam no papel de protagonista: Drew Minard, Tobin Mitchell e Ty Forhan.
Billy Elliot, O Musical
Credicard Hall. Av. das Nações Unidas, 17.955
De 2 a 18/8 – 3ª a 6ª, 21h; sáb., 16h e 21h; dom., 15h e 20h. R$ 50/ R$ 280