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‘Carne Osso’ expõe as condições precárias de trabalho em abatedouros e frigoríficos do Brasil

Cerca de 750.000 trabalhadores do setor estão expostos a riscos físicos e psicológicos três vezes maiores que a média de outras categorias de trabalho

Por Rodrigo Levino
5 abr 2011, 09h56

As condições precárias alimentam uma cadeia de prejuízos para o trabalhador, o estado e o contribuinte.

Documentário é um gênero rico, entre outras coisas, pela liberdade temática, a possibilidade de abordar um assunto sem a obrigação de encaixá-lo na expectativa do grande público, como ocorre na indústria do cinema. Isso pode não o tornar mais nobre, mas o aproxima algumas vezes da utilidade pública e o faz relevante.

Um exemplo desse viés é Carne Osso, dirigido por Caio Cavechini e Caio Juliano Barros, um dos destaques do 16º Festival É Tudo Verdade. O filme destrincha as condições de trabalho em alguns abatedouros e frigoríficos brasileiros, um tema pouco explorado e de raro interesse.

Em 2010, o Brasil se manteve líder de exportação de carne bovina no mundo com 1,7 milhão de toneladas vendido para mais de cinquenta países. O lucro obtido na venda de aves e carne suína para a Europa e os Estados Unidos está na casa dos seis dígitos. Em resumo, é uma das principais forças da economia nacional e vedete da balança comercial junto com as commodities agrícolas. As boas condições do mercado, no entanto, nem sempre se equiparam às de trabalho nos abatedouros.

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Segundo dados da Previdência Social apresentados por Carne Osso, cerca de 750.000 pessoas trabalham no setor expostas a riscos três vezes maiores que a média registrada em outras categorias. O alto índice está no manuseio de objetos perfuro-cortantes, nas lesões corporais por esforço repetitivo e nos danos psicológicos.

Para efeito de comparação, a medicina do trabalho considera 35 movimentos com a mão o número limite que um trabalhador pode desempenhar por minuto na sua atividade. Em um frigorífico de médio porte, a média é de 80 movimentos por minuto para a desossa de uma sobrecoxa de frango. O trabalho funciona como uma poupança de danos futuros.

As condições precárias alimentam uma cadeia de prejuízos para o trabalhador, o estado e o contribuinte. A demanda permanentemente ajustada para cima para atender aos compradores exige do trabalhador esforços que podem causar danos físicos e psicológicos a longo prazo. Inválido ou com a saúde precária, resta o desemprego ou o seguro-saúde, aumentando ainda mais o rombo da previdência no Brasil.

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Para as empresas, pagar as multas aplicadas pelos fiscais do Ministério do Trabalho é menos oneroso do que readequar as estruturas dos frigoríficos. Em alguns casos, se paga em dia, a sanção tem abatimento de 50% do valor original. O panorama apresentado pelo documentário, que escapa de se prestar ao lobby vegetariano, é preocupante e comovente.

Cavechini e Juliano falham, no entanto, por inexperiência e excesso de partidarismo. A escolha – e repetição – de algumas imagens, o recorte limitado das realidades expostas, concentrado no Rio Grande do Sul e no Mato Grosso do Sul, e a não identificação das empresas devassadas comprometem o resultado do filme. Não menos do que a falta de contraditório, de justificativa dos frigoríficos ou enfrentamento com os dados e os depoimentos colhidos que certamente fortaleceriam a tese da dupla. Ainda assim, o filme cumpre um bom papel ao despertar uma discussão oportuna.

Assista ao trailer no vídeo abaixo:

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