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Carlinhos de Jesus revela segredos da comissão de frente da Beija-Flor, na homenagem ao cantor Roberto Carlos

Ala contará a história de um menino que descobre um rádio entre os brinquedos

Por Rafael Lemos
27 fev 2011, 13h39

“Juntaremos dois quesitos num só para o carnaval desse ano. Haverá uma interação com o mestre-sala e porta-bandeira. A comissão terá 15 pessoas: 13 e mais o casal”

Expoente da dança de salão no Brasil, o dançarino Carlinhos de Jesus também virou sinônimo de comissão de frente graças aos 11 anos que passou na Estação Primeira de Mangueira. A paixão pela folia nasceu aos 8 anos, quando desfilou pela primeira vez na escola de samba Em Cima da Hora. Hoje, aos 58 anos, o coreógrafo completa meio século de Carnaval e se prepara para estrear na Beija-Flor de Nilópolis, que vai homenagear o cantor e compositor Roberto Carlos com o enredo A Simplicidade de um Rei.

Suas comissões de frente têm apenas um alvo: o jurado. Obter nota máxima em todas as cabines é uma obstinação. Carlinhos não se considera autoritário nem centralizador, mas faz questão de conhecer detalhadamente todas as etapas do desfile – embora responda apenas pela comissão de frente. “Não me vejo fazendo uma coisa sem que eu esteja literalmente envolvido nela. Quero estar envolvido no começo, no meio e no fim. Estudo todo o enredo, sei o que vem em cada carro. Preciso disso para incorporar o espírito. É um mergulho profundo”, argumenta.

Apesar de veterano, Carlinhos de Jesus confessa que ainda se sente inseguro antes de entrar na Marquês de Sapucaí: “Ainda fico com vontade de ir ao banheiro na hora de começar o desfile”. E é essa insegurança que não o deixa se acomodar. Na pesquisa para a comissão da Beija-Flor, ele passou 30 dias na China, estudando a tecnologia de LEDs. “É incrível. Lá, todos os prédios usam muito LED. A cidade é muito iluminada. Falam de Paris, mas acho que Xangai é a verdadeira cidade-luz.”

No fim das contas, descobriu que dessa vez sua imaginação voou alto demais até mesmo para os milionários orçamentos das grandes escolas de samba do Rio de Janeiro. O jeito foi partir em busca de outra solução – sempre criativa, claro. O resultado, ele conta nessa entrevista ao site de VEJA.

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Como será a apresentação da comissão de frente da Beija-Flor? Será a história de um menino que mexe na sua caixa de brinquedos e descobre um rádio. Esse rádio emite notas musicais, que o levam a uma viagem e o conduzem a sua inspiração. O menino se encanta com aquilo e liga o rádio. As notas começam a pular. Você não vai ouvir, mas sim ver as notas enquanto elas evoluem, como num balé, com sedas chinesas. Então, o rádio emudece e a criança fica triste. Esse rádio se abre, o menino entra e sai dele, e olha pro céu. Vem uma benção do céus, das Marias. Ele se benze e o rádio volta funcionar. Aí, aparecem a namoradinha de um amigo dele, meninas que ele beijava no cinema, a Lady (Laura), a mulher de 40, a gordinha, a amada amante… Enfim, todas as grandes mulheres que o ensinaram.

Como foi a escolha do menino que interpretará o Roberto Carlos? Primeiro, pensei numa grande seleção. Mas depois comecei a observar as crianças que me cercavam, como alunos e filhos de bailarinos. Acabei escolhendo o filho do meu assistente artístico. É o Thaian Marques, de 11 anos. Ele ganhou a Dança dos Famosinhos, no Domingão do Faustão. Eu era jurado. Fiz um laboratório com ele, contei a historinha e fomos desenvolvendo. Ele é muito talentoso.

Veremos algo revolucionário na comissão da Beija-Flor esse ano? Juntaremos dois quesitos num só para o Carnaval desse ano. Haverá uma interação com o mestre-sala e a porta-bandeira. A comissão terá 15 pessoas: 13 e mais o casal de mestre-sala e porta-bandeira. Também teremos ilusionismo. Para isso, chamei o Issao Imamura, que me fez levitar na Avenida em 2003. Mas é surpresa. A única coisa simples será o figurino. A gente fala da simplicidade do Roberto Carlos, da infância dele, daquilo que o tornou um rei. Não posso trazer luxo ali na frente.

No ano passado, uma comissão de frente foi a grande sensação do Carnaval carioca: a da campeã Unidos da Tijuca, que usou elementos de mágica. O que você achou? Achei incrível. As comissões são um espetáculo à parte. Não que elas tenham que se desligar do restante da escola, mas o público espera ver um grande show. Nesse caso, a Tijuca já trouxe um trabalho pronto. Não foi tanto um trabalho de criação, porque era algo que já existia. Mas teve o mérito do ensaio duro, do empenho dos bailarinos. Foi uma ideia maravilhosa do Paulo Barros levar aquilo para a Avenida.

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É a sua estreia na Beija-Flor. É uma questão de honra fazer algo impactante? Olha, não faço comissão nem nenhum outro trabalho pensando no que já fiz. A minha preocupação é algo muito mais importante, o jurado. Tenho que agradar o jurado. Tenho que atender ao quesito. Para estar envolvido com tudo isso, nunca penso nos outros trabalhos. Eu me desligo. É instintivo. Tenho 58 anos. Desfilei pela primeira vez aos 8 anos, na Em Cima da Hora. Portanto, este ano completo 50 anos de Carnaval. Mas é como se esse fosse o meu primeiro ano. Fico nervoso, preocupado, pensativo. As pessoas tentam me acalmar, mas sou assim: se você me der uma missão, pode deixar que eu faço. Eu me empenho naquilo. Não consigo me acomodar. É sempre como se fosse a primeira vez. Não tem essa de tranquilidade. Ainda fico com vontade de ir no banheiro na hora de começar o desfile.

Qual a sua comissão inesquecível? Eu apontaria a comissão de 1999: Os Bambas no Samba. Foi quando ressuscitei na Avenida os personagens da música popular brasileira, como Nelson Cavaquinho, Cartola, Noel Rosa, Pixinguinha, Donga, Natal da Portela. Para as máscaras, usei o mesmo material das usadas nos filmes Uma Babá Quase Perfeita e O Professor Aloprado. É uma mousse de chocolate vinda dos Estados Unidos, uma película muito fina. Esse ano também foi mágico porque aconteceram coisas meio místicas nos bastidores.

Pode dar um exemplo? Aconteceram coisas ligadas a esses personagens, por exemplo. Meio espiritualistas mesmo. Nos ensaios, se repetiam coisas que na verdade eram características daquelas pessoas. Ismael Silva nunca chegou no horário dos desfiles, na vida real. Quando ele chegava, a escola sempre já estava na Avenida. Naquele ano, comecei a concentrar os bailarinos às 8 horas. O desfile seria às 3 horas do dia seguinte. Portanto, tínhamos 18 horas para não haver imprevistos. O maquiador começou a maquiá-los. Ismael foi um dos primeiros. Momentos antes do desfile, justamente a máscara dele, que era uma das mais fáceis, se soltou. O maquiador consertou, mas o bailarino chegou atrasado, com a escola desfilando, exatamente como o Ismael da vida real. Foi muito engraçado.

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