‘Arkangel’, as neuras maternas no limite da obsessão
Episódio dirigido por Jodie Foster na série ‘Black Mirror’ explora a tecnologia em prol da superproteção parental
A simbiose entre mãe e filha é elevada a um novo patamar no episódio Arkangel, segundo da quarta temporada de Black Mirror. Para pais preocupados, uma empresa oferece um sistema que é inserido no cérebro da criança. A partir dali, é possível, em um tablet, observar os sinais vitais e a localização do filho, aplicar filtros de desfoque de visão em momentos estressantes do pequeno e literalmente enxergar pelos olhos do jovem. O total controle tranquiliza inicialmente, mas, claro, aterroriza pouco tempo depois.
A protagonista, Marie, vivida por Rosemarie DeWitt (de La La Land), é uma mãe solteira atormentada pelo medo de perder a filha, Sara (Brenna Harding, na adolescência). Ela submete a criança, aos 3 anos de idade, ao sistema. Na época, o dispositivo é tratado como uma babá eletrônica de luxo. Mais tarde, próxima dos 10 anos, a garota ainda não sabe como é uma gota de sangue ou uma cena de sexo – graças ao filtro aplicado pela mãe. A distância dos momentos considerados estressantes influencia no desenvolvimento da menina. Ela passa a apresentar comportamentos agressivos e de automutilação em resposta a falta de maturidade que seria adquirida pelas experiências que lhe foram privadas. A mãe então desiste do dispositivo — até Sara chegar à adolescência.
Arkangel é um dos episódios mais humanos de Black Mirror. O elemento tecnológico poderia ser facilmente substituído por outro ponto de convergência que os altos e baixos da relação entre mãe e filha seriam mantidos. A trama ganha com a boa direção de Jodie Foster e afinada atuação da dupla de protagonistas. Rosemarie e Brenna encontraram um bom ponto de ebulição para expor, entre sutilezas e exageros, a relação familiar, cumprindo a missão da série de refletir a sociedade e seus anseios.
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