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Após longa espera, Walter Salles leva ‘Na Estrada’ a Cannes

Por Valery Hache
23 Maio 2012, 10h08

O livro cult de Jack Kerouac “On the road” (Pé na Estrada), um hino à liberdade da juventude regado a sexo e drogas, entrou na disputa pela Palma de Ouro do Festival de Cannes nesta quarta-feira pelas mãos do diretor brasileiro Walter Salles, em um filme considerado por suas estrelas um tributo às revoluções de hoje.

O longa-metragem “Na Estrada”, que relata uma viagem pelos Estados Unidos no fim dos anos 1940, repleta de álcool, drogas, sexo, amizade, “fala da perda da inocência”, segundo o cineasta.

Em um dos filmes mais aguardados do festival, o cineasta brasileiro mantém a fidelidade ao espírito exuberante da bíblia da geração beat, com um retrato vigoroso da América pós-guerra.

O filme, estrelado por Sam Riley, Garrett Hedlund, Kristen Stewart, Kirsten Dunst e Viggo Mortensen, com participação da brasileira Alice Braga, teve uma recepção contida na exibição para os críticos, antes da exibição de gala, com direito a tapete vermelho, no fim do dia.

Com uma produção impecável e ótimas interpretações, “Na Estrada” retrata personagens lendários, como Sal Paradise (Sam Riley), alter ego de Kerouac.

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Salles, diretor de “Central do Brasil” (1998) e que já levou a Cannes “Diários de Motocicleta” (2004) e “Linha de Passe” (2008), mostra os personagens em meio a bebidas, drogas e mulheres, enquanto viajam pelos Estados Unidos, com uma parada no México.

“É uma história sobre uma amizade quebrada (a de Kerouac e Neal Cassady), mas é também o relato do processo de escrever um livro sobre estes personagens”, explicou o cineasta.

Garret Hedlun interpreta Dean Moriarty, inspirado no escritor Neal Cassady; Kristen Stewart interpreta Luanne (Marylou), a primeira esposa de Cassady, e Kirsten Dunst é Carolyn Cassady, a segunda esposa deste.

“Eu já fiz alguns road movies e percebi, ao fazê-los, que quanto mais você se distancia de suas raízes, do ponto inicial, mais você ganha perspectiva sobre quem você é, de onde você veio e, eventualmente, quem você quer ser”, declarou Salles.

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“Mas você também deixa parte de você para trás”, explicou.

O diretor de 56 anos disse que ficou impactado com a mensagem de Kerouac em um país profundamente conservador enquanto crescia no Brasil. Ele descobriu o livro aos 17 anos, na época da ditadura militar.

Walter Salles, que fez um longo processo de pesquisa, viajando pelos Estados Unidos e entrevistando dezenas de pessoas, antes de iniciar as filmagens, destacou que foi fiel ao livro, mas recordou que o longa-metragem é uma adaptação.

“Queria sobretudo dar uma profundidade tridimensional aos personagens”, declarou o diretor, que começou a pensar na adaptação há oito anos.

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“O que nós estamos retratando no filme tem uma correlação com ‘Diários de Motocicleta’, que é sobre o início de um despertar social e político”, disse.

Kerouac, que se batizou de Sal Paradise no romance autobiográfico sobre seus anos errantes no fim dos anos 1940 e início da década seguinte, fica magnetizado por um mulherengo carismático chamado Dean Moriarty, que vive apenas para o presente.

Sal pega a estrada com o amigo e, durante os passeios dionisíacos, lê Joyce, Celine e Proust. Ele começa a perceber como a literatura pode nascer da experiência de vida.

Mortensen, que também disse ter sido inspirado pelo livro durante a juventude, interpreta Old Bull Lee – um equivalente ao guru junkie Williams S. Burroughs.

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O ator de 53 anos afirmou que o filme tentou capturar o sentido revolucionário do livro, enquanto jogava os temas adiante para o mundo do século XXI.

“Ler o livro de novo, que foi a primeira coisa que eu fiz, me fez perceber o quanto é pertinente hoje – movimentos de protesto, movimentos de massa com jovens na Europa, na América do Norte, na China, no Oriente Médio. Tudo isto carrega o espírito daquela época”, disse Mortensen.

Para ele, a longa gestação do filme – o cineasta e produtor Francis Ford Coppola comprou os direitos do livro na década de 1970 e viu diversas tentativas frustradas de levar a obra aos cinemas – pode ter sido, de fato, uma questão de sorte. Roman Coppola, um dos filhos do diretor de “O Poderoso Chefão”, também é produtor do filme e estava presente na entrevista coletiva.

“Agora provavelmente é um grande momento para este filme ser lançado, porque eu acredito que as pessoas que assistirão, não apenas as pessoas mais velhas, pessoas da minha geração, pessoas que vivenciaram isto… mas os jovens descobrirão o livro e se identificarão com ele, eu penso, de uma maneira muito forte”, afirmou Viggo Mortensen.

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Kristen Stewart, de 22 anos, disse que abraçou a chance de deixar de lado a virginal Bella, personagem da saga “Crepúsculo”, para interpretar a sexualmente desinibia Marylou, a primeira esposa de Moriarty que vira sua amante após o divórcio.

A jovem estrela afirmou que as cenas de nudez e sexo representaram uma oportunidade de testar uma nova imagem com uma personagem convincente.

“Eu amo arriscar, eu amo me assustar. Eu penso que assistir a uma experiência genuína na tela é muito mais interessante”, disse.

“O motivo pelo qual eu quis este papel, sabe, você lê algo, você é provocada em algum nível e então deve levar isto além, ser capaz de viver isto. E eu sempre quero chegar o mais perto possível da experiência”.

“Desde que você seja sempre honesta, não há nada para se envergonhar”, completou.

Com apenas 29 anos, Kerouac escreveu o livro em três semanas em abril de 1951, datilografando de maneira contínua em 36 metros de papel, que ele mesmo cortou e grampeou juntos.

Inspirado por uma carta confusa de seu amigo e companheiro de viagem Neal Cassady – que virou Dean no livro – Kerouac decidiu contar a história de seus anos na estrada de uma forma que refletisse a fluidez do improviso do jazz.

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